:: 26/out/2015 . 22:23
O CIRURGIÃO E O MATUTO
Antônio Novais Torres
Deslocando-se do povoado para a sua fazenda o médico-cirurgião dirigia um Jeep que lhe servia de apoio para essa finalidade e vencer as estradas vicinais esburacadas, por ser um veículo mais ágil, de tração nas quatro rodas, um carro rústico para todo o serviço. A expressão “pau para toda obra” ao veículo se encaixava perfeitamente na necessidade do doutor.
Conversava com um amigo trocando amenidades quando o veículo caiu num buraco e o motor apagou. Estavam num ermo sem nenhum recurso que pudessem se valer para resolver o problema. Ambos não tinham conhecimento de mecânica.
O médico abriu o capô do jeep, olhou atentamente, tentou alguma investida, mas não conseguiu nada, pois era inabilitado nesse particular. Resignado disse: “Se fosse barriga de gente eu o colocaria para funcionar e tudo estaria resolvido”.
Ocorre que um matuto que passava ao longe foi chamado pelo acompanhante aos gritos, pedindo socorro. Então o cirurgião alfinetou: “Nós, citadinos e instruídos, não entendemos nada de mecânica, imagine um capiau e, provavelmente, analfabeto, não vai entender patavina”.
ANTÔNIO PEDREIRA PITHON
Carlos González – jornalista
No momento em que o país assiste, na política, na administração pública e nos esportes, particularmente no futebol, a uma crise dos chamados “homens de bem”, junto-me aos que lamentam o desaparecimento de Antônio Pedreira Pithon, aos 74 anos, vítima de “falência múltipla dos órgãos”, na terminologia médica. Para quem o conhecia de perto, seus familiares e amigos, Pithon foi abatido, física e moralmente, por uma quadrilha que implantou no clube, há cerca de três década, um regime ditatorial, fundamentado no terror e na corrupção. A volta da democracia, com a eleição direta de Fernando Schimidt, pelo voto dos sócios, em 2013, não resgatou totalmente o orgulho do torcedor tricolor, haja vista que o seu time luta hoje para voltar à divisão de elite do futebol nacional, onde foi colocado por esse desportista que hoje lastimamos a sua morte.
Conheci Pithon no começo dos anos 70 quando ele assumiu a Diretoria Social do Bahia, a convite do presidente juiz Pedro Pascásio de Oliveira. A campanha “Sou Bahia, estou em dia”, com a finalidade de fazer do torcedor um associado, foi um dos projetos vitoriosos do jovem dirigente, que costumava dizer que “um clube realmente organizado deve atender ao bem-estar dos seus sócios, de modo a integrá-los mais intimamente no seio da família tricolor”. Com esse mesmo objetivo, Pithon lançou a publicação “Bahia em Revista”, com a colaboração de um grupo de jornalistas (Ênio Carvalho, Pedro Formigili, Mário Freitas, Gílson Ney, Tasso Franco, Carlos Santana e Carlos Olímpio), com Fernando Pedreira na chefia de Redação e o autor destas linhas na secretaria.
Com um nome respeitado como arquiteto e urbanista – sua assinatura está em mais de 500 projetos no Brasil e até mesmo no exterior, – Antônio Pithon ocupou posteriormente as Diretorias de Marketing e de Patrimônio do clube, deixando como legado o projeto das instalações esportivas de Itinga, hoje alvo de demanda judicial. O patrimônio imobiliário do Bahia, um das preocupações do dirigente, foi recentemente abalado com a entrega da sede de praia para o município, cuja demolição atingiu o ginásio de esportes anexo, batizado de “Antônio Pedreira Pithon” .
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