UMA DISPUTA DE BASTIDORES
NA PRÓXIMA SEMANA COMEÇA A DISPUTA ELEITORAL PARA ESCOLHA DO NOVO PAPA E CHEFE DO ESTADO DO VATICANO, MAS AS CONVERSAS E AS NEGOCIAÇÕES DE BASTIDORES JÁ ESTÃO BEM ADIANTADAS E ENTRE ELES JÁ EXISTEM OS PROVÁVEIS.
Durante uma semana recebemos uma enxurrada de comentários, notícias e informações sobre a vida e os ensinamentos do Papa Francisco em vida, todos na direção para que sejamos mais humanos, de superação das adversidades; que tenhamos paz, amor e compaixão para com os pobres e refugiados; que cuidemos bem do meio ambiente; e que a Igreja é para todos e deve estar de portas abertas.
Francisco progressista gastou suas sandálias ou sapatos, comeu poeira entre o povo mais humilde e foi contra os poderosos que com suas ganâncias e armamentos massacram os mais fracos com suas guerras mortíferas e escravizam a humanidade com seu capitalismo selvagem predador. Como Cristo em suas andanças pela Palestina, disseminou seu evangelho que desagradou a muitos.
Nossa torcida é para que as pessoas absorvam e pratiquem pelo menos um quinto ou um décimo, quem sabe um centésimo do que ele mandou que fizéssemos para que o mundo seja bem melhor. Não queremos este mundo que aí está cheio de violências, ódios, preconceitos, intolerâncias, egoísmos e hipocrisias.
Uma emissora televisiva, em seus 60 anos (não fala que apoiou a ditadura civil-militar e de suas tendências políticas de poder), propaga que o futuro já chegou. Que futuro cara pálida? Este em que vivemos tão desigual de milhões de famintos? Lemos muitos textos de superação, que os chamam de lindos, mas escondem o outro lado das angústias humanas.
Bem, tenho o hábito de fazer uma volta ou preâmbulo para entrar no âmbito da questão propriamente dita que é a nova passagem do substituto do Papa Francisco. Como sempre, muitos fazem suas apostas nessas ocasiões, mas quase sempre erram porque é uma incógnita. Lá dentro, como se diz no popular, o “bicho pega”.
Depois dessa trilha de despedidas com milhões de adeuses saudosos onde Francisco conseguiu unir os sentimentos humanos de renovação e mudanças para o amor, vamos agora para uma etapa de disputa nos bastidores pelo poder. Será que lá dentro no conclave entre os cardeais, todos levam as palavras de Francisco em consideração? Ou prevalece a politicagem do mais sagaz como ocorre na seara profana? O senso religioso fica fora? Não acredito nessa de Espírito Santo ser o mentor.
Eu mesmo não estou certo que venha um papa progressista que dê prosseguimento ao trabalho de abertura dessa nova Igreja que Francisco tentou construir em vida, apesar da resistência dos conservadores, muitos dos quais o olhavam como esquerdista comunista revolucionário.
Não se enganem porque as opiniões contrárias são fortes e pode haver uma regressão, o que seria um desastre para a Igreja Católica que depois de 12 anos conseguiu ganhar terreno para os evangélicos; ser mais inclusiva; aumentar o número de fiéis e adeptos. Teve o mérito de aproximar aqueles que estavam fora.
Oxalá esteja errado e sendo pessimista, mas a tendência é que tenhamos uma bússola com o ponteiro indicando para o centro ou de volta ao conservadorismo. É uma eleição indireta que nos lembra o colegiado do Congresso Nacional que escolheu Tancredo Neves antes do pleito direto popular democrático. Não existe democracia nessa Igreja.
Não há dúvidas que Francisco fez muito para transformar as mentalidades fechadas, mas a Igreja Católica ainda permanece arcaica, conservadora e distante da realidade desse mundo moderno. Apesar de tanta gente ruim, indiferente à dor dos outros e desumana, o ser humano anseia por mudanças.
Cheios de mitras, báculos, solideis, cintas, batinas vermelhas e tronos de reis, o clero católico com seus rituais litúrgicos pomposos ainda passa uma impressão de distância e de coisa velha medieval. O mesmo se pode dizer dos ortodoxos e dos anglicanos, ainda mais linha dura.
Por que não uma eleição direta com candidatos estabelecidos onde diáconos, padres, monsenhores, bispos, arcebispos, cardeais de todos países e determinadas lideranças da Igreja pudessem dar seu voto? Não seria mais democrático, mas a Igreja, infelizmente, continua velha com seus dogmas e tradições medievais.
Como Estado, o Vaticano tem uma eleição indireta para escolher seu chefe. Além do mais, é um pleito sem transparência, às escondidas de portões fechados. Para os católicos sobra aquela ansiedade de ficar de olho na chaminé da Basílica. Se for branca, “habemos papa”. Seu perfil vai nos dizer se o papa vai ser conservador ou progressista.