O FIM DO CANGAÇO E SEUS MOTIVOS
Desde Jesuíno Brilhante, passando por Antônio Silvino a Lampião e Corisco, entre o final do século XIX até as quatro primeiras décadas do século XX, o cangaço durou mais de 50 anos e viveu seu auge a partir dos anos 1920. Alguns historiadores e pesquisadores falam do “arcaico” ao moderno e outros que houve o pré-cangaço e o cangaço, que vigorou até 1940.
Para entender melhor os motivos que levaram ao fim do cangaço no Nordeste temos que recuar um pouco no tempo quando nas primeiras décadas as forças volantes eram deficientes, despreparadas, mais violentas com a população, corruptas e os chamados “macacos” não podiam atravessar as fronteiras de outro estado em perseguição aos bandoleiros.
Até por volta de 1930, os vínculos dos cangaceiros com os coronéis, donos de engenhos, fazendeiros e os próprios políticos eram mais fortes e muitos contavam com os serviços deles para resolver encrencas com seus adversários. Isto tudo começou a ser desmantelado no Governo de Getúlio Vargas, com o fim dos “coronéis de patentes” que representavam a Guarda Nacional criada a partir de 1831.
Por outro lado, os estados nordestinos, em sua maioria, fizeram um pacto ou acordo de ajuntamento das forças para combater o cangaço, abolindo a proibição de uma força de uma província entrar na outra para lutar contra o banditismo. Esta medida contribuiu em muito para enfraquecer o movimento.
O autor da obra “Os Cangaceiros”, Luiz Bernardo Pericás, destaca que a quantidade de foras da lei no Sertão e Agreste nordestinos no final do século XIX e nas quatro primeiras décadas do século XX causou grande impacto econômico e cultural na região.
O pesquisador cita que teriam lutado, somente ao lado de Lampião, durante os anos em que esteve em atividade, mais de quinhentos bandoleiros. Há estimativas que tenha havido mais de mil baixas de ambos os lados, ou seja, polícia e criminosos. Optato Gueiros chega a afirmar que só em Pernambuco, onde o cangaço foi mais atuante, foram presos ou assassinados mais de mil cangaceiros.
Pericás aponta que os aspectos tecnológicos, logísticos, humanos e políticos tiveram grande contribuição para pôr fim ao cangaço. Após o assassinato de Lampião, o único “grande “ cangaceiro que restou foi Corisco, que não tinha as mesmas habilidades e qualidades do companheiro. Como a maioria se rendeu, o número de asseclas que poderia seguí-lo se reduziu em muito.
“Uma atuação maior da polícia, ofertas e garantias de vida para os que se entregassem, aperto ao cerco contra os bandidos, utilização de armas pesadas e modernas por parte das tropas, aumento de verbas federais para o combate aos quadrilheiros, a vontade política de Vargas para acabar com o banditismo que manchava a imagem do Brasil lá fora, a perda da força dos “coronéis”, a perseguição aos coiteiros, a presença da União nos assuntos do Sertão, foram alguns dos motivos para o término do cangaceirismo”.
A filmagem de Virgulino por Benjamim Abrahão Botto, mostrando ao mundo a existência de uma país supostamente “arcaico” e atrasado, fora da lei, que afrontava e desrespeitava a ordem jurídica vigente no novo regime, foi a gota d´água para eliminar os cangaceiros.
Luiz Pericás assinala ainda ser importante lembrar que muitos “coronéis” perderam seu prestígio e deixaram de apoiar os bandos. Muitos oficiais da polícia corruptos, que forneciam armas para os grupos, resolveram parar de negociar e seguir as ordens das autoridades estaduais.
A quantidade maior de soldados, todos dispostos e bem armados, dificultou a ação dos bandoleiros e fez com que muitos abandonassem o crime. Nos tempos passados, os “macacos” e sertanejos contratados para o combate recebiam pequenos soldos atrasados e, às vezes, até com dinheiro falso dos próprios governantes. Não existiam motivações por parte das volantes que eram mais violentas com o povo do que os próprios cangaceiros.











