CIDADANIA SEM RAZÃO
Versos do jornalista e escritor Jeremias Macário, publicados em seu último livro “ANDANÇAS”
Cidadão é não ter os seus direitos,
Dissolvidos na maior concentração;
Ser alimento no covil dos malfeitos,
E perambular na renda da contramão.
É ser eleitor e só servir para votar;
Viajar de avião uma vez na promoção;
Comer uma pizza com angu e caviar;
E humilhar esmola na fila do bolsão.
É pensar que existe uma democracia,
Onde o povo imagina estar no poder;
Que a submissão faz parte da cidadania,
E que a desigualdade já nasce com você.
Não importa se de fome a barriga dói,
Se todo ano tem uma festa de carnaval,
Quando se tem no peito seu ídolo herói,
E seu time foi classificado para a final.
Ser cidadão é ter orgulho do seu Brasil;
Não ter saúde e educação de qualidade;
Não ser honesto para não ser imbecil,
E não ligar para o regime da impunidade.
Autoestima é sediar os jogos olímpicos;
Armar barraquinhas na Copa do Mundo;
Virar elefantes depois dos paralímpicos;
E continuar resignados em sono profundo.
O barão condenado sorri em liberdade;
É que ele ainda está sendo o investigado;
O dezessete perigoso é menor de idade,
E o povo ferrado vai vagando como gado.
Deixaram queimar na Antártida nossa base;
Nos jogaram no lodo, sem saneamento básico;
Tem classe sem classe que não sabe uma frase,
E o roubo do bem público virou nosso clássico.
Já se falou em botar um astronauta no espaço,
Mas forças invisíveis retorceram os cientistas,
Lá em Alcântara, no país do reboco e do aço,
Musicado nas rimadas dos mestres cordelistas.
Uma cadeira na ONU por qualquer bagulho;
Não importa se já aprendemos a nossa lição,
Se os partidos políticos viraram um entulho,
Vivendo todos marchando nas ruas sem razão.