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:: 25/fev/2020 . 22:00

O CARNAVAL CULTURAL DE CONQUISTA E A EXPLORAÇÃO NOS PREÇOS

Quando se fala em carnaval pensa-se logo em rua onde as pessoas têm mais espaço para se movimentar, brincar e criar blocos. A festa em lugar fechado dá a sensação de se estar num clube. Tem seu lado bom porque nos faz lembrar dos velhos tempos dos bons carnavais, que não mais existem.

Fotos de Vandilza Gonçalves

Neste ano, aconteceu no Espaço Glauber Rocha, no Bairro Brasil, o Carnaval Cultural de Conquista (ano passado foi no Bulevar Shopping). Até aí tudo bem, mas o que assustou os participantes foram os preços cobrados pelas bebidas e comidas lá dentro.

Os barraqueiros cobraram cinco reais por uma latinha de cerveja de 350 ml porque eram obrigados a pegar o produto só na distribuidora dos organizadores do evento, sem falar nos trezentos reais pelo ponto. Muitos preferiram tomar sua bebida na rua por três reais a latinha.

Nos supermercados e nas distribuidoras da cidade, o consumidor consegue comprar uma lata por dois reais e até menos que isso em alguns lugares. Por cinco reais significa mais de 100% de lucro, o que já é muita exploração, mesmo levando em consideração os gastos com as bandas e pessoas de segurança e do som.

Fora a exploração que foi a principal reclamação, o Carnaval Cultural de Conquista ocorreu em clima de paz e tranquilidade, com boas músicas que animaram os foliões, com as bandas de sopro circulando no circuito do Glauber Rocha, com marchinhas dos tempos antigos.

Mesmo com atraso, no domingo o mini trio da banda do cantor e compositor Baducha, com sua jinga de carnavalesco e boas músicas, arrasou e não deixou ninguém parado. Pela sua apresentação no palco, Baducha pode fazer sucesso em qualquer trio elétrico de Salvador, bem melhor que muitas porcarias que desfilam nas avenidas da capital.

Mesmo com alguns problemas, principalmente no quesito exploração, a organização ofereceu uma opção de diversão para quem não pode viajar por falta de grana e terminou ficando em Vitória da Conquista que nestes dias tem pouco movimento nas ruas.

Só para lembrar, Conquista já teve bons carnavais que começaram lá pelos idos de 1927 e teve suas micaretas de sucesso, competindo com Feira de Santana, em finais dos anos 80 e na década de 90. No Governo do PT a festa foi minguando até se acabar. Somente de uns anos para cá surgiu o Carnaval Cultural, com um pouco de raiz nos eventos do passado.

Mais uma vez volto a falar que o país, na situação em que se encontra, com toda essa crise social, econômica e política, não deveria se dar ao luxo de ficar uma semana parada. Os empresários e governantes dizem que a festa dá lucro, o que é uma tremenda mentira. Salvador, por exemplo, tira dos cofres públicos mais de 150 milhões de reais, sem contar os gastos com logística e segurança.

O contribuinte paga um absurdo para os artistas famosos de sempre (todos afortunados com recursos públicos), que apresentam um lixo em termos de músicas, e o povo alienado no asfalto cobre seus “ídolos” de aplausos e elogios. Os arrastas chinelos pipoqueiros fazem tudo o que eles mandam, sem consciência de que estão pagando um preço alto.

Se for fazer um cálculo através do PIB do país, contabilizando as perdas diárias na produção, mais prejuízos no SUS com o aumento de acidentes e outras despesas do Estado na prestação de serviços na organização, o carnaval gera um déficit e serve para deixar o rico mais rico e o pobre mais pobre.

Por outro lado, a nossa mídia, que embolsa muita verba dos patrocinadores, não divulga nem um terço da violência da festa, para não passar uma imagem negativa para os turistas, principalmente os gringos. Multidões vão às ruas e às praças, chegando a mais de um milhão em alguns blocos.

Vá organizar uma manifestação contra os desmandos dos governantes na falta de educação e saúde, principalmente, aparece, quando muito, uns poucos milhares, e olhe lá. Ninguém mais quer saber de política, enquanto os políticos se esbaldam e fazem o que bem querem, defendendo seus próprios interesses. Exploram, oprimem e até roubam nosso suado dinheiro.

A BANALIZAÇÃO DO EMPODERAMENTO

Nos últimos tempos, a palavra empoderamento foi e ainda está sendo a mais comentada, principalmente por mulheres e negros, mas também a mais deturpada e banalizada. Nesse carnaval, então, foi um tal de empoderamento pra lá e pra cá, sem sentido e de maneira leviana.

Muitas mulheres acham que rebolar a bunda e mostrar as pernas em trajes praticamente nus é empoderamento. Deixar o cabelo crespo e fazer outros gestos é empoderamento. Qualquer coisa que se faz diferente, lá vem o tal do empoderamento que sai da boca, sem pensar e refletir.

Tenha consciência política, conquiste seus objetivos, seja ponto de liderança, se instrua, aumente seu nível intelectual, seu conhecimento, seu nível econômico e social, participe ativamente da vida política do país e aí pode dizer que está se empoderando. De um modo geral, vejo um povo submisso e oprimido, muito longe do empoderamento, tão banalizado.

Não é cabelo, bunda, pernas e colocar besteiras de sua vida nas redes sociais que lhe faz de empoderado. Aliás, depois da internet e do celular, as pessoas ficaram mais ridículas, fazendo selfies de si em qualquer lugar e passando para todo mundo ver, como forma de necessidade de se aparecer, de descarregar suas frustrações interiores.

Num país de tão profundas desigualdades sociais, de tanta miséria, falta de justiça para os mais pobres, de tanta homofobia, preconceito, misoginia e racismo, o empoderamento passa longe. Temos um presidente com todos esses predicados negativos, mas, mesmo assim, conta com apoio de milhões e recebe votos das mulheres, negros e homossexuais.

Se toda essa gente de que falo se sentisse empoderada e não votasse nele, não teria sido eleito e nem mais pensaria em reeleição. Não é fazendo seu corpo de objeto que vai lhe dar poder. Muito pelo contrário, lhe aniquila como gente. No Brasil dos paradoxos e de tantas contradições, as pessoas saem por aí falando muita coisa sem refletir e colocar seus 10% da cabeça para raciocinar.

Nos apropriamos muito do termo empoderamento, enquanto o governo que aí está manda uma banana para a nação e profere palavras escandalosas de preconceito contra as mulheres, os negros e índios, e a reação é tímida. Estamos sendo engolidos pela besta fera e nem percebemos.

Multidões abarrotam ruas, praças e avenidas dos carnavais de uma semana, e pouco estão ligando para o que está ocorrendo com o povo, com o seu país de milhões de analfabetos e excluídos. Só pensam no seu eu individual, não importando as catástrofes e tragédias que há pouco tempo aconteceram em Belo Horizonte e em São Paulo.

Vamos lutar por mais dignidade e falar mais de política, sem rancor, intolerância e xingamentos. Precisamos nos unir e não se dividir como ocorreu nos últimos anos. Estamos é nos proibindo de falar em política para evitar briga e morte. O empoderamento ainda passa longe. Não seja banal e fútil com as palavras.





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