:: 7/abr/2025 . 23:26
UM GRANDE ATIVISTA CULTURAL
Sempre tenho repetido aqui por várias vezes que Vitória da Conquista tem sido uma cidade ingrata quando se trata de reconhecer personalidades que contribuíram com a cidade, prestando seus serviços, especialmente na área da cultura. A impressão é que Conquista esquece facilmente das pessoas que ajudaram a construir sua história.
Mais um grande ativista cultural nos deixou neste domingo para segunda-feira sem o devido reconhecimento desta sociedade e até mesmo dos fazedores de arte e cultura. Trata-se de Massimo Ricardo de Benedictis, nascido em Poções, em 1939, com passagem por Salvador, Rio de Janeiro e se fixando aqui em Conquista.
Estive em seu velório, no Salão do Pax Nacional e em seu enterro no cemitério Parque da Cidade no final da tarde de ontem (dia 07/04/2025). Senti a ausência de representação da Câmara Municipal de Vereadores e do próprio poder executivo, como da Secretaria de Cultura, bem como de membros de entidades culturais. Nem falo de empresários porque já é uma categoria que está se lixando para a cultura.
Quando cheguei em 1991 para chefiar a Sucursal do Jornal A Tarde aqui encontrei o Ricardo Benedictis, como eu o chamava, militando na imprensa escrita e atuando em projetos culturais através da realização de eventos, se não me engano como coordenador de Cultura no governo de Pedral.
Lembro muito bem de Ricardo como diretor do Centro de Cultura e também como presidente da Academia Conquistense de Letras da qual ainda sou membro (ausente nos últimos anos) pela sua indicação, defendendo a obra de Graciliano Ramos.
Um dos seus maiores legados para a posteridade foi a criação do Festival de Inverno da Bahia, realizado por vários anos no Centro de Cultura. Além da música, que era o carro-chefe e que revelou muitos artistas locais, da Bahia e até de outros estados, o chamado FIB abrangia diversas linguagens, como teatro, literatura (participei de coletâneas), dança e artes plásticas.
Ao lado dos amigos Nápolis, Mozart Tanajura, Carlos Jheovha, Ezequias, dentre outros, Ricardo movimentava a cidade promovendo a nossa cultura e divulgando o nome de Conquista lá fora. O jornalismo também era também sua paixão quando lançou diversos periódicos, com suas matérias, comentários e artigos.
Por onde passou, Benedictis fez muito mais pela nossa cultura como um resistente, muitas vezes sem o apoio do poder público, sobretudo em Vitória da Conquista onde, talvez, tenha ficado por mais tempo. Portanto, por tudo que fez em prol do setor merecia e merece uma consideração à altura do seu feito.
Por sermos polêmicos por natureza, tínhamos nossas divergências de ideias e políticas, mas estávamos sempre discutindo as questões culturais de Vitória da Conquista. Como jornalista, fui também um crítico do seu trabalho em certas ocasiões, mas nunca fomos inimigos.
Em certos pontos a gente concordava que era a falta de maior presença do poder público, inclusive no sentido de ajudar os artistas a realizar seus trabalhos. Outro ponto era a necessidade de uma união de todos ativistas culturais visando fortalecer cada vez mais a nossa cultura. Achávamos que um dos males era o individualismo e a maneira torta de cada um se sentir o dono da cultura.
Por várias vezes realizamos aqui em nosso Espaço Cultural A Estrada, onde é palco do nosso sarau de quinze anos, tardes sabáticas memoráveis de cantorias e bate-papos acalorados com seu filho Ricardinho, Luciano e outros amigos. Como todos sabem, Ricardo era músico, compositor, poeta, jornalista e um grande ativista cultural que vai ficar em nossa lembrança.
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