Sem essa de que o povo semita foi o primeiro a ocupar as terras palestinas. É só verificar na história para concluir que não é assim. Quando Abraão se deslocou da Mesopotâmia para lá, encontrou várias tribos habitando o território em pequenos reinos. O mesmo ocorreu com os judeus quando saíram do Egito com Moisés. Tiveram que lutar para expulsar vários grupos que ali já viviam no chamado espaço eleito por Deus.

Os tempos se passaram e a região foi alvo de várias invasões estrangeiras, como dos egípcios, babilônios, persas, gregos, macedônios, romanos, otomanos e ingleses quando, depois da II Guerra Mundial, juntamente com os norte-americanos, foi criado o Estado de Israel, em 1948. De lá para cá, os árabes-palestinos que também ali habitavam foram encurralados e oprimidos num canto. Por tudo isso, os judeus sempre se colocaram como vítimas do holocausto do nazismo. No entanto, nunca deixaram de exercitar a supremacia.

É bom que se esclareça que os judeus não foram os únicos massacrados pelos nazistas. Ciganos, homossexuais, classes mais inferiores, comunistas e outras categorias foram exterminados pelo ódio nazista. Com relação ao novo país tomado na força através de guerrilhas, outros conflitos aconteceram e a paz nunca foi alcançada porque Israel não admite um estado palestino.

Há pouco tempo o governo ultradireita israelense aprovou uma lei racista, reconhecendo a supremacia judaica sobre os demais povos, rememorando exatamente os princípios nazistas. Essa tendência vem se registrando nos Estados Unidos (Donald Trump), em países da Europa e até aqui mesmo em nosso Brasil onde a elite procura dificultar a implementação de políticas sociais.

Talvez por se considerarem sempre eleitos divinos na história, o parlamento aprovou uma lei definindo Israel como estado-nação do povo judeu. As minorias do território (21% de árabes e 1,6% de druzos) e a oposição judaica acusam o governo de racismo. O documento do legislativo não fala de igualdade. Por coincidência, na Declaração de Independência não consta a palavra democracia, mas o termo lido pelo ex-premier David Bem Gurion, ao anunciar a criação do estado, diz que Israel patrocinará o desenvolvimento para o benefício de todos os habitantes.

GOVERNO TEOCRÁTICO

Como um assunto puxa o outro, se bem que do lado de cá dos trópicos, com outras nuances, deixa-me espantado declarações do bispo-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, ratificando posições do seu tio Edir Macedo, bispo fundador da Igreja Universal.

Segundo Crivela, “Nós temos que mudar esse país. É um sacrifício grande a gente estar na política, mas não podemos fugir, pois só o povo evangélico pode mudar esse país. Entre nós não há corrupção. Pegamos a oferta do povo, levamos ao escritório, contamos tudo e construímos igrejas. É esse Brasil evangélico que vai dar jeito na pátria”.

Há anos venho comentando entre amigos e em discussões esparsas sobre o avanço dos evangélicos com o propósito político de criar no Brasil um governo teocrático conservador de extrema-direita. Sempre me contestaram e acharam que não existe este perigo. Agora, as coisas estão ficando bem mais claras e escancaradas.

Em seu discurso, Crivela reafirma o projeto “Plano de Poder”, descrito no livro de Edir Macedo. Nele, afirma que Deus tem um plano político para os fieis da Igreja Universal e para todos evangélicos aliados. O plano é governar o Brasil. “Para que o grande projeto de nação pretendido por Deus se realize, é preciso mexer com a política, sem pudor”.

De 2010 para cá, de acordo com o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cada ano os evangélicos ganham mais 7% de fieis, enquanto os católicos perdem 1%. O próximo censo será em 2020, mas, segundo especialistas, em cerca de mais 10 a 15 anos o Brasil não terá mais maioria católica. Talvez, antes disso, esse plano de um novo povo eleito no poder já estará em prática.

Engana quem pensa que os avanços dos regimes teocráticos estejam apenas nos países do Oriente Médio. Eles estão bem aqui perto de nós, mas subestimamos. Os evangélicos hoje estão em todas as partes, nas bancadas dos legislativos em geral, nas escolas, nos presídios, nos partidos políticos, no campo e nas periferias das cidades, catequizando e fazendo a cabeça da maioria inculta e analfabeta, inclusive praticando intolerância religiosa.