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O REI INVENTOR DO MONOTEÍSMO E O SACERDOTE MOISÉS GUIA DOS HEBREUS

Dizem os historiadores que os faraós do Egito reinaram por cerca de três mil anos. Nesse tempo, tivemos reis famosos, um negro, uma mulher, tiranos unificador como Menés, construtores de pirâmides, como Quépes, Quéfren e Miquerinos e tantos outros. Foi uma civilização que demorou ser reconhecida pelo mundo ocidental. Isso só começou a acontecer graças a Napoleão Bonaparte, os cientistas e arqueólogos a partir dos séculos XIX ao XX.

Um desses reis se destacou por ter sido chamado de rebelde ao se dedicar à poesia e à cultura e inventado o monoteísmo numa terra onde existiam milhares de templos com mais de três mil deuses. Trata-se de Akenaton, o intelectual devoto de Aton, o círculo solar, o Deus Único. Seus sucessores desfizeram suas obras e restauraram o politeísmo.

Este faraó mudou até as artes plásticas e os artistas tiveram a liberdade de mostrar suas feições ao lado da sua célebre esposa Nefertiti acariciando os filhos sob as bênçãos do sol. Ele viveu por volta do ano mil a.C. e compôs lindos hinos em louvor a Aton, como narra o jornalista e escritor David Coimbra em sua obra “Uma História do Mundo”.

Akenaton escreveu um encantador poema onde deixa claro o perfil do novo deus. Como seu sacerdote, Moisés absorveu sua ideia monoteísta e levou ao povo hebreu. A Bíblia situa o Êxodo no reinado de Ramsés II que nasceu cerca de sessenta anos depois do desaparecimento de Akenaton. Sobre essa passagem, o arqueólogo C.W Ceram fez uma comparação elucidativa em “Deuses, Túmulos e Sábios”.

Além de sacerdote, provavelmente Moisés foi governador da província do Alto Egito onde viviam os hicsos e hebreus, semíticos invasores do Egito. Akenaton foi sucedido pelo seu genro Tutancâmon, imagem viva do deus maior chamado Amon. Foi ele quem mandou apagar as imagens do sogro. Os sacerdotes foram perseguidos e banidos, inclusive Moisés. Sem seus seguidores, não havia mais lugar para ele no Egito. Depois de assassinar um feitor do faraó, Moisés se refugiou em Madiã, na Arábia Saudita. Lá se casou com Séfora, filha de Jetro. Com a mulher teve dois filhos.

“Moisés fundiu a religião de Jetro com a de Akenaton e, dessa forma, fundou o judaísmo”. A nova religião foi encenada no Monte Sinai através dos Dez Mandamentos, um resumo das leis existentes no Egito e na Mesopotâmia dos sumérios. Outras passagens copiadas foram a lenda do Dilúvio e do nascimento do próprio Moisés, encontrado num cesto no rio Nilo.

Das leis, Moisés adaptou apenas para dez, e o primeiro foi “Amar a Deus sobre todas as coisas”. “Foi um grande lance de marketing”. O primeiro mandamento é garantidor dos demais. A grande façanha dos Dez Mandamentos foi o monoteísmo, derrotado no ocidente pelo próprio cristianismo, que é politeísta.

No cristianismo, as divindades cristãs são guiadas por um triunvirato, Pai, Filho e Espírito Santo. Abaixo desses foi recuperada a antiga deusa dos tempos do matriarcado, do nomadismo e das religiões orientais como o mitraísmo. A Virgem Maria assume milhares de formas a depender de cada lugar com nomes para todo gosto.

Depois das deusas poderosas, abaixo vem uma legião de santos, os semideuses responsáveis por cada dia e cada área da atividade humana. Existem mais de dez mil deles. “O cristianismo é a nova vitória dos tradicionais sacerdotes egípcios politeístas”.

Dentro do próprio cristianismo existem também a culpa herdada dos hebreus com o estabelecimento dos Dez Mandamentos. Os hebreus inventaram o pecado e daí nasceu a culpa. A não obediência dos mandamentos acarreta punição e o cumprimento oferece recompensa.

“A culpa é a argamassa da civilização. Se o homem não sente culpa, ele pode fazer o que bem quiser. Se fizer o que quiser, não poderá viver com os outros. Não haverá civilização. A civilização depende da coerção dos instintos” – diz o autor do livro, ao acrescentar que entre os hebreus, a culpa foi especialmente vitoriosa.

Para entender o sucesso da culpa entre os hebreus, basta imaginar quem eram eles quando saíram do Egito e quem era o homem que os levou deserto a fora. Os hebreus eram escravos e Moisés o sacerdote de um deus caído, de uma religião derrotada lá atrás quando Akenaton se foi.

SE LIGAR, PEGA

(Chico Ribeiro Neto)

Se ligar pra apelido, aí é que pega. Infância e adolescência lembram muitos apelidos.

Na turma dos Aflitos, em Salvador, havia 3 irmãos: “Banha”, “Manteiga” e “Linhaça”. E duas irmãs magrinhas batizadas de “Irmãs Tripa”.

“Cascavel” era o maior driblador do bairro. Era um magro abusado que depois de um drible gritava “viu, puta!” e tomava logo uma porrada. Outro dia encontrei “Cascavel” num mercadinho e o tempo foi curto para muitas recordações.

Junto à minha casa (Rua Gabriel Soares, 33, Ladeira dos Aflitos) moravam os 3 irmãos “criados com vó”, que eram brancos como a porra e viviam do colégio pra casa e de casa pro colégio. Nunca entraram em nosso “baba” nem viram as Irmãs Tripa dançar o cancan de noite no passeio.

“Tristeza” era o melhor goleiro da rua. Voava nos paralelepípedos, se ralava todo, mas pegava a bola. Esse apelido foi porque ele nunca sorria, só se era escondido.

Tinha ainda “Antisardina”, apelido dado porque ele tinha muitas espinhas no rosto e usava um creme que a galera cismou ser “Antisardina, o segredo da beleza feminina”, como dizia o comercial.

O irmão de “Antisardina”, magro e comprido, era “Rui Palito”. Uma vez um menino ganhou do pai um par de luvas de boxe, de profissional, e resolveu promover uma noitada de lutas. Uma luva para cada lutador, pois só havia um par. Um sorteio definiu quem ia brigar com quem num único round de 3 minutos. Eu fui contemplado com “Rui Palito”, braço mais comprido do que o meu. Eu tomava soco no meio do nariz toda hora e perguntava aflito ao juiz quanto tempo ainda falta pra acabar e ele gritava: “Ainda tem um minuto”. Foram os 3 piores minutos de minha vida.

Lá em casa meus irmãos tinham seus apelidos:  Luiz era “Zarara” ou “Bico de Anum”, Zé Carlos era “Gaguinho” e Cleomar era “Leonam” (marca de máquina de costura; ele sabia “costurar” bem no “baba”) e eu cheguei a receber o apelido de “Francis, o burro que fala”, um desenho animado. Mas felizmente não pegou.

“Pé de Valsa”, um menino que teve paralisia infantil e ficou com uma perna atrofiada (pisava na ponta do pé esquerdo), jogava bem no “baba” e dava passes preciosos. Havia ainda “Baleia”, “Bandeira”, “Zoinho”, “Atum”, “Gaiola”, “Géo Beleza”, “Mondrongo”, “Biúca”, “Diabo Louro”, “Ratinho”, “Maciste”, “Cara de Caçamba”, “Bola Sete”, “Já Morreu”, “Calunga” e “Narigolé”.

E ainda tinha “Carroça”, “Zé Leso”, “Batatinha”, “Pinduca”, “Zebrinha”, “Já Morreu”, “Arranca Toco” e “Jair Pinico”.

Luiz, meu irmão mais velho, conheceu o valente “Zeca Diabo” e me contava: “Ele joga uma navalha como ninguém. A navalha fica amarrada no dedo dele com uma borrachinha. Numa briga, ele joga a navalha, ela vai aberta, corta o sujeito e volta fechada pra mão dele”.

Na praia da Ribeira, na década de 60, havia um time de futebol formado por pescadores e canoeiros que tinha dois zagueiros imbatíveis: “Pé de Grelha” e “Gabinete”. O Bahia tá precisando dos dois.

 

 

UM CAOS NO TRÂNSITO DO CENTRO

Se você vai ao centro de Vitória da Conquista, seja de carro ou de ônibus, antes tome um banho de descarrego, faça uns minutos de meditação ou se prepare psicologicamente, porque, na verdade, vai passar muita raiva e ficar estressado. O trânsito no centro da cidade se tornou um caos, principalmente na Praça Barão do Rio Branco e imediações, como Praça do Índio, Francisco Santos, Dois de Julho, Régis Pacheco e Siqueira Campos nas proximidades do Banco do Brasil. É uma loucura, meu amigo, sem falar na falta de vagas na Zona Azul e até nos estacionamentos que cobram cinco reais por uma hora. Nesses locais deveria ser proibido o trânsito de ônibus e veículos pesados que até fazem desembarque de cargas em lojas, complicando mais ainda a circulação de carros pequenos. A Praça Barão do Rio Branco, por exemplo, deveria ser um calçadão, bem como a travessa (esqueci o nome) onde estão localizados a lotérica e o sebo de livros. Os urbanistas modernos falam tanto em humanizar as cidades oferecendo mais espaços livres para as pessoas, mas o poder público faz o contrário. Cadê aquele projeto do shopping a céu aberto de Conquista? Fizeram alguns calçamentos e nada mais. A Barão do Rio Branco ficaria mais aprazível com o plantio de árvores, mais bancos e até quiosques do que aquele amontoado de carros. O Terminal da Lauro de Freitas é outro inferno com toda aquela poluição visual e sonora, sem falar dos gases tóxicos dos combustíveis, mas os lojistas, de mentalidade atrasada, adoram o ambiente contaminado de fuligens. O ar no centro está ficando irrespirável.

NA ESTRADA DA VIDA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Pela estrada da vida,

Aperto o cinto em cada saída,

Às vezes as vistas ficam turvas,

Temo o labirinto das curvas,

Reduzo a marcha,

Alivio o acelerador,

Olho quem vem na frente,

No retrovisor tem gente,

Assim avanço em meu destino,

Tentando cicatrizar minha dor,

Lembrando do meu amor,

Que partiu e me deixou.

 

Na estrada da vida,

Adoro as retas,

Sigo pelas setas,

Atento às encruzilhadas,

Sinto a sensação do vento,

Nas poeiras do tempo,

Aprecio a paisagem,

Cada qual em sua viagem,

E lá vai o homem com sua enxada,

Acolá o vaqueiro em seu gibão,

Toca uma rês desgarrada,

Cortando o agreste do sertão,

Como fazia meu velho pai,

Que cumpriu sua travessia,

Como o existir previa.

 

Na estrada da vida,

Uns apressados exageram,

No asfalto da velocidade,

Tudo depende da idade,

Outros preferem o compasso,

Deixar na terra seu traço,

E com fé carregar sua cruz,

Ora ao farol do escuro,

Ou iluminado pela luz,

Viajando no passado,

No presente apegado,

Mirando suas metas no futuro.

 

O NATAL PAGÃO, AS REFORMAS E UM CONGRESSO TRAIDOR DO NOSSO PAÍS

Às vezes costumo misturar os assuntos para falar das mazelas do nosso país que não consegue ser sério e é tão contraditório e paradoxal. Não temos políticas públicas para reduzir as profundas desigualdades sociais, mas um assistencialismo “barato” e caro que faz de conta que as pessoas pobres e miseráveis estão mudando seu nível econômico e político de vida. Tudo não passa de uma farsa.

Fora de contexto, o Natal virou uma festa pagã como nos tempos dos celtas e romanos que se esbaldavam na passagem do solstício no hemisfério norte durante as colheitas de suas safras. O cristianismo, que não é nada monoteísta, cheia de lendas (o Antigo Testamento) copiadas de civilizações passadas, como dos sumérios e egípcios, agora vê seu Natal do nascimento de Cristo se tornar num ritual de paganismo. Será a maldição da lei do retorno?

O profano voltou como naqueles tempos remotos condenados pela Igreja Católica. Nesse período do ano, as pessoas hoje só pensam em se refestelar em seus banquetes com suas mesas recheadas de comidas e bebidas. Embriagam-se no luxo das imagens luminosas para idolatrar seu deus Papai Noel. No afã dos presentes, os pobres se endividam no consumismo que entope nosso planeta de lixo. As propagandas comerciais são as vitoriosas.

AS REFORMAS “SALVADORAS”

Deixemos de lado essa passagem natalina pagã e mergulhemos na outra das reformas onde cada uma é tida pelos nossos representantes parlamentares como a salvação do Brasil. É um filme repetido e arranhado. Enquanto isso, o Brasil nunca é passado a limpo.

Agora é a vez da tributária, toda complicada que tem até imposto do “pecado” – lembra até dos 10 Mandamentos e da religião que criou a culpa – mas, contraditoriamente, isentam as armas de taxação. Tudo muda para ficar no mesmo lugar, ou piorar, como a trabalhista escravagista e a previdenciária.

Ninguém – falo desse Congresso Nacional reacionário, traidor da pátria – quer fazer uma reforma eleitoral séria e completa (não as emendas tapa buracos) que evite, pelo menos, o crime do derramamento de dinheiro na compra de votos, como aconteceu em Vitória da Conquista, o maior de toda sua história.

Muita gente está sendo presa pelo Brasil a fora, mas não vejo nenhuma apuração aqui em Conquista para apurar e investigar os fraudadores diplomados recentemente, que se aproveitaram do eleitor fraco de espírito, cúmplice da mesma laia. Todos fazem de conta que o pleito foi democrático e gerador de mudanças sociais. Esse sistema arcaico e manipulador não passa de um “conto do vigário”.

Do outro lado, o governo federal decreta um pacote fiscal de cortes nos gastos do orçamento para ajustar suas contas, mas o Congresso traidor, um dos mais caros do mundo, fica intocável e nada de reduzir suas benesses, penduricalhos, mordomias, verbas de gabinete e indenizatórias.

Com raras exceções, não passam de um bando de imorais que se acham na moral de falar em moralidade fiscal. Uma dessas imoralidades são as emendas parlamentares, verdadeiras fontes de corrupção e arrombamento dos cofres públicos. Elas nem deveriam existir, mas se o governo falar nisso será imediatamente cassado.

Para as forças armadas, o poder executivo – na verdade não governa, mas obedece ao Congresso traidor e cancro da nação, cheio de extremistas nazifascistas –  anuncia um arremedo de cortes nas despesas, tudo para agradar os generais desocupados que aqui e acolá estão conspirando um golpe de Estado, inclusive com ajuda da elite burguesa e do agronegócio que devasta o meio-ambiente e mente botar comida em nossa mesa.

No mais, seguimos nas campanhas de doações de caridade ou esmolas de quilos de alimentos, crentes cristãos de que estamos fazendo a nossa parte para melhorar o Brasil irremediável desde os tempos coloniais. Com essas ações assistencialistas de dar o peixe sem ensinar a pescar, procuramos nos redimir de nossos pecados para ganhar o reino dos céus, sempre à custa dos miseráveis.

Os que podem seguem curtindo suas festas em suas casas, bares e restaurantes, com um celular na mão e um carro, exibindo seus prazeres dionisíacos da carne e adorando o deus Baco. O negócio é ter uma moeda para pagar a passagem ao barqueiro que irá lhe levar para o outro lado da margem do rio fumacento e turvo de almas penadas.

Aqui na terra brasis, assim vamos seguindo nossas vidas monótonas e marrentas como se não houvesse morte, tentando enganar a nós mesmos de que tudo é belo e maravilhoso. Não temos mais domínio de nós mesmo e vivemos na base do estouro da boiada em disparada, como na música do nosso compositor Geraldo Vandré.

As violências brutais, as corrupções e os crimes hediondos passam nos noticiários e outros voltam na mesma velocidade como se fossem roteiros normais que não mais nos incomodam. Apenas dizemos que é assim mesmo e que tudo isso faz parte da vida, como esse Congresso traidor a conduzir nossos destinos.

 

 

 

CASCOS E FERRADURAS

– Nem venha que hoje estou nos cascos!

Conforme rezam as lendas, isso nos faz lembrar do cavalo do guerreiro Átila, rei dos hunos, cujos cascos queimavam até a grama por onde passava, ou o do Gengis Khan, imperador dos mongóis. Terríveis também eram os cascos dos cavalos dos romanos durante as batalhas pela conquista de territórios, e nem precisava ser de inimigos.

Nunca esqueci de um “coronel” que passava a galope em seu cavalo em frente à nossa porta na estrada de cascalho, sempre à noite. Eu ainda era menino e ouvia de longe o bater cadenciado dos cascos do seu cavalo. Deveria ser um Manga-larga-Machador dos bons com suas ferraduras.

Estar nos cascos entende-se estado de irritado e nervoso com a pessoa mais próxima do seu convívio ou por causa dos seus problemas do dia a dia. Tem o sentido também de estar firme, forte e bem arrumado ou arrumada no vestimento e na aparência. São coisas do nosso português e até de expressões regionalistas.

Quando se fala em cascos vem logo em nossa cabeça a associação com ferraduras fabricadas pelos antigos ferreiros para serem colocadas nos cavalos, burros, mulas e até em jumentos. Outra vez nos vem à mente os tempos dos tropeiros e dos filmes dos caubóis do velho faroeste. Por onde eles cortavam sempre existia um ferreiro à beira da estrada, numa vila ou cidade.

Para nos ajustar com a realidade do nosso mundo atual, vou ficar mesmo nos cascos dos irritados e dos brutos, tipos cavalos. Percebeu, meu amigo, como quase todo mundo hoje anda nos cascos? Para essa gente só estão faltando as ferraduras. Acho até que está na hora de ressuscitarmos a profissão de ferreiro e estabelecer um em cada esquina de rua e avenida.

Basta alguém pisar no casco do outro, seja dentro de um ônibus ou em qualquer lugar, para sair faíscas de palavrões e estupidez. Tem caso até de morte. Quanto maior o tamanho da cidade, maior ainda a irritação e a violência. É o progresso que nos fazem assim.

–  O pior, cara, é quando a pessoa já levanta nos cascos para enfrentar a “guerra” lá fora – disse um amigo meu numa prosa de bar, depois de umas tantas geladas.

Ele emendou o papo de que o lugar onde existe mais pessoas nos cascos é no trânsito. Basta um pequeno acidente, uma sinalização errada ou uma cortada de mal jeito, para o indivíduo sair lá de dentro do seu carro com uma pedra na mão, uma arma para atirar no outro ou nos cascos mesmo, com ferradura e tudo.

– Ah, cara, você esqueceu da política travada nos dias atuais, principalmente quando os cascos partem dos radicais fundamentalistas e extremistas de direita! Têm aqueles empedernidos de esquerda também! Haja cascos de intolerância!

– É bicho, não podemos deixar de fora também a religião, a questão de gênero e raça! Imaginou se houvesse uma lei onde cada casco irritado fosse obrigado a andar de ferradura? Pensou o bater de ferraduras nas calçadas, praças e nos escritórios? Os ferreiros iam “matar a pau” e ganhar muito dinheiro.

– Coisa seria nas salas dos patrões exploradores irritados, só com a cabeça no lucro! E tome cascos com ferraduras nos pobres dos funcionários!

– Vamos deixar esse papo de cascos e ferraduras de lado e tomarmos nossa cerveja sossegado, porque já estou vendo um sujeito ali na mesa que está nos casos com a companheira.

– Pode até ser coisa de ciúmes, ou porque ouviu a nossa conversa sobre cascos e ferraduras.

RECORTES DA LITERATURA NO SARAU A ESTRADA COLOCAM CONQUISTA EM FOCO

Poderia falar em pedaços, retalhos ou até mesmo reflexões, mas preferi recortes porque fica mais apropriado por se tratar de um estudo em formação sobre a história da literatura em Vitória da Conquista que requer uma pesquisa com maior profundidade para fechar seu ciclo. É como um trabalho artesanal feito de recortes de tecidos, elaborado por muitas mãos até se tornar numa bela colcha.

Olha que não coloquei a preposição de Conquista, se bem que temos uma literatura regional, mas não é o nosso caso. Para ir direto ao que nos interessa, esse tema tão importante foi debatido no último sábado à noite (dia 14/12/24) pelo Sarau a Estrada, no Espaço Cultural que leva o mesmo nome, com diversas pontuações dos participantes que se penduraram no gancho da pesquisa feita pelo filósofo e escritor Nélio Silzantov, que nos brindou com sua contribuição.

Tudo que ia dizer aqui sobre o que ocorreu no Sarau acerca do assunto e as manifestações culturais já foram expostos pelo nosso estradeiro Dall Farias no grupo. Para mim restaram poucas palavras e fui obrigado a mudar de gênero, não aquele em que vocês estão pensando, mesmo porque a idade não mais me permite e cairia no ridículo.

Estou me referindo ao gênero literário. A professora e poetisa Viviane Gama disse que dá belas risadas com minhas crônicas e fez rasgos de elogios. Será que alguém também rir, ou tem outro olhar crítico, como a formação histórica da literatura em Conquista?

Em meu entendimento ainda temos recortes e pontuo que a nossa literatura está associada ao surgimento dos jornais impressos no início do século XX, precisamente em 1911 com o periódico “A Conquista” feito por Bráulio de Assis Cordeiro Borges e José Desouza Dantas, literatos que instalaram a “Tipografia Minerva” trazida em lombo de animais de Caetité. Gostaria de assinalar aqui também o nome do poeta “Maneca Grosso”, do jornal “A Palavra”, que defendia os pesduros na guerra contra os meletes que tinham como defensor “O Conquistense”. Não podemos desassociar uma coisa da outra porque foram os jornais que revelaram os nossos escritores e escritoras, se bem que naquela época praticamente só tinham homens na literatura.

De volta ao nosso Sarau, o Nélio se fez presente, mesmo distante, através do seu texto no Zap e na voz de áudio, graças aos recursos da nova tecnologia da internet que costuma falhar no momento preciso da transmissão e nos faz passar aquele sufoco, mas no final deu certo e ouvimos suas considerações.

Entre mortos e feridos, todos se salvaram dando suas opiniões e chegando à conclusão que muito ainda tem que ser feito para a costura completa da colcha formativa da literatura em Conquista, como incluir os contemporâneos, essa leva de entusiastas da cultura.

Temos hoje um grande movimento em torno de novos lançamentos de livros, em sua maior parte obras poéticas, talvez inspiradas pelo clima e ambiente de uma “Suíça Baiana”. Sentimos ainda a carência de outros gêneros, como ensaios, pesquisas históricas, romances, contos e crônicas. Precisamos apurar mais a qualidade e o conteúdo dos textos, mas é um momento fervilhante que está acontecendo na cidade, sem o devido apoio do poder público e privado.

Vejam que estou sempre fazendo um ziguezague para agradecer o trabalho da comissão no sarau, ao colaborador Nélio com sua pesquisa, um estudo aberto como já disse o nosso Dall, a todos presentes (alô professor Itamar Aguiar, nosso maior frequentador) e àqueles que fizeram suas considerações. Não podemos deixar de destacar o ambiente de confraternização com um farto e suculento jantar do nosso chefe cuca Dall, com suporte de Cleu Flor, Nete, Vandilza e Cleide. Tivemos ainda a comemoração das aniversariantes Karine e Rosângela.

Não podemos deixar de ressaltar aqui as motivações dos compositores e músicos Baducha, Manno Di Souza e Jaime Cobra com suas cantorias de viola, os causos de Fozim de Anagé, as declamações poéticas autorais de Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves, Dall Farias, Viviane com sua homenagem intitulada “Estradeiros”, fazendo referência ao sarau que já completou 14 anos e foi ganhador do troféu Glauber Rocha, do convidado Carlos Maia com sua verve filosófica da vida e outros novos membros que estão se juntando ao nosso evento.

Pretendia apenas fazer uma crônica sobre o sarau, mas fico devendo para a próxima. Registro aqui o agradecimento de Nélio pela sua contribuição, apesar de reconhecer que é uma pesquisa em andamento. Torço para que nossa literatura seja ainda mais apreciada, valorizada e que possamos muito aprender sobre ela. Nélio afirmou vir acompanhando nosso trabalho de longe através das postagens nos blogs e nas redes sociais.

Sobre o áudio do Nélio, que a tecnologia picotou um pouco, quero aqui fazer algumas citações da sua fala a respeito da sua pesquisa. Ele próprio diz que não é conclusiva, mas ao longo do tempo vai lograr êxitos e deixar seu legado de conhecimento e saber. Na ocasião aproveitou para apontar alguns textos a respeito do tema, como “por uma cena literária local e sem fronteiras, a formação da literatura conquistense – primeiras questões, o centenário de uma obra esquecida – marcos históricos e desmemorias”.

Em suas reflexões ele indaga quem eram os escritores conquistenses e quais eram suas obras. Nos estudos por ele realizado ressaltou ter encontrado a Ala das Letras Conquistenses e das Academias de Letras. Indaga ainda qual foi a primeira obra publicada em Conquista. Isso implica responder em qual período histórico surgem esses escritores. Qual a visão estética e ideológica?

Para Nélio, falar sobre a caatinga e o sertão conquistense não é somente descrever sobre o coronelismo, a seca, a fome e a miséria. Existem outros elementos. Existe escritor que foge dessa visão estereotipada ou as únicas imagens são aquelas cantadas por Elomar e projetadas nos filmes de Glauber?

Quando falo de Formação da Literatura Conquistense, de acordo com Nélio, estou pensando nessa palavra para além do seu sentido comum. Não basta identificar os nomes dos escritores e períodos que eles surgem no campo literário, mas buscar compreender os modos como a literatura se constituiu, seus valores morais e intelectuais, o papel social e o impacto que ela tem na sociedade.

Ainda em seu comentário, pontua o centenário do livro de Ernesto Dantas, intitulado “Traços Crassos”, publicado em 1924. Ele também lembrou do livro “A luz desce da estrela”, de Laudionor Brasil, em 2001, em comemoração ao centenário do seu nascimento (1901).

Salve, salve a Ala das Letras, fundada em outubro de 1938, que se tornou mais conhecida, em 1945, no início da efervescência cultural de Conquista, o Grêmio Literário Dramático Conquistense, criado em 1911, juntamente com o primeiro jornal impresso, o Grêmio Ruy Barbosa, o Grêmio Dramático União, o Grêmio Castro Alves, de onde surgiu a revista literária “A Ribalta” (1919-49), a Academia Conquistense de Letras, no ano de 1980, a Breve História da Literatura Conquistense, de José Mozart Tanajura, o Foro Literário Sertão da Ressaca, o Coletivo de Escritores e o nosso Sarau a Estrada que estão entre os recortes da nossa literatura.

OS LADRÕES DE TÚMULOS

Por volta de 1600 a 1500 a. C., os faraós deixaram de erguer pirâmides e passaram a escavar os rochedos do Vale dos Reis, para dentro deles construir galerias e câmaras que serviriam de sepulturas para os seus faraós. Outros eram enterrados nas areias do deserto no sentido de coibir a ação criminosa dos ladrões de túmulos que roubavam valiosos tesouros e dividiam entre suas comunidades, numa espécie de distribuição de renda pós morte.

Mesmo assim, os ladrões continuaram agindo em grupos e eram exímios caçadores de túmulos. As peças encontradas eram vendidas no mercado clandestino para o exterior. Muitas antiguidades preciosas terminaram sendo contrabandeadas para museus de países estrangeiros.

Por muito tempo, o ocidente era desinformado quanto a civilização egípcia, mas foi com Napoleão Bonaparte entre o final do século XVIII com seus sábios quem conquistou o Egito para a Europa, a começar pela Pedra de Roseta, conforme descreve o jornalista e escritor David Coimbra através da sua obra “Uma História do Mundo”.

O livro “A Descrição do Egito”, de autoria de Dominique Vivant Denon, um dos participantes da comitiva de Napoleão, incendiou a imaginação europeia e despertou a atenção de arqueólogos e cientistas ingleses, alemães e norte-americanos.

Por incrível que pareça, foram os próprios europeus que reprimiram o tráfico de antiguidades e fundaram o Museu Egípcio do Cairo. O inglês Howard Carter foi autor de uma das maiores descobertas da arqueologia que foi a tumba do faraó Tutancâmon, uma das poucas que haviam se mantido a salvo dos ladrões de sepulturas. Sua descoberta se deu no final de 1922.

Mesmo assim, segundo Coimbra, o mausoléu do rei foi conspurcado por pelo menos dois arrombamentos, mas, por algum motivo, os ladrões não conseguiram acessar os tesouros nem o cadáver do faraó. Esses ladrões sempre agiram durante os três mil anos em que os faraós governaram o Egito.

Pelo seu feito, Carter se tornou no arqueólogo mais famoso da história, sendo comparado a Heinrich Schliemann, o descobridor de Troia, ou a de Jean-François Champollion, que decifrou os hieróglifos egípcios da Pedra de Roseta.

A fim de manter as múmias e seus tesouros a salvo das violações, os administradores egípcios camuflavam os túmulos das formas mais engenhosas nas areias do deserto e atrás de paredes de pedras. Se um ladrão descobrisse a entrada, poderia se perder em um labirinto.

No começo dos anos 80 do século XIX, um grupo de arqueólogos europeus vivia e trabalhava no Egito, com o objetivo de descobrir e estudar as antiguidades do tempo dos faraós. Seguindo a pista de um desses ladrões, o alemão Emil Brugsch-Bey fez uma descoberta impressionante.

Ao tentar ameaçar entregar o ladrão às autoridades muçulmanas, ele levou o cientista ao local onde subtraia as antiguidades. Em julho de 1881, o alemão conseguiu encontrar em desordem os ataúdes, as múmias e objetos dos maiores soberanos do Egito Antigo, como os corpos de Amósis I, Tumés III e o próprio Ramsés II, o Grande e mais poderoso de todos os tempos.

 

QUANDO NÃO COÇA, ELE PIA

(Chico Ribeiro Neto)

Era o único dia em que a gente lá em casa comia maçã e chupava uva. Tinha que estar doente para que essas caras frutas chegassem até a cabeceira da cama.

Nesse ponto dei sorte, pois fui um menino doente. A partir dos 7 ou 8 anos comecei a sofrer de asma e o bicho era brabo.

Lá fora, a zoada dos meninos jogando bola na rua. “Cadê Chico?” “Ele não vai hoje, não, tá doente”.

O problema era que quando curava uma coisa, vinha outra. Quando o médico passava remédio pra asma, eu parava de sentir falta de ar, mas aí aparecia a coceira, e vice-versa. Eram 15 dias se coçando e 15 dias piando. Já em Salvador, depois da consulta no médico, na Piedade, mamãe me levava para merendar na Lobras (Lojas Brasileiras), em São Bento.

A asma até que me ajudou em algumas situações. Quando meu pai Waldemar vinha me dar uma surra, eu simulava logo uma crise e mamãe Cleonice alertava: “Waldemar, você não tá vendo que o menino tá com falta de ar?”. E eu escapava do cinturão. O problema é que essa simulação muitas vezes provocava a asma de verdade.

Lembro uma piada de Juca Chaves. O cara passou a noite com uma mulher no motel e de manhã disse que precisava confessar algo. “Você é casado?”, perguntou ela. “Não, é outra coisa”. “Fique à vontade, pode falar o que é”.

“Eu queria lhe dizer que … eu sou asmático”. “Ainda bem que você me contou, porque eu pensei que você estava me dando vaia a noite toda”.

Ah, os velhos e intragáveis remédios. Tinha um tal de óleo de ricínio (óleo de rícino), pra combater vermes, que era terrível. E o Emulsão de Scott? Cleonice dava voltas na mesa da sala até conseguir segurar um dos quatro filhos pra engolir aquele negócio branco e intragável na colher de sopa.

Mamãe usava Colubiazol pra garganta e vovô Chico não ficava sem Sal de Fruta  Eno em casa. E papai passava na cabeça a loção Tricomicina pra ver se ainda nascia cabelo.

A gente ia no inferno e voltava quando o Merthiolate era aplicado em cima do ferimento no joelho adquirido no “baba” da rua. A chegada do Band-Aid foi um alívio. Os pequenos curativos deixaram de ser feitos com gaze e esparadrapo, que saía arrancando os cabelinhos a torto e a direito. Quando não era raladura, era uma porrada na perna, usava-se  o Iodex, uma pomada preta que tinha um cheiro forte.

Difícil mesmo era engolir uma gemada. Beber o chá de fedegoso contra asma era outro processo doloroso. Gripe? Chá de limão com alho. Tomar bem quente e entrar debaixo da coberta. Vai suar em bicas e no outro dia tá bom. Pode escalar Chico pro “baba” de hoje.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

AS PALMEIRAS DA TANCREDO NEVES

Realmente a Praça Tancredo Neves, ou das Borboletas (antiga Rua Grande), em Vitória da Conquista, é uma das mais lindas do interior baiano, com destaque para as exuberantes palmeiras imperiais que parecem se enamorar com as nuvens, sem falar que é um local com fortes energias na catedral, nas águas, na diversidade das plantas e das flores. É um local onde você pode acalmar seu espírito e deixar ele se elevar aos céus. Ela fica ainda mais encantadora e atraente no período natalino quando é toda iluminada. É um ponto inspirador e poético que merece ser visitado. Aqui em Conquista ainda temos a vista lá do alto do Cristo crucificado do artista escultor Mário Cravo, na Serra do Periperi. É a cidade dos biscoitos e uma das que mais cresce no Nordeste, mas não são esses requisitos que a faz de turística, nem tampouco de ser chamada de a “Suíça Baiana”.  Vez ou outra ouço a mídia falar em turistas que vistam Conquista. Não é bem assim. Muitas vezes é um visitante que está de passagem ou alguém da área de negócios que aproveita uma folga para conhecer a cidade. Alguém deve estar perguntando o que tem a ver as palmeiras, o Cristo, os biscoitos e até a Lagoa das Bateias com o assunto do turismo. É que muitos acham que esses cartões postais podem fazer de Conquista uma cidade turística e convencer alguém de outro estado a vir visitá-la, e por aqui ficar por três ou mais dias. É bom que se entenda que a vocação de Conquista é bem outra diferente que se chama de comércio e serviços, mas vivam para sempre as belezas das palmeiras da Praça Tancredo Neves.





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