O torcedor de Salvador, adepto da cerveja, tem por hábito, quando vai ao Estádio da Fonte Nova, passar, antes ou depois dos jogos, nos bares que ficam na Ladeira da Fonte das Pedras e nas imediações do Fórum Rui Barbosa, para saborear a sua bebida predileta, sem se submeter à marca e aos preços que lhe são impostos dentro da arena. Outros preferem comprar sua bebida preferida  nos vendedores ambulantes que utilizam o isopor, e que geralmente fazem promoções após as partidas, para não levar a mercadoria de volta pra casa.

A uma semana do jogo de abertura da Copa do Mundo – Espanha x Holanda, dia 13 – quais as medidas que a FIFA irá adotar contra esses torcedores e contra esses pequenos comerciantes, desde quando a ditatorial Lei Geral, referendada por todos os Poderes da República, proíbe a venda de produtos não licenciados pela entidade, num raio de três quilômetros dos 12 estádios que vão receber as partidas? É uma pergunta que ainda não foi respondida. Provavelmente, como ocorreu no carnaval nos circuitos da folia, as latinhas indesejadas serão apreendidas.

No interior da Arena Fonte Nova, onde as placas com o nome de uma cerveja não licenciada foram retiradas, os torcedores poderão comprar uma “loura suada” nacional por R$ 8,00 e a norte-americana por R$ 13,00, um aumento de mais de 300% em relação aos distribuidores e mercados; o copo de água será vendido a R$ 6,00 e o refrigerante a R$ 8,00; e um saco de pipoca – pasmem os leitores – a R$ 10,00. O acarajé, uma das iguarias mais apreciadas da culinária baiana, vai custar R$ 8,00, sem vatapá e camarão. As quatro “baianas” selecionadas para montar seu tabuleiro na área externa do estádio oferecerão a cocada a R$ 5,00.

O Mundial no Brasil baterá todos os recordes. O maior deles, os US$ 4 bilhões que a FIFA levará para os seus cofres na Suíça. São US$ 800 milhões a mais do que arrecadou com a Copa na África do Sul, em 2010. Justifica a entidade dirigida por Joseph Blatter que os gastos com a competição no Brasil chegam a US$ 2 bilhões, incluindo os US$ 35 milhões que correspondem ao prêmio pago à seleção campeã; os US$ 48 milhões distribuídos com as federações dos países participantes; e os US$ 70 milhões doados aos clubes que cederam seus jogadores para as equipes nacionais.

A Lei Geral da Copa isenta a FIFA do pagamento de tributos no Brasil, além de permitir que quase 200  termos e expressões, muito populares em nossas cidades, sejam usados pelos brasileiros até o final da competição. Todos eles foram registrados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Cuidado, observe se não há um fiscal ao seu lado no momento em que pronunciar, por exemplo, a palavra “pagode”. Você pode ser penalizado com uma multa. A título de curiosidade, os “cartolas” da FIFA pensaram até em enquadrar o Elevador Lacerda, um dos cartões-postais de Salvador.

Os números ainda não foram confirmados, mas o Brasil gastou mais de R$ 8,5 bilhões na construção e reforma de 12 arenas. Numa recente entrevista concedida a uma revista européia, Blatter revelou que o ex-presidente Lula pleiteou realizar a Copa em 17 cidades, contrariando a FIFA, que insistia em oito. Além das 12 escolhidas, eram candidatas Belém, Campo Grande, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Maceió, Rio Branco, Teresina e Campinas.

No dia 30 de outubro de 2007, quando Blatter anunciou em Zurich o que todo o mundo já sabia, estavam presentes os prefeitos dessas cidades candidatas, além de 12 governadores, incluindo José Serra (São Paulo), Eduardo Campos (Pernambuco) e Aécio Neves (Minas Gerais), que hoje atuam na linha de frente do bloco de oposição ao governo federal. Passaram também para o outro lado, os ex-jogadores Romário e Ronaldo, e o escritor Paulo Coelho, presentes à efusiva comemoração na cidade suíça.