ANTÔNIO PEDREIRA PITHON
Carlos González – jornalista
No momento em que o país assiste, na política, na administração pública e nos esportes, particularmente no futebol, a uma crise dos chamados “homens de bem”, junto-me aos que lamentam o desaparecimento de Antônio Pedreira Pithon, aos 74 anos, vítima de “falência múltipla dos órgãos”, na terminologia médica. Para quem o conhecia de perto, seus familiares e amigos, Pithon foi abatido, física e moralmente, por uma quadrilha que implantou no clube, há cerca de três década, um regime ditatorial, fundamentado no terror e na corrupção. A volta da democracia, com a eleição direta de Fernando Schimidt, pelo voto dos sócios, em 2013, não resgatou totalmente o orgulho do torcedor tricolor, haja vista que o seu time luta hoje para voltar à divisão de elite do futebol nacional, onde foi colocado por esse desportista que hoje lastimamos a sua morte.
Conheci Pithon no começo dos anos 70 quando ele assumiu a Diretoria Social do Bahia, a convite do presidente juiz Pedro Pascásio de Oliveira. A campanha “Sou Bahia, estou em dia”, com a finalidade de fazer do torcedor um associado, foi um dos projetos vitoriosos do jovem dirigente, que costumava dizer que “um clube realmente organizado deve atender ao bem-estar dos seus sócios, de modo a integrá-los mais intimamente no seio da família tricolor”. Com esse mesmo objetivo, Pithon lançou a publicação “Bahia em Revista”, com a colaboração de um grupo de jornalistas (Ênio Carvalho, Pedro Formigili, Mário Freitas, Gílson Ney, Tasso Franco, Carlos Santana e Carlos Olímpio), com Fernando Pedreira na chefia de Redação e o autor destas linhas na secretaria.
Com um nome respeitado como arquiteto e urbanista – sua assinatura está em mais de 500 projetos no Brasil e até mesmo no exterior, – Antônio Pithon ocupou posteriormente as Diretorias de Marketing e de Patrimônio do clube, deixando como legado o projeto das instalações esportivas de Itinga, hoje alvo de demanda judicial. O patrimônio imobiliário do Bahia, um das preocupações do dirigente, foi recentemente abalado com a entrega da sede de praia para o município, cuja demolição atingiu o ginásio de esportes anexo, batizado de “Antônio Pedreira Pithon” .
A reputação de Pithon como administrador esportivo levou-o à presidência da Federação Baiana de Futebol (FBF), onde, ao contrário dos “cartolas” de hoje, que se perpetuam nos cargos, cumpriu apenas um mandato, tempo suficiente para colocar o futebol do estado em terceiro lugar, depois do Rio e São Paulo, em torcedores presentes nos estádios– em 1985 foram 700 mil pessoas, números inatingíveis atualmente. O futebol baiano passou a ser valorizado no cenário nacional: o Bahia foi um dos fundadores do Clube dos 13, entidade responsável pela organização dos campeonatos brasileiros.
Em 1986, Pithon foi premiado com a Bola de Ouro pela revista Placar como o melhor presidente de federação. A justa homenagem foi um salto para chegar à CBF, onde ocupou uma das diretorias na gestão de João Havelange. Idealizador da Copa do Brasil, que ele qualificou como “o torneio mais democrático do país”, reunindo representantes dos 27 estados e do Distrito Federal, todos em condições de disputar a Taça Libertadores da América. O seu currículo revela ainda passagens pelo Conselho Regional de Desportos – Bahia e Conselho Nacional de Desportos.
Nas últimas décadas, desiludido com os rumos tomados pelas administrações tricolores, que tentaram desmoralizá-lo, de modo injusto e cruel, Pithon se recolheu ao seio familiar, deixando de ser visto nos lugares públicos, inclusive nos jogos do seu querido Bahia. Sua morte foi registrada da tribuna da Câmara Federal pelo deputado José Rocha (PR-BA), presidente do Conselho Deliberativo do Vitória.
Os mais Jovens talvez desconheçam que Antônio Pithon foi filho do empresário Francisco Pithon, responsável pela divulgação da indústria cinematográfica em Salvador, abrindo casas exibidoras (Excélsior, Art, Tupi, Tamoio, Bahia, Popular, Liceu, Rio Vermelho e outras), que deram lugar aos multiplex implantados nos shoppings; produzindo filmes e trazendo atores consagrados para estreias de obras premiadas, entre os anos 30 e 60. Sua biografia, escrita pelo jornalista Flávio Novais, foi lançada no último dia 15 de agosto.