BRASIL ESTÁ RECUPERADO, DIZ DUNGA
Carlos González – jornalista
A imagem de Dunga, a beira dos gramados, fazendo “caras e bocas” ou reclamando dos árbitros, ou então participando de entrevistas coletivas, onde debocha dos jornalistas e dos torcedores, dá a impressão de que estamos tomando um purgante. Num país onde os cargos de maior relevância, como os ministérios, são preenchidos sem o menor critério de competência pelos seus ocupantes, qualquer um pode ser técnico da seleção. Já que estou tratando do futebol, cito como exemplo o Ministério do Esporte, cujo titular, o baiano de Alagoinhas, pastor e animador de auditório, George Hilton, confessou, ao tomar posse, “que não entendia dos assuntos”de seu novo emprego. Nas conversas com a imprensa especializada, envia seus assessores.
Torcedor da extinta Catuense, o ministro tem receio de não saber fazer distinção entre algumas modalidades esportivas, como as lutas marciais, por exemplo. Seu antecessor, o comunista Aldo Rabelo, foi para o Ministério da Tecnologia e hoje está na Defesa, no comando das Forças Armadas, onde, provavelmente, não sabe o significado das estrelas e divisas dos uniformes militares.
Nos últimos dias, com o início das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, Dunga e alguns dos seus jogadores resolveram experimentar o laxativo que, diariamente, enfia pela goela dos torcedores. O efeito foi desastroso. Acometidos de um desarranjo mental, o treinador e o baiano de Juazeiro Daniel Alves tentaram explicar que a má vontade do brasileiro, exceto os nordestinos, com a sua seleção, é consequência da má gestão social e econômica do país, aliada aos escândalos financeiros, envolvendo figuras do alto escalão da República.
Essas absurdas declarações públicas foram ditas após o baile chileno. Depois da sofrível vitória sobre a fraquíssima Venezuela, Dunga, William, Felipe Luís, Marquinhos e Gustavo Oliveira, mostraram sinais de alívio, concedendo a nota 8,5 ao time nacional, sétimo colocado no ranking da FIFA, mas sem esconder a preocupação com a Argentina, que perdeu em casa para o Equador e empatou com o Paraguai, em Assunção, adversário do próximo dia 12, em Buenos Aires. Dunga e seus auxiliares (são tantos) apostam todas as fichas em Neymar e rezam para que Messi esteja ausente do maior clássico das Américas.
O Nordeste, alvo de agressões verbais dos brasileiros que vivem no Sul e Sudeste, principalmente depois da expressiva vitória dada ao PT nas eleições de 2014, hoje é a casa da Seleção Brasileira. Fugindo das vaias de cariocas, paulistas, mineiros e gaúchos, a CBF marcou para Fortaleza e Salvador os dois primeiros jogos em casa pelas eliminatórias, contra, respectivamente, Venezuela e Peru. Os cearenses, mesmo depois da derrota para o Chile, liderados pelo compositor e cantor Fagner e pelo humorista Tom Cavalcanti, acompanharam todos os passos dos comandados de Dunga na bela capital do seu estado.
A torcida “cabeça chata” ainda contou com o apoio de uns 30 paraibanos de Campina Grande, comandados pela mãe de Hulk (um dos dois nordestinos entre os convocados – o outro é Daniel Alves), Maria do Socorro Souza, responsável pelo fretamento de um ônibus. Para decepção dos que “comeram a poeira da estrada”, o vigoroso atacante, que trocou o calor nordestino pelo frio russo, só jogou os minutos finais da partida contra os venezuelanos.
Podem anotar, a recepção em Salvador, antes e durante o jogo contra o Peru, marcado para 17 de novembro, não será diferente da proporcionada pelos cearenses, independente do resultado do encontro, dia 12, contra os argentinos. Com as camisas amarelas cheirando a naftalina, torcedores vão tietar, com seus aparelhos fotográficos, o time brasileiro. A Fonte Nova deve receber um público de cerca de 40 mil pessoas, que aplaudirá a vitória sobre a enfraquecida seleção do Peru.
A CBF traçou o mesmo esquema para a seleção que está se preparando para as Olimpíadas de 2016, no Rio. Os dois jogos da semana passada, que terminaram em goleadas, contra República Dominicana e Haiti, formada por imigrantes do país mais pobre das América, que estão entrando no Brasil pelo Acre, foram disputados em Manaus. Os amazonenses lotaram a Arena Amazônia, um dos “elefantes brancos”, construídos pelo governo para a Copa do ano passado.