UMA HISTÓRIA TRÁGICA QUE ESTÁ SENDO SEPULTADA PELOS BRASILEIROS
“Se queres prever o futuro, estuda o passado”. Esta reflexão do filósofo e pensador Confúcio (alô, meu amigo Dal Farias), encaixa muito bem para o nosso país, mais precisamente com referência à ditadura civil-militar-burguesa de 1964, ou o golpe de 1º de abril, que os generais preferem chamar de revolução de 31 de março.
O mais grave é que a data passa no esquecimento e não está sendo estudada pelos nossos jovens. A não ser algumas mensagens escassas nas redes sociais, a mídia em geral, que tem o papel fundamental de ser guardiã da liberdade, deixou de comentar o assunto. O que se observa é um silêncio sepulcral como se um período tivesse sido apagado da história.
Não vi nenhuma matéria em Vitória da Conquista, uma das cidades mais atingidas pela opressão quando em seis de maio daquele ano, 100 pessoas foram presas como comunistas e subversivas e o prefeito José Pedral Sampaio, eleito pelo povo, teve seu mandato cassado por 20 anos.
Ainda recentemente, entre 2022/23, o Brasil sofreu uma tentativa de golpe militar, justamente porque deixamos de estudar o passado, como disse Confúcio. A nova geração desconhece o episódio estúpido de 1964 e milhares, entre eles um bando de extremistas, negam que tenha existido ditadura. Como se não bastasse isso, ainda foram às ruas defender uma intervenção militar.
Tudo começou lá atrás quando Getúlio Vargas, acossado pelos opositores, inclusive pelo imperialismo dos Estados Unidos, se suicidou em 1954. Como não deu certo, os militares ficaram espumando de raiva, com sede de vingança na boca. Não deixaram de montar suas tramas e complôs para assaltar o poder.
Nos idos dos anos 60 (renascimento da educação e da cultura), com o despertar dos movimentos sociais e das lutas camponesas, que contaram, no início, com apoio do setor mais progressista da Igreja Católica, aquele desejo de revide voltou à tona. Era a época da Guerra Fria e o socialismo avançava. O inimigo maior era o comunismo, principalmente depois da revolução de Fidel Castro que tomou Cuba das mãos dos capitalistas depravados que depredavam a ilha.
A história é longa, mas vamos nos ater à renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961 e do vice João Goulart que deveria assumir o cargo. Foi um embate muito forte e um dos destaques nessa luta foi o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, com sua campanha da legalidade. Goulart tomou posse na condição de aceitar um sistema parlamentarista.
Foi aí que os generais linha dura aproveitaram para rasgar a Constituição, contando com apoio da própria Igreja Católica, da grande mídia (Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Jornal do Brasil), da classe média e outros setores, todos manipulados pela CIA e o governo norte-americano que alegavam não querer mais uma Cuba na América Latina. Tudo uma armação porque o Brasil jamais seria um país comunista.
O país vivia numa ebulição política e social. Os movimentos avançavam em favor da melhoria do povo e dos trabalhadores. Tudo que se fazia a favor dos mais pobres era coisa de comunista. A agitação era geral entre os estudantes com seus protestos nas avenidas. Essa categoria e os líderes das comunidades eram os maiores protagonistas.
Nos bastidores, os quarteis se armavam e arquitetavam o golpe. Só esperavam o momento certo para darem o bote fatal, justamente quando Jango fez um forte pronunciamento com os sindicalistas Na Central do Brasil pelas reformas de base no início de 1964. Suas palavras deixaram os conservadores e os ianques em pé de guerra.
Os governadores de Minas Gerais, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros e da Guanabara, Carlos Lacerda colocaram mais lenha na fogueira da inquisição. Foram grandes mentores para derrubar o governo.
Em 31 de março, o general de pijama Mourão Filho desceu de Juiz de Fora com sua tropa desarmada até o Rio de Janeiro para derrubar o Governo Constitucional. Foi uma trapalhada que deu certo porque ainda não contava com apoio de outras unidades do exército e das forças armadas, como São Paulo e Rio Grande do Sul. Ele surpreendeu até os golpistas de plantão Humberto Alencar Castelo Branco, Geisel, seu irmão Orlando e Costa e Silva.
O tempo passava e João Goulart ficou indeciso, mesmo seus apoiadores dizendo que não haveria golpe. Ainda prometeram bombardear os soldados de Mourão pelo alto. Houve muito vacilo e o ato do general de pijama apreçou os planos. Foi uma injeção de ânimo ao Castelo Branco. O plano foi antecipado.
Como houve mudança na estratégia, tudo se consolidou no 1º de abril (dia da mentira) quando o covarde senador, presidente do Senado, Auro de Moura Andrade decretou a vacância do poder do presidente da República, mesmo sabendo que Goulart ainda estava em território brasileiro, no Rio Grande do Sul. Às pressas, assumiu Ranieri Mazzilli, até a eleição indireta do general Humberto Castelo Branco pelo Congresso Nacional.
O combinado era ele ficar até 1965, mas os generais foram endurecendo o regime com os protestos das ruas pela liberdade e de “abaixo a ditadura”. Ele ficou e a turma da linha dura, barra pesada de algozes, foi prendendo gente, torturando, matando e desaparecendo com os corpos.
Em 13 de dezembro de 1968, com o general Costa e Silva, veio o golpe dentro do golpe, com o chamado AI-5, quando todos direitos humanos foram abolidos, até o habeas corpus. Foi o início dos anos de chumbo com a posse do general Garrastazu Médici (69 a 74), o carniceiro sanguinário que mandou torturar e matar presos políticos e qualquer um que se atrevesse brigar pela liberdade.
Para resumir, tivemos mais de 20 anos de opressão e de dor. Mesmo assim, ainda tem gente maluca que desconhece essa história macabra e saem com cartazes nas praças e ruas pedindo uma intervenção militar, isto é, outra ditadura.
Nada de anistia para os que lideraram e fizeram parte da tentativa de um golpe em oito de janeiro de 2023 quando invadiram os três poderes, para criar uma desordem e provocar a entrada das forças armadas.
Se o golpe tivesse sido concretizado, o primeiro a ser preso era o capitão ex-presidente. No lugar assumiria uma junta militar. Os seguidores extremistas não passam de inocentes úteis ignorantes da história. Basta de anistia, como a de 1979 que perdoou os cruéis torturadores da ditadura de 1964.











