:: 4/out/2015 . 23:45
EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Quando se pensa em reformar a estrutura da educação brasileira, a questão mais delicada certamente envolve o seu confuso ensino médio. Os fundamentos da Lei 9394/96, nesse aspecto, estão inteiramente superados. Previu-se na LDB uma Base Nacional Comum para o currículo. Quase 20 anos depois, somente agora o assunto ganhou a prioridade do MEC, com a valorização dos conceitos de interdisciplinaridade e regionalização, especialmente em Português, Geografia, História e Biologia.
Está em curso o Plano Nacional de Educação, com as 20 metas previstas. Mas já se tem a certeza de que muitas delas ficarão pelo caminho, em virtude da absoluta falta de recursos financeiros, dada a crise econômica. Logo após ser nomeado para o MEC, o filósofo Renato Janine Ribeiro foi “homenageado” com o corte de R$ 9,4 bilhões do seu orçamento. Está em palpos de aranha.
Enquanto isso o setor, como se fosse uma torre de babel, assiste estarrecido a uma série de propostas alternativas lançadas pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, como se tivéssemos tempo para esse exercício de redundância criminosa.
O atual ensino médio não agrada aos estudantes, nem serve ao povo, para repetirmos o que dizia o educador Lourenço Filho há muitos anos. Temos um esquema rígido, que provoca o afastamento dos jovens de 15 a 18 anos (cerca de metade deles encontra-se fora das escolas). As matérias do currículo, numerosas e estanques, não conversam entre si, o que levou o especialista Roberto Boclin a defender a tese de que se deveria adotar o ensino técnico como mecanismo inclusivo. É a melhor maneira de tirar os jovens da rua, do tráfico, e facilitar o seu encontro com as possibilidades do emprego.
O ensino médio deve oferecer habilidades e competências aos alunos segundo suas escolhas pessoais — e de acordo com as variações do mercado. É o que faz com sucesso o Sistema S desde a década de 50, com a boa tradição dos seus cursos profissionalizantes. O mesmo pode ser dito em relação aos Cefets. Não se entende por que esses modelos não foram generalizados, como aconteceu com sucesso em países como a Coreia do Sul, o Japão e a Alemanha. Aqui ainda existe uma resistência incompreensível.
Temos 507 mil docentes no ensino médio. Sabe-se que 40% desse total poderão se aposentar nos próximos seis anos, agravando o tamanho da crise. Faltam professores de Matemática, Física, Química e Biologia. Não há mestres formados em Física para ensinar Robótica. A Resolução 2/2015, do Conselho Nacional de Educação, procura corrigir as deficiências das licenciaturas, mas não prevê a formação de professores para o ensino técnico, como se ele não existisse (ou não devesse existir). Isso faz sentido?
Faltam investimentos na qualificação de professores. Faltam também laboratórios e bibliotecas. Diante disso, como oferecer aos nossos educandos a possibilidade de uma educação de qualidade? Como afirma a professora Terezinha Saraiva, “o ensino médio é uma preocupação nacional.”
O Globo, 25/09/2015
MUDANÇA NO COMANDO DA TAL
Fundadora da TAL, a produtora Malu Viana Batista assume a Presidência da associação. Ela, que já atuava como diretora executiva da entidade, substitui no cargo o cineasta Orlando Senna, que passa a integrar o Conselho Consultivo da TAL como presidente honorário.
Durante sete anos, Orlando comandou com entusiasmo e sabedoria o trabalho na TAL, em busca da aproximação dos povos latino-americanos por meio do audiovisual. Na nova função, continuará contribuindo para estabelecer pontes no nosso continente, fortalecer as TVs de interesse público e estimular a produção audiovisual de qualidade.
A renovação na Presidência acontece em um momento em que o trabalho da TAL está consolidado. A rede articula hoje mais de 300 associados em todos os países da região e pelo mundo afora, colaborando de forma significativa para estimular, reconhecer e divulgar o audiovisual da América Latina.
Confira abaixo a nota elaborada por Orlando:
Um novo ciclo
Com a agradável sensação de dever cumprido e um doce travo de saudade, deixo de exercer a honrosa função de diretor presidente da TAL-Televisão América Latina. Durante sete anos trabalhei com uma equipe de excelentes profissionais, todos entregues de corpo e alma, com paixão, pelo que fazem, pela missão de manter e ampliar a Rede de Televisões Culturais da América Latina, hoje com mais de 300 associados.
Deixo de exercer a função de diretor presidente por considerar encerrada a etapa de crescimento com a qual havia me comprometido e consciente de que a instituição entra em um novo ciclo, voltado para a otimização de seus processos cooperativos e de seu paradigma de integração latino-americana.
Agradeço o apoio que recebi dos diretores, técnicos e gestores da TAL e dos dirigentes e programadores das emissoras que compõem nossa rede em expansão. Agradeço à instituição pela carinhosa homenagem de nomear-me como presidente honorário do seu Conselho Consultivo. Abraço a todos que conformam o grande contingente da TAL, um abraço continental.
Orlando Senna
FRANCISCO E A REVOLUÇÃO DE TERNURA
Blog Refletor TAL-Televisión América Latina.
Itamar indica artigo de Orlando Senna:
Durante sua viagem a Cuba e Estados Unidos, o papa Francisco tratou de definir a situação caótica da atualidade planetária. Socialmente, politicamente e economicamente caótica. Mencionou a possibilidade ou a ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, com todas as letras, e explicitou o papel que lhe cabe como líder religioso: “romper muros, semear a reconciliação, estender pontes” (a palavra Pontífice tem a ver, exatamente, com construção de pontes). Exemplificou o “momento crítico da História” com alguns de seus aspectos dramáticos: exclusão social, migrações gigantescas, ideologias, conflitos religiosos, banalização da vida humana, indústria e comércio de armas, destruição do meio ambiente acelerando fenômenos climáticos de grande dimensão.
Pregou uma redefinição da política longe do campo de confrontos de interesses partidários e pessoais, a política como “expressão da necessidade de viver como um e construir o bem comum”. Pregou a superação de todos os preconceitos e “olhar mais além das aparências e do politicamente correto”, criticou o capitalismo (como faz desde o início de seu papado) e a “resistência à mudança” por parte dos regimes socialistas. Que nome poderia ser dado às mudanças de comportamento e visão de mundo defendidas por Francisco? Em uma de suas homilias em Cuba, juntou dois conceitos marcantes na cultura cubana para expressar uma síntese de sua nova evangelização: “revolução de ternura”. A revolução como necessidade de mudança imediata e o sentimento que seu compatriota Che Guevara adicionou a essa mudança (“sin perder la ternura”).
Nova Desordem Mundial
Francisco tenta enfrentar a crise civilizatória com a potencialização da espiritualidade. Uma crise que está sendo entendida, e é inteligente que assim seja, como uma reta final em direção à anomia, no sentido da ausência de princípios e regras, de uma sociedade global sem padrões de conduta ou submergida em conflitos e contradições entre as normas estabelecidas no passado. Ou seja, desorientação, alienação, perda de identidade, falta de objetivos claros de superação ou reconstrução. Dias atrás, referindo-se ao Brasil mas ampliando o diagnóstico à situação planetária, o deputado Chico Alencar, do PSOL, citou o conceito “interregno” utilizado por Antonio Gramsci: “o velho está morrendo e o novo não pode nascer; nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem”.
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