MANIFESTAÇÕES 016

Na pátria roubadora, ou arrombadora dos cofres públicos, a transferência da conta é sempre para a sociedade.

Enrolam, enrolam para nos dar o mesmo prato insosso de feijão com arroz e alguma pitada de pimenta para disfarçar. É sempre assim em vésperas de eleições, e as reformas aguardadas pela população no anseio de que ocorram votações limpas não saem. No momento atual, o maior inimigo do Brasil é o Congresso Nacional (Senado e Câmara) onde não existe mais divisão entre bons e maus, bonitos e feios. No geral, todos são maus e feios.

MANIFESTAÇÕES 029

Há muito tempo que a elite política lá do Alto do Planalto não teme a voz da opinião pública, nem tampouco as manifestações disformes. Quando a coisa aperta, é só dar um freio de arrumação e a lotação espremida pelo bruto sistema continua a mesma. Embromam pra lá e pra cá e no fim não sai reforma nenhuma eleitoral que corte a cabeça do monstro da corrupção.

As empresas no papel de mercenárias vão continuar financiando campanhas com outro jeitinho à brasileira, agora diretamente aos partidos que vão se virar quadrilhas. A prestação dos valores será em 72 horas depois das “doações”, ou melhor, dos empréstimos. Os programas nas rádios e emissoras de televisão terão menos tempo e outras “coisitas” mais que não vão ameaçar suas permanências vitalícias no poder. Floreiam e adocicam a pílula do sono da morte.

Todos festejam com pizzas e churrascos, inclusive o Superior Tribunal Eleitoral, dando uma chamuscada no eleitor, dizendo que agora ele vai ter mais condições e transparência para escolher seu candidato. Todos acreditam na anedota e repetem a papagaiada de sempre, de que o voto é o maior ato de cidadania, de muita importância para mudar o Brasil. A grande maioria é fisgada pela isca de plástico dourado.

O povo, a maioria inculta, marcha nas ruas e praças com bandeiras, cartazes e camisas, em pelotões diferentes como se uns fossem os bons e os outros os maus, quando os três poderes aproveitam dessa dicotomia irracional e emocional para manter suas benesses, enquanto nos deixam em farrapos como mendigos nas esquinas esperando a esmola cair na cuia.

O executivo indeciso e atabalhoado, vacila e mente. Segue com seu saco de Papai Noel cheio de 39 ministérios e mais de 20 mil cargos comissionados, além de uma pesada máquina de outras mordomias e benefícios robustos nos órgãos públicos e empresas estatais. Esfola a classe trabalhadora com impostos e preserva os anéis e os palacetes de seus czares. Agora mesmo prevê comprar material para os jantares da presidente num valor de 215 mil reais. São colheres, espátulas e outros utensílios para manter os alimentos quentes. O pobre vai de “quentinha” (quando tem) de alumínio barato que logo esfria.

Desmoralizado e comandado por dois suspeitos de ladroagens, o Congresso não tem moral de cobrar cortes de gastos do governo federal, ou até mesmo pedir o afastamento da presidente, se eles (os políticos malvados) aumentam seus polpudos salários, suas próprias verbas de gabinete, emendas e o Fundo Partidário.

No lugar de cortar despesas, o Senado vai trocar o carpete na área de circulação do plenário no valor de quase 600 mil e substituir a frota dos 83 carros de luxo de seus lordes (Renan tem quatro). O gasto vai pular de 1,9 milhão para 2,3 milhões.

O judiciário com seus altos salários e privilégios monárquicos, como ajuda de custo de moradias e alimentação, não desce do seu trono imperial, e a grande mídia não vai além daquilo que é do seu interesse. Apenas divulga a dilacerada reforma política com suas matérias declaratórias cheias de aspas.

Deixou de ser investigativa para cobrir boletins de ocorrências da Operação Lava Jato. Quase nada se questiona, quase nada se esclarece. Estamos mais precisando de um ajuste moral do que de um ajuste fiscal, porque, depois disso, a boiada continua subjugada aos mesmos donos.

Na falta de educação, cultura e conscientização política, negadas pelos governantes do passado e do presente, os brasileiros desgarrados e desiludidos apontam as forças armadas como a instituição mais confiável, vindo, em seguida, a internet, conforme pesquisa feita por um grupo de pós-graduação da Universidade Católica de Salvador durante as manifestações do último dia 16 de agosto.

Com um viés conservador, discordam da liberação da maconha; defendem a redução da maioridade penal; e concordam que os militares tomem o poder em caso de desordem, sem levar em conta outras posições de retrocesso social.  Pelo menos pedem o fim da “doação” de empresas para as campanhas, mas acreditam que o impeachment de Dilma é a solução para os problemas do Brasil.

Do outro lado, com um perfil dito de esquerda, mas cooptados pelo governo, as centrais sindicais, a UNE e os movimentos do MST se recusam a fazer uma crítica realista sobre os erros e os desvios éticos do partido que está no poder, inclusive jogam pedras contra as investigações da Operação Lava Jato do Ministério Público e da Polícia Federal.

Para atrasar a multidão esbaforida e esfomeada, eles vão jogando moedas falsas de ouro pela estrada, deixando o futuro cada vez mais distante. Sei que não vou mais alcançar o tão decantado país do futuro. Assim, os inimigos das reformas garantem seus postos e seus dotes neste cobiçado e disputado latifúndio, indiferentes aos vassalos e a plebe que ladram, mas não mordem.