De acordo com estudiosos, as línguas semíticas formam apenas uma das seis ou mais ramificações de uma família de línguas muito maior que é a afro-asiática, localizadas na África. A própria subfamília semítica é africana (12 de suas 19 línguas sobreviventes estão restritas à Etiópia). As línguas afro-asiáticas surgiram na África.

Segundo o autor do livro “Armas, Germes e Aço”, Jared Diamond, talvez tenham surgido na África as línguas faladas pelos autores do Velho e do Novo Testamento e do Alcorão, os pilares morais da civilização ocidental, com as três maiores religiões cristã, judaica e islã.

SEM LÍNGUAS DISTINTAS

Destaca o cientista que, entre os cinco grupos africanos (negros, brancos, pigmeus, coissãs e indonésio), apenas os pigmeus não têm línguas distintas. O local de suas origens foi tomado por agricultores invasores, cujas línguas foram adotadas por pigmeus sobreviventes. O mesmo ocorreu com os negritos malaios e filipinos, que adotaram línguas austro-asiáticas e austronésia.

Muitos falantes dessas línguas, conforme seus estudos, foram subjugados por falantes das línguas afro-asiática, ou nigero-congoleses. As coissãs ficaram restritas à África meridional. Os coissãs e suas línguas, antes espalhados no extremo norte de sua atual distribuição na África, assim como os pigmeus, foram também subjugados pelos negros e deixaram legados apenas linguísticos de suas presenças.

A família linguística nigero-congolesa está em toda África Ocidental e pela maior parte da África subequatorial, não oferecendo nenhum indício do lugar onde a família se originou. No entanto, um pesquisador reconheceu que todas as línguas nigero-congolesas da África subequatorial pertencem a um único subgrupo chamado de banto, que abrange quase a metade das 1.032 línguas nigero-congolesa e mais da metade de seus falantes.

As línguas bantas mais características, e as não bantas acumulam-se na área de Camarões e da Nigéria Oriental. Todos esses dialetos ingleses, na concepção de Diamond, foram apenas um subgrupo de ordem inferior da família de línguas germânicas. Os demais subgrupos (escandinavas, alemãs e holandesa) aglomeram-se no noroeste da Europa. O inglês surgiu dessa localidade, e de lá espalhou-se pelo mundo.

Registros históricos dão conta que o inglês foi realmente levado de lá para a Inglaterra por invasores anglo-saxões nos séculos V e VI. Nessa linha de raciocínio, os quase 200 milhões de bantos, praticamente expulsos do mapa da África, surgiram em Camarões e na Nigéria. No passado, a área ocupada por pigmeus e coissãs era bem mais ampla, até serem dominados pelos negros.

QUANDO OS EUROPEUS CHEGARAM

A produção de alimentos resultou em altas densidades demográficas, germes, tecnologia, organização política e outros ingredientes do poder. Quando os europeus chegaram à África subsaariana, nos anos 1400, os africanos estavam desenvolvendo cinco grupos de culturas agrícolas, cada qual cheia de significados para a história desse povo.

  A partir de provas arqueológicas, sabe-se que essas culturas foram domesticadas, pela primeira vez, no Crescente Fértil (cereais, trigo, cevada) há cerca de 10 mil anos. Essas culturas se espalharam por áreas adjacentes do norte da África, de clima semelhante, e fincaram suas raízes para a ascensão da antiga civilização egípcia. Entre elas haviam culturas, como o trigo, cevada, ervilha, o feijão e as uvas. O sorgo e o milho se tornaram os principais cereais da maior parte da África subsaariana.

Muitas plantas silvestres são ainda cultivadas na Etiópia, como as consideradas narcóticos, o ensete parecido com a banana, o noog oleoso, usado para fermentar a sua cerveja nacional, e o cereal de minúsculas sementes chamado teff. Tem ainda o café que foi domesticado naquele país onde permaneceu restrito à sua terra até que teve êxito na Arábia, e depois no mundo inteiro.

Outras culturas que surgiram no clima úmido foi o arroz africano, bem como o inhame, o óleo de palma e o noz-de-cola que chegaram a outros continentes. Outros grupos do clima úmido foram a banana, o inhame asiático e o branco que já estavam disseminados na África subsaariana nos anos 1400. Tem ainda o arroz asiático que estava fixado na costa da África Oriental.

Outra surpresa é que todas as culturas nativas da África (as do Sael, da Etiópia e da África Ocidental) têm origem ao norte do equador. Nem um só produto agrícola africano tem sua origem no sul. “Nem os agricultores bantos, nem brancos, herdeiros de milhares de anos de experiência, foram capazes de converter plantas nativas do sul da África em cultivos.

SURGIU NO SAARA

O único animal que foi domesticado na África foi um pássaro parecido com o peru, chamado com galinha-da-guiné, ou galinha-d´angola. Os ancestrais selvagens dos bois, burros, porcos, cachorros e gatos domesticados eram nativos do norte da África, mas também do sudeste da Ásia. Tudo indica que os burros e os gatos vieram do Egito. A vaca pode ter sido domesticada na África, na Ásia ou na Índia. As ovelhas e as cabras africanas foram domesticadas no sudeste da Ásia, bem como as galinhas e os cavalos (Rússia) e os camelos, provavelmente na Arábia.

De acordo com Diamond, a produção de alimentos não começou no antigo Vale do Nilo, terra dos faraós e das pirâmides. Na verdade, conforme pesquisas arqueológicas, a produção de alimentos na África surgiu no Saara. Hoje, a maior parte do Saara é tão seca que nem grama nasce, mas entre 9000 e 4000 a.C., o Saara era mais úmido, tinha muitos lagos e caça em abundância. A atividade pastoril por lá é anterior a 5.200 a.C., antes da chegada da produção de alimentos no Egito.

As culturas do Novo Mundo, como o milho e o amendoim foram introduzidos na África depois do começo do tráfego transatlântico de embarcações (1492) e difundidas ao longo das rotas do comércio, quase sempre carregando seu nome em português, ou outros estrangeiros