Poema mais recente de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

De tanto viver neste sol inclemente,

Que racha a terra e arde a mente,

Entre as secas veredas de espinhos,

Onde as aves não fazem seus ninhos,

Rasga no peito a dor do nordestino,

Que viu morrer de fome seu menino.

 

Rasga no peito essa dor vaga latina,

Em ver a mulher a chorar no fogão,

Numa cozinha de panelas vazias,

De olhar fundo com marcas do sofrer,

Saudades eternas da nossa menina,

Que teve a mesma sina da falta do pão.

 

Rasga em meu peito essa dor assassina,

De ver tanta gente a padecer na espera,

Outros a viver em mansões de quimera,

Oh Senhor Deus do poeta da dor rasgada!

Olhai para esse povo no arrasto da enxada!

A rogar que dos céus desça a graça divina.

 

Rasga no peito essa dor contínua,

Pior que a dor canina de dente,

Que enxaqueca de cabeça doente,

É essa dor que jorra na alma sofrida,

De um povo ferrado em curral de boi,

Que procura por uma justiça que se foi.