UMA CONQUISTA ANUNCIADA -Carlos Gonzalez – jornalista
A dúvida deixou de existir. Hoje já se pode anunciar que a Copa do Mundo de 2014 ficará no Brasil. O primeiro indício se manifestou nos erros cometidos pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura, ao se tornar o 13º jogador do Brasil na vitória sobre a Croácia. Infectados pelo vírus da corrupção, futebol e política firmaram uma sólida aliança neste país, que leva o torcedor consciente a “jogar todas suas fichas” no time dirigido pelo “sargentão” Felipão, a única pessoa que viu o pênalti em Fred.
Nas 19 edições da Copa alguns fatores, nada convencionais, influíram no resultado final da competição. Em 1954, a Hungria, vítima da guerra fria, que separava, desde o final da II Grande Guerra, em 1954, as zonas sobre influência dos Estados Unidos e da União Soviética, foi ilicitamente derrotada pela Alemanha Ocidental; em 1962, Garrincha disputou a final contra a Tchecoslováquia, tendo sido expulso na semifinal diante do Chile; em 1966, os alemães ocidentais tiveram um gol não computado na final com a Inglaterra; em 1978, a ditadura argentina foi decisiva na conquista da seleção do país; em 1994, sob a presidência de João Havelange, a FIFA excluiu Maradona no meio da competição, facilitando a vitória brasileira.
O envolvimento da FIFA em ações de corrupção ocupa hoje boa parte do espaço que a imprensa dedica ao futebol. Com 110 anos de criada, a entidade teve apenas oito presidentes, sendo que alguns deles se perpetuaram no poder, uma prática inescrupulosa, acompanhada por confederações e federações esportivas no Brasil, a exemplo da CBF, do COB e da Federação Baiana de Futebol (FBF), cujos “cartolas” se mantêm nos cargos, distribuindo benesses com seus filiados.
Há uma vasta bibliografia sobre esse vergonhoso tema. Aconselho a leitura de “Jogo sujo” e “Jogo sujo, muito sujo”, do jornalista inglês Andrew Jennings, proibido de ter acesso a eventos promovidos pela FIFA, e “A Copa da Corrupção”, do brasileiro Duciran Farena.
Acusada de acolher uma série de escândalos, sendo que o mais recente foi a compra de votos pelo Qatar para promover a Copa do Mundo de 2022, a FIFA, pela palavra do seu presidente, o suíço Joseph Blatter, acaba de anunciar que nunca teve tanto dinheiro em caixa, graças aos patrocinadores do Mundial e aos benefícios recebidos do governo brasileiro, e prometeu, inclusive, elevar o brinde dos 209 filiados.
A reeleição de Blatter para um quinto mandato está assegurada, mesmo com a oposição dos europeus. O dirigente tem acenado com os dólares para os delegados de países sem nenhuma expressão no ranking futebolístico, como Cuba, Haiti, Sri Lanka e Congo, garantindo os votos necessários – o Brasil já deu seu apoio – em 2015. Sua primeira vitória foi aprovar o aumento da idade para se manter na presidência, que era de 70 anos – Blatter tem 78.
A corrupção estende seus tentáculos por países africanos e da América Latina. No Brasil, a imprensa noticiou na semana passada que o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, tem depositado US$ 100 milhões numa conta secreta em Mônaco. Sua filha, Joana Havelange (neta de João Havelange), declarou recentemente que, “o que tinha de ser roubado, já foi roubado”, ou seja, limparam o cofre.
Os fatos são evidentes, o que leva a crer que o hexa virá no dia 13 de julho. Há interesses políticos que infringem as regras do jogo limpo.