Pelas lentes do fotógrafo José Silva, o gavião voa baixo no sol escaldante do agreste do sertão farejando uma presa para matar a fome, mas o chão está rachado pela seca que não deixou muita coisa para se alimentar. Sem flora e sem fauna, ele é um dos últimos solitários nessa paisagem cinzenta a esperar que uma graça desça dos céus, como também o catingueiro que perdeu suas lavouras e o gado. Ainda com um fio de fé e esperança, o roceiro mira todos os dias para o alto à procura de uma nuvem e um vento mais forte que deem sinais de chuva, mas nada de um cheiro dela no ar. Ele é resistente e forte como o gavião que continua a voar, e dificilmente bate em retirada. O carro-pipa corta a estrada de cascalho, cobrindo de poeira os engaços e bagaços, mas a água não chega para todos. Sempre dizem que o homem pode conviver com a seca, mas os projetos para que isso se torne realidade não saem do papel. Os programas se estacionam nas promessas vãs dos políticos. Na cultura religiosa foi Deus que assim quis, mas isso é só uma tentativa de acomodar o sertanejo para que ele continue submisso aos poderosos. Mesmo com a seca, o gavião não vai parar de fazer a sua caça e, se nada encontrar, ele bate asas para bandas mais distante, e retorna à sua terra natal nos bons tempos, como faz o sertanejo.