:: 17/abr/2025 . 23:59
NO BONDE DA VIDA
(Chico Ribeiro Neto)
Tô em Salvador, final da década de 50. Pego nas Mercês o bonde da Companhia Circular Carris da Bahia para a Praça da Sé.
No Terminal da Sé, depois de despongar do bonde, compro um amendoim torrado na hora que vem naquele funil de papel que sempre esconde no fundo 2 ou 3 caroços.
Caminho com meu Vulcabrás novinho e vou para o Cine Excelsior “pegar uma tela”. Sabe quem sentou do meu lado depois do filme começado? A Mulher de Roxo, figura tradicional da Rua Chile. Estava vestida de noiva, segurava um buquê e ria muito durante todo o filme.
Saio do Excelsior (que soube vai ser reformado pela Prefeitura de Salvador), pego a Rua Carlos Gomes e como um pastel chinês no Good Day. Queijo ou carne? Só tinha duas opções.
Atravesso a rua e quase sou atropelado por uma camionete Studebaker. Xingo o motorista e ele me xinga. Quem mandou ficar olhando pra morena de calça fio Helanca que acabou de passar?
No Relógio de São Pedro compro na mão de um velho um monóculo que mostrava alguma cena picante de um filme impróprio até 18 anos. Mais adiante, vizinho à Igreja de São Pedro, um cara vendia revistas pornô, com desenhos de Zéfiro, que ficavam escondidas dentro de inocentes revistas “Manchete”. A senha era essa: “Tem catecismo?”
Passo na farmácia e compro um Colubiazol, um sal de frutas Eno, um Enteroviofórmio, uma Cibalena e um sabonete Eucalol, aquele que vem a estampa.
Na porta da Lobrás (Lojas Brasileiras) tem uma máquina de fazer sorvete. Tem sorvete de todas as cores, mas acho tudo de um gosto só.
Vixe! Ainda não fiz o dever de casa! Dona Cleonice vai pegar no meu pé assim que eu chegar. O Vulcabrás apressa o passo.
Faço o dever correndo, pois preciso ir encontrar com a turma na esquina das ruas Tuiuti e Gabriel Soares. As meninas passam pra lá e pra cá e adoro os cabelos e o andar de Tânia.
Antes de dormir, depois de rezar uma Salve Rainha, um Pai Nosso e uma Ave Maria, subo no muro pra ver uma balzaquiana, de califon e anágua, se preparando para o Soirée Dançante do Clube Fantoches da Euterpe.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
O SUCATÃO DA POLUIÇÃO
O nome é “Sucata da Esperança”, localizado no Sobradinho, próximo do Miro Cairo, mas não tem nada de esperança, só desgosto, estresse e tristeza. A empresa bem que poderia ser denominada de “Sucatão da Poluição” sonora das máquinas e criadora de fuligens que incomodam diariamente os moradores daquela comunidade. O movimento das máquinas é infernal e tira o sossego das pessoas, mas o pior de tudo é a fuligem que solta no ar e deixa as casas infestadas de sujeiras, sem contar as doenças respiratórias que a poluição provoca. A comunidade que fica em seu entorno já se reuniu e fez uma abaixo-assinado à prefeitura municipal solicitando a sua relocalização para outro ponto mais adequado, mas até agora não deu em nada. São montes e montes de sucatas e ferros velhos que servem de moradia para todo tipo de insetos, ratos e outros animais peçonhentos. O local também é uma fonte de criação de mosquitos da dengue. É um absurdo que até o momento o poder executivo, a Câmara de Vereadores, o Ministério Público e órgãos sanitários da cidade não tenham tomado nenhuma providência para retirar de uma vez aquele sucatão que tanto vem prejudicando e perturbando os moradores há muitos anos, mesmo com um pedido de socorro por escrito. Os moradores daquele bairro não aguentam mais e precisam ser ouvidos em suas justas reivindicações. As pessoas não suportam mais tanta sujeira. Resido em Vitória da Conquista há mais de 30 anos e confesso que não sabia que existia um sucatão daquela dimensão naquele local tão impróprio para o ser humano conviver diariamente em meio a tanta poluição. Aquilo ali é um atentado à saúde pública e já passou da hora de ser totalmente interditado.
UM PÔR DO SOL DE FEVEREIRO DA TERRA FRIA
Autoria de Fernanda Quadros
Poema extraído da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano” – editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
As tardes da terra fria
Se vão vestidas
De vermelho quente.
As noites chegam no quadrado
Redonda e branda
Pintam tudo de laranja cinza.
A escuridão derramada,
Afaga a saudade
Na imensidão estrelada.
Lá, a Terra Quente,
Distante
Aqui, a Terra Fria,
Desconcertante.
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