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:: 29/jun/2020 . 23:17

“CIGANOS NO BRASIL – UMA BREVE HISTÓRIA” (PARTE FINAL)

AS CORRERIAS E O FIM DO ESCRAVISMO

Fotos divulgação

As “correrias de ciganos” ocorreram por diversos fatores, como o fim do escravismo, quando muitos bandos perderam sua principal atividade econômica, principalmente no Campo de Santana, nas ruas dos Ciganos e no Valongo, no Rio de Janeiro. Com isso, a comunidade foi entrando em decadência. Muitos bandos deixaram o Rio rumo a Minas Gerais, aumentando o número deles no território mineiro. Contribuiu também para as correrias, a crise na lavoura canavieira no Nordeste no final do século XIX, junto com o êxodo de homens pobres para o Centro-Sul. Foram para Minas, ciganos caldeireiros que trabalhavam no conserto de peças e objetos de latão e de cobre nos engenhos.

Diz Teixeira que entre 1870 e 1930, intelectuais brasileiros acharam que deveriam mudar a configuração racial do Brasil. Em alguns casos, eram propostas soluções de eugenia e do extermínio de populações indesejáveis, como indígenas. Possivelmente, segundo o autor, isso inspirou as ações policiais mineiras nas Correrias de Ciganos. Surgiram ideias de integrar certas parcelas da população, tentando ordenar o espetáculo das raças. Para essa gente, formar a raça brasileira significava construir a nacionalidade.

Essas ideologias voltaram com força no governo atual, eleito em 2018. Os estrangeiros, no entanto, achavam impossível construir uma raça a partir da miscigenação. Os ciganos sempre estiveram fora do chamado espetáculo brasileiro das raças. Na Europa, eram vistos como mestiços degenerados, enquanto no Brasil como raça maldita e inferior. “Em fins do século XIX, a perseguição aos ciganos repercutia as transformações ligadas à construção da nacionalidade cada vez mais “racializada”. O projeto higienista associou os ciganos à mais baixa escória, caracterizando-os como horda, malta, manada de facínoras, desordeiros, sujos, preguiçosos e vagabundos.

A inserção dos ciganos na economia

Sobre a inserção dos ciganos na economia, um dos capítulos do livro, eles demonstraram habilidades como empreendedores e encontraram brechas no mercado para atuar na venda de escravos (séculos XVIII e XIX), de animais, arreios de prata, tecidos e roupas, relógios de ouro, consertadores de caldeiras, quiromantes (buena dicha) e até nas atividades artísticas de músicos, ilusionistas, de saltimbancos e circense. Contam que foram os primeiros artistas que atuaram em Minas Gerais. Como comediantes, chegaram a ser denunciados ao Santo Ofício, em junho de 1727, pelo bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe. A acusação dizia que suas comédias e óperas eram imorais, com afronta aos preceitos da Santa Igreja.

Gilberto Freyre faz menção aos ciganos como introdutores de animais exóticos nos engenhos e nas feiras nordestinas, acompanhados de meninos que faziam acrobacias sobre cavalos. Usavam ursos verdadeiros, ou então fingidos, que dançavam ao som de pandeiros. Os macacos e macacas eram vestidos de sinhás, com laços de fitas, que dançavam e faziam graças. No interior mineiro, tornaram-se famosos os ursos ciganos. Geralmente, os ciganos que trabalhavam nessa área circense pertenciam ao grupo Rom, vindos da Europa Central.

Os maiores circos pertencentes a famílias ciganas no Brasil (Kalderash, Robatini e outras da Hungria, Romênia e da Itália) foram Circo Orlando Orfei, Circo Norte Americano, Circo Nova York e Circo México. Conta que a numerosa família Wassilnovitch (trocaram o nome por Silva) chegou ao Brasil através do porto de Salvador, com a família François, na década de 1880. Suas primeiras apresentações foram feitas em praças públicas por falta de recursos. O capitão Zurka Sbano (Kalderasch), residindo em São Paulo, conta que sua família se tornou circense em fins do século XIX. Seu avô mascateava e fazia tachos e alambiques

Eles concorriam com o comércio dos mascates portugueses, judeus, da Itália, do Líbano e da Síria. Estes procuravam atender pedidos e criar demanda. Os ciganos tinham a facilidade de fazer trocas e criar barganhas. Era difícil enganar um cigano. Muitos tinham o truque de transformar pangarés em vistosos cavalos de raça. Por isso, eram chamados de embusteiros e trapaceiros. Eram vistos por viajantes memorialistas em Sorocaba, onde funcionou o maior centro de comércio de muares trazidos dos pampas (Província do Rio Grande de São Pedro do Sul –Viamão). Era um dos principais pontos onde os tropeiros de Minas renovavam suas tropas. Havia o estilo cigano de tratar e montar o animal.

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