Entra governo e sai governo (não importa aqui se de esquerda ou de direita) e nada de se criar uma política cultural para o município de Vitória da Conquista, apenas um faz de conta de uma Secretaria esvaziada sem orçamento que apenas realiza um São João e um Natal, e isto com um arranjo de recursos de outras pastas, ou uma verba extra da prefeitura. Os criadores, intelectuais e artistas ficam a ver navios, dependendo de iniciativas próprias, com muita luta e sacrifício.

É uma vergonha para a terceira maior cidade da Bahia, com cerca de 350 mil habitantes, e que completou, no último dia 9 de novembro, 179 anos de emancipação política (questionável a data). Uma vergonha para Conquista com tantos nomes de reconhecimento nacional e internacional em várias linguagens artísticas, e que ainda acumula em seu seio tantos talentos adormecidos sem apoio na literatura, na música, nas artes plástica, no teatro, no cinema e na dança.

Fotos de José Silva

FALTA DE UM EQUIPAMENTO

Aqui, para alguém fazer uma obra intelectual tem que sair mendigando. Se o poder público pouco tem dado importância à nossa cultura, imagina agora o setor privado, cujos empresários só pensam no lucro imediato em seus negócios e acham que investir em cultura é jogar dinheiro fora. Se uma pessoa apresenta um projeto ou oferece um produto, logo aparece alguém com a revoltante resposta de que vai dar alguma coisa, só para ajudar, como se ele também não estivesse se beneficiando. É também vergonhoso e desanimador ouvir isso.

Outro problema em Conquista é a falta de um equipamento à altura, como um Centro Multicultural, para realização de grandes eventos. Por muito tempo, desde o governo do PT, falou-se numa parceria com o Banco do Nordeste para criação de um projeto neste sentido, só que a própria política se encarregou de deixar o projeto apenas no papel. Depois disso voltou-se a comentar sobre a volta do banco nesta empreitada, mas, infelizmente, nunca mais falou-se nisso.

PLANO MUNICIPAL

Pela primeira vez, a Fundação Gregório de Mattos, através do seu presidente, Fernando Guerreiro, apresentou a uma comissão de vereadores, o Plano Municipal de Cultura para Salvador. Lembrei com inveja de Vitória da Conquista. Não temos aqui uma Fundação do tipo, mas bem que a próprio Câmara, ou outra entidade, poderia fazer o mesmo e tornar verdadeiro quem sempre acha e diz lá fora que Conquista é uma cidade cultural. Já foi na boa época da efervescência cultural dos anos 50 e 60. Aliás, o nosso legislativo poderia realizar uma sessão especial para discutir a situação precária em que vive a nossa cultura na cidade, carente de ajuda. Seria o primeiro passo para a estruturação de uma política de verdade.

Com duas universidades e mais de uma dezena de faculdades, a capital do sudoeste bem que já poderia ter uma política cultural e atrair para aqui festivais de músicas (concursos), feiras de livros, bienais de artes plásticas e outras atividades da área, colocando esses milhares de jovens e adultos para pensar, produzir obras e externar suas ideias. Tenho certeza que muitos nomes e muitos trabalhos inéditos vão surgir e ganhar o território nacional.

Dentro desse plano poderia ser viabilizada a instalação do Museu da Imprensa, numa das dependências cedidas pela própria prefeitura. Ao longo dos últimos anos, muita coisa foi perdida sobre a história da nossa mídia, mas creio que, com esforço e dedicação, muito material pode ser resgatado de colecionadores e do próprio Arquivo Municipal que ainda dispõe de muitos jornais antigo e papéis que fariam parte deste museu.

Guerreiro, da Fundação Gregório de Mattos, levou para os parlamentares da Câmara 10 diretrizes, 13 objetivos e 29 metas para serem realizadas. Quando aprovado, o documento torna-se lei, não importando quem assuma o comando da cidade. O nosso projeto pode ser construído a partir de um diagnóstico da cena cultural de Vitória da Conquista, observando suas realidades e potencialidades específicas do lugar.

OUVIR A CLASSE ARTÍSTICA

O vereador, ou comissão que for apresentar o plano, pode, antes da sua elaboração, dialogar com a classe artística para obter sugestões e ver as necessidades de cada setor. Na Câmara, o documento pode ser aperfeiçoado e até dividir a cidade em territórios de abrangência, porque a intenção é também fortalecer a cultura dita popular.

O estudo pode mostrar as vocações de Conquista, como os reisados, as expressões mais comuns na zona rural, assentamentos da reforma agrária, distritos e até as manifestações de matrizes africanas do candomblé. A partir daí poderia ser estabelecido o número de projetos a serem executados durante o ano. O plano deve contemplar a participação social e popular, além da cultura acadêmica.

Além da ampliação dos recursos públicos na cultura, o projeto deve mostrar também os caminhos para realização de parcerias com o setor privado, com os empresários da cidade e as entidades de classe, sempre elevando a capacidade de captação através do chamado custo benefício. No caso do poder público, a dotação orçamentária ficaria à mercê de cada gestor.

A Secretaria de Cultura seria obrigada, por lei, a ter um orçamento próprio para trabalhar através de seus editais, ou outras formas de promover a cultura do município durante todo ano. O que não se pode é ficar neste marasmo onde só temos, na verdade, uma cultura de calendário de São João e Natal.