:: ago/2024
PSIQUIATRIA: A CURA PELO CANDOMBLÉ (Final)
A posologia do espírito
(Chico Ribeiro Neto)
Para o médium espírita Divaldo Franco, “é essencial estabelecer uma diferença entre enfermidades e obsessões”. Já o psiquiatra e professor Álvaro Rubim de Pinho observa que “na concepção do candomblé, a doença é considerada sobretudo como uma manifestação de infelicidade”. Publico hoje a terceira e última parte da matéria “Psiquiatria: a cura pelo candomblé”, que fiz para a revista “Manchete”, publicada no número 1.250, em 7 de março de 1976. Antigas matérias que continuam atuais.
Segue o texto:“O médium espírita Divaldo Franco, conhecido no Brasil e no exterior, diz que atende a cerca de 15 casos de doenças mentais por semana, no Centro Espírita Caminho da Redenção, situado no bairro da Calçada, em Salvador. Divaldo, segundo os especialistas, possui dons mediúnicos especiais e tem vários livros psicografados. Ele afirma que a média de curas de doenças mentais obtidas em seu centro oscila entre 80 a 85 por cento.
– É essencial – afirma Divaldo – estabelecer uma diferença entre enfermidades e obsessões, porque o que chamamos de obsessões são na realidade interferências de espíritos desencarnados. Os tipos de alienados portadores de obsessões quase nunca encontram cura junto ao psiquiatra. Há distúrbios nervosos que têm origem num problema espiritual. Nestes casos, o médium pode atingir a causa enquanto os médicos ficam apenas ao nível dos efeitos.
Divaldo Franco observa que jamais procura diminuir o respeito que o médico merece e, em geral, os pacientes que são encaminhados ao centro espírita já passaram antes pelo consultório do psiquiatra.
O psiquiatra Álvaro Rubim de Pinho não é por princípio hostil à simultaneidade do tratamento em certos casos de desequilíbrio. Ele observa que em quase todas as comunidades, o atendimento ao rito das religiões tradicionais pode ser um elemento de equilíbrio tanto na vida individual quanto na social. E recorda a eficácia de certas promessas, no catolicismo tradicional, para justificar a influência da crença em certos padrões de saúde mental.
– Existe uma medicina oficial – diz ele – que não exclui as formas da medicina popular cujos processos de tratamento podem muito bem revelar uma certa eficácia incontestável. A adoção das duas medicinas proporciona provavelmente maior segurança ao doente que, em muitos casos, é sobretudo uma pessoa que acredita piamente na orientação dos iniciados nos dois processos.
Rubim de Pinho esclarece ainda que, na concepção do candomblé, a doença é considerada sobretudo como uma manifestação de infelicidade. Para afastar essa infelicidade, é essencial obedecer aos tabus, cumprir as obrigações, comportar-se de acordo com os imperativos da moral da seita. Nada indica que a submissão a este tipo de crença seja incompatível com um bom tratamento médico.
E ele tem uma conclusão bastante interessante: “Pessoalmente, entendo que o psiquiatra jamais deverá abdicar do tratamento daqueles casos de doenças realmente bem caracterizadas. No que se refere às reações anormais, aos desvios de comportamento e mesmo a certas neuroses, não tomo a iniciativa de indicar o tratamento religioso, mas entendo-o e respeito, admitindo que, muitas vezes, pode ser útil”.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
SARAU 14 ANOS
TEMOS SARAU NO PRÓXIMO DIA 24/08
Tudo começou como uma brincadeira em 2010 entre uns comes e bebes com os amigos Manno Di Souza e José Carlos D´Almeida e disso nasceu a ideia de fazermos um grupo chamado de “Vinho Vinil”, com o propósito de ouvirmos vinis e bebermos só vinho. O fato é que artistas, intelectuais, professores, estudantes, jovens e convidados foram se somando ao entretenimento de finais de semana, até que tudo virou no atual “Sarau A Estrada” que agora está completando 14 anos de vida cultural, com debates de temas importantes em várias áreas, cantorias de viola, contação de causos e declamação de poemas. Tudo é realizado no “Espaço Cultural A Estrada” no formato bimensal, sempre num sábado à noite. São 14 anos de história onde já nos apresentamos em público no Teatro Carlos Jheovah (fechado há três anos pela administração atual da prefeitura), divulgamos um CD de músicas e poemas autorais e dois vídeos de textos poéticos. Agora estamos com um projeto de fazermos um documentário audiovisual sobre a trajetória do Sarau 14 anos. Durante este tempo muitas coisas ocorreram. Uns se foram e outros chegaram para contribuir, mas, como acontece em outros grupos que permanecem unidos e vivos, sempre temos aquelas caras antigas, ou como os próprios membros dizem, familiar. Aliás, o nosso Sarau tornou-se uma família que tem suas brigas, mas sempre estão juntos nos momentos mais difíceis. São noites memoráveis de discussões e aprendizagens na troca de ideias e pensamentos. Alguém aí pode até dizer que ainda é um adolescente de 14 anos, mas por se tratar de grupo cultural, já é longevo. O nosso próximo, com o tema “Que Brasil é Esse, Tão rico e Tão Desigual?, já está marcado para o dia 24 de agosto, a partir das 20 horas, no mesmo local, e temos certeza que será mais um sucesso e gostoso de se ver todos se abraçando e se confraternizando.
ALMA PENITENTE
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Lá fora, a lua prateada,
Dança com o vento a farfalhar
Nos vales e montes,
Com orvalho na relva,
Sereno fino nas fontes,
A anuncia outro dia
De mais um viver,
De vitória e agonia,
E eu aqui nesta cidade,
Em minha loucura solitário,
Bate a tempestade
Do vazio existencial,
Em minha alma penitente,
Vagante indigente
No embate entre o bem e o mal.
Afaste para longe de mim
Essa gente egoísta indiferente
Da minha alma penitente.
Do meu porto parto,
Em minha velha barca,
Levando minha arca,
De dores passadas,
Vidas atadas,
Pelos mares incertos,
De nevoeiros cobertos,
Numa aventura
À procura de ventura,
Oh, minha alma penitente!
Que mente com a mente,
Que ela não tema o medo
Na busca da razão,
Para curar seu coração.
CÂMARA MUNICIPAL CELEBRA OS 18 ANOS DA LEI MARIA DA PENHA
Em comemoração aos 18 anos da Lei Maria da Penha que dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar, a Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista realizou na manhã de ontem (dia 07/08), uma sessão especial para debater as medidas de assistência e proteção às mulheres vítimas de maltratos e assassinatos por parte de seus companheiros.
O ato foi promovido pela vereadora Márcia Viviane (PT) que, ao abrir os trabalhos, lembrou que a sessão é a primeira atividade em comemoração ao Agosto Lilás, dedicado ao combate à violência contra a mulher. Na ocasião, explicou que antes era realizada uma audiência pública para discutir o tema e agora a sessão especial para falar sobre a lei.
Viviane destacou o desafio das mulheres na sociedade de hoje, lembrando que a revolução passa pelas mulheres e propôs ações educativas em empresas, escolas e condomínios da cidade visando o combate contra a violência feminina. A militante Keu Souza falou da importância para as mulheres negras.
Segundo ela, a data poderia ser celebrada com a diminuição dos casos de violência contra a mulher, mas os dados demonstram o contrário. Durante a pandemia da Covid-19 (2020/22), de acordo com Keu, aumentaram os índices de violência, acrescentando que a sociedade vê a mulher a partir da perspectiva do machismo e, por isso, mata as mulheres por não admitir que a mulher tenha vida própria.
A delegada da DEAM (Delegacia da Mulher), Decimaria Cardoso, apresentou dados referentes a 2024, afirmando que a medida protetiva é, sem dúvida, uma das maiores conquistas nos últimos anos. Destacou que muito se tem a comemorar com a lei, mas muito ainda a conquistar.
A representante do Conselho Municipal da Mulher, Maria Otília, ressaltou o importante papel exercido pela polícia na proteção da mulher, sendo uma parceira no combate à violência. Disse que a violência provoca traumas terríveis nas mulheres, que muitas vezes não são superados ao longo da sua vida.
A presidente da União das Mulheres de Vitória da Conquista, Lídia Rodrigues, enfatizou, em seu pronunciamento, um conjunto robusto de leis que visam proteger as mulheres e punir os agressores no Brasil. Citou a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio e a Lei da Importunação Sexual.
Fizeram ainda parte da Mesa, que dirigiu os trabalhos em comemoração aos 18 anos da Lei Maria da Penha, a tenente Joice, coordenadora da Ronda Maria da Penha, a secretária Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, Viviane Santos de Oliveira, o comandante do Comando Regional Sudoeste da Polícia Militar, coronel Paulo Guimarães, a advogada e candidata a vice-prefeita Luciana Silva, os vereadores Luis Carlos Dudé, Nildo Freitas, dentre outros.
O CRÍTICO CANINO QUE NÃO PARTICIPA
Dizem que o silêncio é ouro, outros que uma boa resposta é o silêncio, que é melhor falar menos e escutar mais porque quem fala muito dá bom dia a jegue, e Martin Lutter King declarou em seu discurso da igualdade para todos que o silêncio dos bons é o que mais incomoda.
Nietzsche afirmou que num encontro de homens (ele não se refere às mulheres), não se pode ficar calado, sobretudo para aqueles que falam muito. No entanto, em nossas vidas existem aqueles que são críticos ferrenhos a tudo, principalmente na política, mas não participam de nada; não dão suas contribuições; e nunca se prontificaram a exercer cargos ou funções dentro da sociedade. Os que agem aprendem.
Esses que criticam e não agem, eu os considero abomináveis. Não devem ser ouvidos, mas afastados do convívio dos outros. Conheço gente, inclusive dito de esquerda, que fica dentro da sua casa metendo o pau na direita, em tudo e em todos amigos. Coloca em primeiro lugar tomar suas cachaças, se entregar ao prazer da vida do que ir a uma convenção ou reunião do seu partido do qual diz ser ardoroso defensor. Não pisa os pés num evento ou encontro social e político.
Já ouvi gente afirmar que não vai em lugar onde tem pessoas de direita. É o chamado absurdo radical que não admite ouvir o outro lado. É o mesmo que não saber viver ou conviver com as adversidades de pensamentos. Nem estou aqui colocando no bojo os extremistas terraplanistas, negativistas, racistas, xenófobos e homofóbicos preconceituosos. Para estes é escasso o diálogo.
É muito dito por aí que é fácil criticar, difícil é fazer e colocar a cara a tapa nessa sociedade onde a grande maioria é comodista e aceita tudo que vem de cima. É preciso ter a coragem e não temer a “porrada”. Conheço pessoa que passa o tempo todo criticando; diz que não vai num local onde tem direita bolsonarista e ainda senta a lenha em amigo que está atuando numa função público visando mudar as coisas. Sempre na sua concepção, o cara que está lá na luta não fez nada, não botou para quebrar e foi frouxo. É o tipo que fica de lá apontando seu dedo, sem agir e nem conhece do riscado.
Em minha idade, por exemplo, já exerci diversos cargos e funções, muitos dos quais sem nada ganhar e levei porrada e traição, tanto que me sinto calejado e nem estou mais aí para críticas. Costumo dizer que tenho meus próprios pensamentos, minhas ideias, meu modo de ver as coisas e não tenho medo de patrulhas ideológicas baratas.
Só aqui em Vitória da Conquista, além de ter sido chefe da Sucursal do jornal A Tarde (setor privado remunerado), já fui diretor da Apae, diretor e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia-Sinjorba e, mais recentemente, presidente do Conselho Municipal de Cultura.
Procurei dar minha contribuição dentro do possível e sei o quanto fui massacrado, xingado e contestado, mas sai de todos de cabeça erguida, com seriedade, honestidade e ética. Na minha autocrítica, tenho total consciência de que poderia ter feito muito mais, mas também sabemos que o sistema é cruel.
O que não dá é para aturar críticas pessoais do tipo que esperava mais de você na função, justamente daquele que mete o pau de quem pensa politicamente contrário a ele e fica enfornado dentro de casa só enchendo a cara. Não tem moral para criticar se não se faz presente nos debates e se recusa a assumir uma função numa entidade de classe.
Vivemos numa sociedade e temos que pensar coletivo, mas a maioria é individualista, egoísta e fala que não vai se meter nisso, ou por medo do fracasso, ou porque já se acostumou viver lá do seu alto abrindo a boca para criticar. Tem gente de esquerda nessa linha que é pior que os de direita, e é por isso que a extrema no Brasil só faz avançar com suas mentiras e tramoias malignas.
Como é que uma pessoa se auto declara petista, não é filiado; mete o cacete na direita bolsonarista, mas não aparece nos movimentos e atividades do seu partido do qual se mostra simpatizante? Não consigo entender essa posição. Melhor seria ficar calado e não sair por aí esbravejando e soltando despautérios contra os outros, com termos chulos e depreciativos.
Devemos fazer alguma coisa, mesmo que seja daquela pequenina beija-flor que passa o tempo todo carregando uma gotícula de água no bico para apagar um incêndio. O crítico que só sabe falar e nada faz, não merece um dedo de prosa; travar com ele um diálogo; e fazer até um contraponto. Melhor se afastar e dizer logo a verdade, coisa que muita gente não gosta de ouvir, sobretudo o crítico contumaz, senão você vai terminar ganhando um inimigo.
PT E A FEDERAÇÃO REDE/PSOL HOMOLOGARAM CANDIDATOS
Numa convenção de cerca de 2.500 pessoas, o PT de Vitória da Conquista, a Federação Rede/Psol, dentre outros partidos de esquerda, realizada no último dia 3/08, na área do Colégio Centro Integrado, homologaram as candidaturas a prefeito e a vice de Waldenor Pereira e Luciana, com as presenças de personalidades, como do ex-prefeito Guilherme Menezes, da senadora pelo PSB, Lídice da Mata e várias lideranças da cidade, região e da Bahia.
Na ocasião, o candidato Waldenor fez um veemente discurso dentro da sua linha programática de mudanças para Vitória da Conquista, principalmente no setor social, destacando a educação e a saúde. Lembrando o apoio do presidente Lula, do governador Jerônimo, do ministro Ruy Costa e do senador Jaques Wagner, o candidato citou que Conquista precisa de união e reconstrução, fazendo críticas à atual administração da prefeita Sheila Lemos.
Antes da convenção geral, outros partidos se reuniram, como da Federação Rede-Psol, e fizeram suas convenções homologando seus candidatos à uma cadeira na Câmara de Vereadores, como do jornalista e escritor Jeremias Macário, Cláudio Dutra, Ziva Zacarias, o Zeca, o professor Andrade Leal, Lu do Terminal, todos do Psol e demais da Rede.
Os trabalhos da Federação Rede foram abertos pelo presidente Ferdinand Martins, por volta das 10 horas da manhã, com as presenças de militantes políticos do MST e de outros movimentos sociais que apoiam a candidatura a prefeito e vice de Waldenor e Luciana. Ferdinand desejou sorte para todos homologados e conclamou os companheiros para a luta, e que cada um levante suas proposições para mudar Conquista e vencer as eleições.
A convenção geral, no Centro Integrado, deu uma demonstração de força dos partidos de esquerda nessa caminhada para as eleições de outubro, cujo objetivo principal é saírem vitoriosos, inclusive com mudanças no legislativo que agora vai ter 23 cadeiras com o acréscimo aprovado de mais dois parlamentares para o mandato de 2025 a 2028.
“DIÁLOGO COM OS REIS”
Zaratustra estava caminhando por suas montanhas e bosques quando passava um singular cortejo de dois reis adornados de coroas e faixas de púrpura. Diante deles ia um jumento carregado. Zaratustra pensou consigo e falou em meia voz: “Que querem esses reis aqui em meu reino, caso raro, dois reis e um asno”!
Essa narrativa está no livro “Assim Falava Zaratustra”, do filósofo alemão Nietzsche, no capítulo “Diálogo com os Reis”. Os dois ouviram alguma coisa na moita e imaginaram ser algum pastor de cabras ou um ermitão. Um deles disse que “a absoluta ausência da sociedade também prejudica os bons costumes”.
No diálogo, o outro replicou que “antes viver com ermitões e pastores do que com nossa plebe dourada, falsa e polida, embora a ela se costume chamar a boa sociedade, a nobreza. Veja aqui que Nietzsche classifica a nobreza de plebe dourada.
Na conversa, um afirmou para o outro que ali tudo é falso e corrompido, a começar pelo sangue, graças a estranhas e malignas enfermidades e a piores curandeiros.
– O melhor para mim e o que hoje prefiro é um camponês sadio, tosco, astuto, tenaz e resistente. Hoje o camponês é o mais nobre, o melhor que temos e a raça dos camponeses deveria reinar. Vivemos, porém, no reinado da plebe, num amontoado. Já não me iludo mais – assinalou um deles.
O outro respondeu: “Amontoado de massas. Ali tudo está misturado: O santo e o bandido, o fidalgo e o judeu e todos animais da arca de Noé”.
– Os bons costumes! Entre nós tudo é falso e corrupto! Já ninguém sabe reverenciar. Disso, justamente, é que nos devemos livrar. São cães domesticados e importunos. Ocupam-se em dourar palmas – exclamou o outro.
– O desgosto que me sufoca é nos termos nós mesmos, reis, tornado falsos e nos cobrirmos e nos disfarçarmos com o fausto passado de nossos ancestrais. Não passamos de medalhas para os mais tolos e os mais astutos e para todos os que hoje traficam com o poder!
Ao ouvir tudo isso, Zaratustra saiu de lá e se apresentou. Ressaltou ter gostado quando os reis disseram para que servimos ainda nós, os reis. “Aqui estais em meu reino e sob o meu domínio. Talvez aqui possais encontrar pelo caminho o que eu procuro, o homem superior”.
Eles falaram que a espada da palavra de Zaratustra cortava a mais profunda escuridão de seus corações. “Descobristes nossa angústia porque nós vamos em busca do homem superior a nós. Para ele trazemos este jumento”.
Então, Zaratustra resolveu dizer uns versos para os reis: “Nunca o mundo caiu tão baixo – enfatizou. – Roma se tornou prostituta e antro de prostitutas. O César de Roma degenerou em besta. O próprio Deus se tornou judeu. Os reis gostaram do que ele falou.
Em seguida, revelaram que os inimigos de Zaratustra nos mostravam tua imagem num espelho. Vimos a figura de um demônio de riso sarcástico, de modo que nos amedrontaste. Que nos importa seu semblante”!
Ao se dirigirem a Zaratustra, disseram ser preciso ouvir aquele que nos ensina que “deveis amar a paz como meios de novas guerras e a breve paz mais do que a prolongada”!
– Ó Zaratustra! A estas palavras ferveu em nossos corpos o sangue de nossos pais. …Nossos pais tinham sede de guerras, à semelhança dessas espadas.
Quando os reis falaram da felicidade de seus pais, Zaratustra sentiu vontade de zombar daquele ardor pelas guerras, porque eram reis pacíficos… Zaratustra, então, levou os reis até sua caverna para prosear.
PSIQUIATRIA: A CURA PELO CANDOMBLÉ (2)
Outro olhar sobre a dor da alma
(Chico Ribeiro Neto)
O site da Academia de Medicina da Bahia (academiademedicina-ba.org.br) traz o perfil do psiquiatra Álvaro Rubim de Pinho, membro titular da entidade, onde se lê: “Com a autoridade de Professor Titular, Rubim de Pinho enfrentou críticas, mas fomentou uma criativa linha de pesquisa, a da Psiquiatria Transcultural (…) Dessa linha resultaram os trabalhos criteriosos e, com observação participante sobre o candomblé, a organização do célebre simpósio de 1968, que divulgou uma década de estudos sobre o banzo, o calundu, a caruara, o quebranto, entre outros, ampliando e difundindo as ideias de uma psiquiatria que levasse em conta as crenças, crendices e o imaginário popular”.
Publico hoje a segunda parte da matéria “Psiquiatria: a cura pelo candomblé”, da minha autoria, publicada na revista “Manchete” número 1.250, de 7 de março de 1976:
“A mãe-de-santo Olga de Alaketu conta ainda que já tratou de um soldado e de um farmacêutico que haviam ficado “furiosos”. Deram muito trabalho, foi necessário muita paciência, mas no fim valeu a pena.
Há dois anos, uma equipe de psiquiatras do Hospital dos Servidores, de São Paulo, reuniu-se em Salvador com Olga de Alaketu para analisar melhor os fenômenos que ocorrem no terreiro de candomblé durante o tratamento das doenças mentais.
Um dos mais respeitados especialistas do candomblé, o etnógrafo Waldeloir Rego, diretor do Departamento de Folclore da Prefeitura de Salvador, explica que os sintomas de doenças mentais nem sempre são muito nítidos. “Quando se trata realmente de doença mental, a mãe-de-santo acaba sempre encaminhando a vítima ao psiquiatra. Mas quando se trata de um “problema de santo”, que só pode ser resolvido com trabalhos especiais, ou mesmo com uma iniciação completa no culto, em geral a mãe-de-santo guarda o paciente até a cura total”.
E Waldeloir continua: “O que muitas vezes para o médico parece uma doença, nem sempre é doença para o candomblé; é apenas a manifestação de um desejo de uma entidade (orixá) que domina o indivíduo. Neste caso, só as pessoas dotadas de poderes paranormais do tipo de mãe-de-santo podem efetuar a cura.”
Os psiquiatras que estudam esses chamados mistérios aceitam as explicações dos iniciados, mas procuram dar-lhes uma formulação mais racional. Muitos deles são verdadeiros estudiosos dos mistérios do candomblé, como é o caso de Álvaro Rubim de Pinho, que, além de psiquiatra respeitado, é também Ogã (ministro) do terreiro do Axé Opô Afonjá. Tem Oxalá como seu Orixá de cabeça.
A teoria admite que várias causas podem romper o ponto de equilíbrio ideal que permite o funcionamento normal na vida mental no homem. A raiz das ligações entre o corpo e o espírito ainda é bastante mal conhecida. Muitas vezes uma razão física, orgânica, bloqueia um centro responsável por um funcionamento mental. Outras vezes, são próprias razões de ordem psíquica, uma obsessão, um traumatismo, uma carga emocional mais forte, que provocam a desordem geral, afetando tanto o físico como o mental.
Para o médico Rubim de Pinho, o recurso às drogas representa muitas vezes uma pura confissão de ignorância, agravando sensivelmente o estado do paciente. A eventual cura depende exclusivamente da descoberta da causa do distúrbio.
Como o candomblé, o espiritismo ou outros tipos de práticas religiosas se situam exatamente no nível do afetivo-mental, a manipulação de forças ainda mal conhecidas, como esses dons parapsicológicos irrefutáveis das mães-de-santo, pode desencadear a atividade e certos poderes capazes de fazer desaparecer os distúrbios. A explicação do recurso às entidades superiores pode ser, cientificamente, apenas uma mera formulação. Na realidade, trata-se de forças ainda mal conhecidas que a razão de forma alguma tem o direito de rejeitar sumariamente. No fundo, as explicações da psicanálise clássica são aparentemente tão irracionais quanto as da mãe-de-santo. Querer explicar certos comportamentos obsessionais dizendo que o paciente somatiza demais seus recalques, equivale, em última análise, a aceitar as quizumbas de Exu na mente da vítima.
Quando Olga de Alaketu conseguiu “tirar o espírito” do corpo do soldado furioso, ao final de muita conversa e de muita paciência, ela deverá ter chegado à dimensão mais profunda da mente da vítima, onde a causa do distúrbio se entregou a ela com clareza e simplicidade.
(Continua no próximo domingo)
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
TEM DE TUDO NAS FEIRAS
É certo que aqui em nosso blog já fizemos diversos comentários sobre a popularidade e a importância das feiras que todas cidades, seja da capital ou do interior, realizam, sempre em finais de semana (os dias mais atrativos), mas é um tema que nunca fica repetitivo e cansativo, tendo em vista que elas estão incorporadas e entranhadas em nossa cultura. Aqui, em Vitória da Conquista, a mais famosa é a do Bairro Brasil, ou a conhecida “Feirinha” e bem próximo dela, a Feira do Rolo, onde também tem de tudo para comprar, vender e trocar. As feiras nunca vão deixar de existir, justamente porque atendem mais às camadas de menor poder aquisitivo. Longe dos supermercados com seus confortos, os preços nas feiras são mais acessíveis e lá tem ainda a vantagem do freguês poder pechinchar, sem contar as variedades e muitas coisas, como frutas e verduras nem são pesadas. Você pode adquirir por quantidade e ainda faz amizade com o feirante, tornando-se até num amigo, sem falar nos encontros de compadres e comadres para troca de dois dedos de prosa. Quando vou a uma feira, lembro quando menino lá na minha cidade querida de Piritiba onde vendia farinha e mantimentos com meu saudoso pai. Nas feiras ainda existem os cantadores, cordelistas e repentistas para você se deleitar com seus versos rimados na ponta da língua. Feira é um patrimônio nacional em qualquer lugar do mundo, não somente no Brasil, e existe há milênios de anos, desde muito antes de Cristo. É um lugar de gente simples, não de pessoas metidas a bestas, pedantes e sebosas. Nas feiras você encontra de tudo o que pensar e ainda têm o encanto, o cheiro da poesia, o sabor caseiro das comidas nas barracas e aquele jeito humano de se falar e se abraçar.
“OLHOS DA PAIXÃO”
Do livro “SUSPIROS POÉTICOS”- a beleza da lira cor, da autora poetisa amiga Regina Chaves dos Santos.
A brisa me contou
Que sentiu o cheiro do meu amor,
– ele vem vindo!
Trazendo nos olhos o encanto da paixão e no coração,
– saudades de seu bem que lhe espera, sorrindo!
Entre milhas e milhas ouve-se uma canção,
Para aliviar o aperto de seu coração…
Canta para as estrelas, adiante no céu,
– lhe fazendo companhia na solidão!
Com os olhos enchidos de carinho
O pensamento invade,
O canto das saudades…
Exalando perfumes, – entre dois corações!
– A brisa me contou, sorrindo!




















