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:: 8/abr/2025 . 22:35

O SOM DA MADRUGADA

Se você dorme mais tarde, lendo, escrevendo ou fazendo algum trabalho intelectual, já parou para observar o som do silêncio da madrugada, mesmo que seja numa cidade grande agitada? Se nunca fez, experimente e vai descobrir muitas coisas interessantes. A madrugada é um laboratório de experiências.

Lá fora você pode até ouvir o farfalhar das árvores no balanço do vento, o latido do cachorro mais distante na rua ou a voz de um vizinho, o trânsito menos barulhento dos carros, um chiado vindo de longe, a pisada de algum solitário e, o mais poético, são os pingos da chuva calma, sem raios e trovões, nem tempestades!

Ao som da madrugada se escuta até o zunido de uma bala saindo do cano de uma arma. Nesse caso, o tema vira assassinato na madrugada. É um bom enredo literário de romance policial que dá até filme. O pior são as discussões agressivas entre homem e mulher que, às vezes, terminam em morte. Os dramas familiares! Os indivíduos da madrugada são testemunhas das violências.

É na madrugada, depois da meia noite, que se ouve batidas estranhas de fantasmas e “almas penadas” em casas mal-assombradas. Qualquer estalo é motivo de pânico ou medo de ser um ladrão ou coisa de outro mundo. Você fica mais atento a tudo que se move ao seu redor.

– Vejo outras coisas mais interessantes e picantes – disse um amigo meu que também vive da insônia e o chamam de corujão da meia noite. Conheci muitos que não conseguem dormir e já se habituaram com isso. Pode ser esquisito, mas é um requisito peculiar e privilegiado.

Ele me reportou, com seu tom jocoso e sarcástico, sobre a vida de um casal que mora um pouco abaixo do seu apartamento e tem noites certas de fazer sexo com aquele escândalo erótico. Naqueles tempos bicudos, só maiores de 18 anos podiam saber disso.

– Bicho, a mulher morena baixinha é uma histérico e, na hora do vamos ver, grita alto, geme e pede sempre mais e mais. É uma gulosa! Não para, não para – repete a mulher em tom exagerado como se estivesse sozinha num acampamento desértico.

– Aquilo me deixa doido! – Já sei, não precisa falar. Tem palavras que não são convenientes citar aqui, senão moralistas vão me levar para a inquisição. Você que está acompanhando esse papo deve estar imaginando os termos de amor, amor, amor, vai mais!

– É uma loucura, cara, também escuto esse tipo de coisa e me lembro de um casal com esse estilo tarado de transar quando morava em Salvador num prédio de apartamento. Batia o silêncio da madrugada e aí o pau comia. Outros são bem mais discretos na cama.

– Certos animais também têm esse comportamento selvagem dos humanos. Quem já não ouviu uma transa de gatos no telhado! Um negócio de louco! A Gata solta miados e sons estridentes. Eu que diga aqui em minha casa. É tanto barulho que me atrevo a interferir, mesmo sabendo que não tenho esse direito de empatar o amor ou a f… de ninguém.

Posso até ser processado e preso pelos defensores dos direitos animais por importunação e constrangimento ao amor (os humanos não ficam fora), mas é demais e não consigo suportar os chiados que me atrapalham esse tipo de som da madrugada.

Se os sons do silêncio da madrugada urbana chamam a atenção e lhe dão mais inspiração para escrever, filosofar consigo mesmo, refletir e poetar, agora pense como não é no campo, principalmente em noite de lua cheia que prateia o terreiro do seu chão. Lembrei dos uivos dos lobos, coiotes e até do lobisomem.

Lá você curte mais o vento bater na comieira da casa, o casco do cavalo, do burro ou da mula na estrada com seu cavaleiro, no galope cadenciado, o ranger dos galhos das grandes árvores na mata, e o sertanejo percebe de longe quando alguém se aproxima da sua casa.

Posso dizer que é um som mais poético porque já vivi por muito tempo na zona rural, inclusive naqueles tempos que não havia energia elétrica e nem televisão, quando muito um rádio cheio de ruídos. Meu pai sentia até quando um animal se aproximava do nosso rancho. São coisas do homem do campo.

TEMPOS DIFÍCEIS PARA OS JORNALISTAS NA COMEMORAÇÃO DESSE SETE DE ABRIL

  Para comemorar a data, de 7 a 11 de abril, o Sindicato dos Jornalistas-Sinjorba e a Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj estão realizando a Semana do Jornalista, com uma vasta programação de reivindicações, como o diploma obrigatório e a criação do piso salarial nacional. Uma comitiva está em Brasília para uma série de encontros com os três poderes. A mobilização é denominada de “Ocupa Brasília”.

Lembro quando comecei a dar os primeiros passos na profissão como revisor, no início de 1973, ano da minha graduação como bacharel em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Eram tempos difíceis em pleno cerco da ditadura civil-militar, anos de chumbo contra a liberdade de expressão quando os homens da farda faziam o papel de cão de guarda para censurar os veículos de comunicação, especialmente o jornal impresso onde atuava.

Apesar de toda mordaça, os jornalistas eram mais combativos e participativos e tudo faziam para driblar a opressão dos generais. Os sindicatos, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e as associações brasileiras de jornalismo (ABIs) eram mais fortes e unidas. Naquela época, nem se falava de “fake news”, que passaram a brotar com a chegada da internet e, consequentemente, das redes sociais, o chamado jornalismo virtual onde grande parte da atividade foi banalizada, e a maioria perdeu a responsabilidade maior de informar.

Nada contra a evolução tecnológica onde a notícia é mais veloz que uma bala e pode ser mortal se for infundada. Passados mais de 50 anos, onde cada um se acha jornalista (não precisa ser diplomado), o neoliberalismo de mercado estreitou os espaços da profissão, e poucos que optaram pela área e passaram a frequentar as escolas seguem a carreira. Caiu o nível de formação e aumentou o noticiário de matérias infundadas, mal apuradas pela falta de uma maior investigação.

Quando aqui cheguei, em 1991 fui o primeiro jornalista formado da cidade e logo passei a assumir a diretoria regional do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), chegando a vice-presidente. Atualmente, como graduado sou o decano e, durante essa longa caminhada, já enfrentei muitos desafios. Continuo escrevendo porque é o alimento da minha alma e, se tivesse que recomeçar, seria novamente jornalista.

DIA DO JORNALISTA

Toda essa abertura, em forma de “nariz de cera”, é para lembrar do 7 de abril, Dia do Jornalista (quinta-feira), infelizmente pouco comemorado. Mesmo no período duro do regime militar, existia mais união e celebração com aqueles memoráveis encontros, dos quais muito ajudei a realizar. É dia de reflexão e luta por mais espaço e reconhecimento do diploma, bem como contra a violência contra os profissionais, da qual fui uma vítima.

Vamos dar uma pequena pausa nesse comentário para focar propriamente no Dia do Jornalista, pouco lembrado pela própria classe (casa de ferreiro, espeto de pau). O dia foi criado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e foi estabelecido por alguns motivos, como numa reunião de coletiva de imprensa. Uns dos motivos é que no dia 7 de abril de 1908, foi criada a própria ABI. Idealizada pelo jornalista Gustavo Lacerda, a associação situa-se no Rio de Janeiro, e é um centro de ação que tem como objetivo assegurar os direitos à classe.

Também no dia 16 de fevereiro foi comemorado o “Dia do Repórter”, que está ligado a um episódio da nossa história do Brasil. A data foi designada em homenagem ao jornalista e médico Giovanni Battista Líbero Badaró, morto no dia 22 de novembro de 1830. Ele participou de diversas lutas a favor da Independência do Brasil. Era proprietário do jornal “Observador Constitucional” e um dos principais motivadores da liberdade de imprensa, hoje tão vilipendiada, bem como a nossa Carta Magna.

Libero Badaró teve uma morte misteriosa, mas, segundo a história, inimigos políticos atentaram contra a sua vida. O falecimento dele causou descontentamento à população e culminou na abdicação do trono de Dom Pedro I, justamente no 7 de abril de 1831.   

Só para reportar a história, a primeira faculdade de Jornalismo foi criada em 1912, na Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos. A faculdade foi fundada por meio da doação de dinheiro do jornalista Joseph Pulitzer, que ajudou a tornar a imprensa conhecida como o quarto poder e que dá nome ao principal prêmio concedido a jornalistas premiados.

No Brasil, a primeira escola de jornalismo foi criada em 1947. Atualmente, a instituição chama-se Faculdade Gásper Liberó e localiza-se no prédio da antiga Gazeta, na Avenida Paulista.

TEORIA E PRÁTICA

Quando adentrei na redação era um dos poucos graduados pela Faculdade de Jornalismo da Ufba. Existiam os antigos jornalistas provisionados no Ministério do Trabalho. Na década de 70, o diploma passou a ser exigido e isso criou uma animosidade entre os chamados velhos e novos. Dizia-se que jornalismo era uma vocação, uma forma de dom que se aprendia no dia a dia da notícia, o que não deixava de ser uma verdade, mas a formação teórica com a prática fortalece mais a profissão e dar mais credibilidade.

A briga gerou uma disputa de ações na justiça para derrubar a obrigatoriedade do diploma, isso, se não me engano, entre as décadas de 80 e 90. A ação caiu nas mãos do Supremo Tribuna Federal, em 2009. Recordo que um dos ministros, contrário ao diploma, fez uma leviana comparação entre a culinária e o jornalismo, dizendo que a pessoa para cozinhar não precisava ter diploma. Aquilo foi de uma insanidade sem tamanho.

As faculdades continuaram emitindo os atestados profissionais, como a própria Facom, da Ufba, a Uesb que começou seu curso em 1998 (fui um dos incentivadores e ajudei na sua estruturação) e tantas outras particulares. Mesmo com a não obrigatoriedade do diploma, vejo que as empresas dão mais preferência aos formados, valorizando a formação escolar e o conhecimento.

Para marcar a data, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os sindicatos dos jornalistas do Brasil e profissionais da área costumam fazer reflexões importantes sobre a carreira, o mercado de trabalho, os salários e o futuro da profissão.

O curso de Jornalismo é ministrado nas principais universidades do país durante quatro anos ou oito períodos. Os estudantes têm aulas teóricas, como teoria da comunicação, história da imprensa, ética e legislação, história da arte, práticas, como telejornalismo, jornalismo impresso e webjornalismo.  

O jornalista é o profissional que informa fatos à sociedade, um contador e fazedor de histórias, com responsabilidade perante a opinião pública. Ele pode atuar em meios de comunicação, como rádio, TV, jornal, revista e internet. Também é comum que jornalistas trabalhem como assessores de comunicação e imprensa e, mais recentemente, em mídias digitais, tais como redes sociais e blogs.

TEMPOS DIFICEIS E O ESTRESSE

De acordo com pesquisa entre cerca de sete mil profissionais no Brasil, 66,2% dos jornalistas se sentem estressados. Dos entrevistados, 34,1% foram diagnosticados clinicamente com lesões por esforços repetitivos; 40,6% sofreram assédio moral no trabalho; 11,1% assédio sexual. A categoria é formada por maioria de mulheres (58%), inclusive negras. Esses dados carecem de atualização.

É esse, mais ou menos, o perfil do jornalista brasileiro. Da amostragem, 44,2% disseram que seus esforços no trabalho não são reconhecidos. Os dados ainda confirmam que houve uma redução do volume de vínculos empregatícios pela CLT, bem como, 24% prestam serviços de freelancers, MEI, pessoa jurídica ou sem contrato. De toda classe, 42,2% trabalham mais que oito horas por dia. O estudo da Fenaj (Rede de Estudos sobre Trabalho e Identidade dos Jornalistas), de agosto a outubro de 2021, conseguiu coletar mais de sete mil respostas, sendo 6.594 válidas.

 

 

 





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