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:: 23/jul/2021 . 23:06

“REMANSO – UMA COMUNIDADE MÁGICO-RELIGIOSA” (v)

O JARÊ, O GARIMPEIRO E OS DIAMANTES EM LENÇÓIS

“O Jarê é uma religião de base angolana, bastante influenciada pela cultura jeje e com muitas faces das aquisições que compõem as encantarias, entre as quais destacamos a caboclarização dos orixás” – ressaltam os autores da obra, Ronaldo Senna e Itamar Aguiar, que descrevem a formação histórica do município de Lençóis, que contou com a colaboração cultural do garimpeiro, a grande maioria vinda das Minas Gerais.

Na introdução desse capítulo, os acadêmicos dão ao leitor uma visão político-administrativa sobre o município de Lençóis, antes pertencente a Mucugê (Santa Isabel do Paraguaçu), tornando-se cidade em 20 de maio de 1864, e comarca das Lavras Diamantinas até 31 de dezembro de 1937.

Em seguida, citam os nomes dos intendentes e prefeitos, inclusive do famoso coronel Horácio Queiroz de Mattos, dentre outros que contribuíram para o desenvolvimento socioeconômico do município, hoje uma referência no turismo, tanto no âmbito nacional, como internacional.

Falam da grande presença dos católicos na formação religiosa da população, assinalando, no entanto, que muitos também eram adeptos do Jarê, incorporando orixás, caboclos e encantados. Essas pessoas sempre evitaram declarar dupla pertença religiosa.

Por outro lado, conforme pesquisadores figurados no livro, existia também essa dupla pertença do povo de santo ao catolicismo e ao culto dos orixás, responsável pelo sincretismo afro-brasileiro. Segundo os professores, esse referencial procede, pois “na realidade é uma composição de crenças tribais africanas, que se dividem em nações, que indicam a procedência do culto e o tipo de deus que o rege” (Epega, p. 160).

Ao localizar a área onde o Jarê viceja, Ronaldo e Itamar observam que ela foi constituída por brasileiros vindos de diversos lugares, como Minas Gerais, principalmente da região do Grão Mongol, e da cidade de Diamantina, como também do Vale do São Francisco e da Zona do Recôncavo. Contou ainda com a presença de estrangeiros árabes, judeus, franceses e africanos.

Na comparação com a agricultura e a pecuária, mais ou menos de previsibilidades, os autores dizem que a garimpagem de gemas orienta-se, na realidade, por regras do jogo, sendo o próprio garimpo um jogo. Mais adiante falam sobre a prospecção e o comércio.

Nesse quadro tem o dono da serra (proprietário de um trecho de terra), o dono do garimpo que arrenda a área por uma quantia fixa anual, ou faz um acordo com o dono da serra pela subdivisão do quinto, e o capangueiro, que é um tipo de comprador. Existe ainda o chamado meia-praça, a parte dividida entre o garimpeiro e o fornecedor (o empresário).

Itamar e Ronaldo detalham o papel de cada um dentro da garimpagem, e afirmam que o garimpo pode ser classificado como seco ou molhado, isto é, aquele em que os garimpeiros têm de deslocar água até o seco. No caso dos molhados, são garimpos de grunas de olhos d´água, ou leitos dos rios.

Existem também os garimpos equipados com infraestrutura de tanques. Neles ocorrem várias formas de pagamento e relações entre as partes, terminando no lapidário que transforma a pedra num brilhante, o qual é revendido a outros comerciantes, como ourives e joalheiros.

Quanto a decadência, descrevem que esta fase motivou o comportamento de não pagar o quinto, sob alegação de não ser roubo. Houve também a época de pagamentos de diárias por donos de garimpo e garimpeiros, relação que dispensa o fornecedor. Isso era muito usado nos tempos da florescência (corrida do diamante).

“O passado é uma referência constante; o presente, um lamento impregnado do sentido de perda; e o futuro, algo difuso, confuso, ausente como projeto, fugidio” – assinalam os autores do livro, fazendo pontuação sobre as lutas políticas dos coronéis e jagunços, durante a República Velha.

 





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