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:: 12/nov/2020 . 23:51

MATA DO POÇO ESCURO

Poema do jornalista e escritor Jeremias Macário, em homenagem aos 180 anos de emancipação política de Vitória da Conquista, completados no último dia 9 de novembro. O texto faz parte do livro “Andanças”, que pode ser encontrado na Banca Central e na livraria Nobel.

Tudo no alto era traçado,

Como se fosse um abraço,

Onde morava o sagrado,

Riscando o seu traço,

Na água farta escura,

Jorrando da escarpa,

Que saciava a cidade,

Pura clara e sem mistura.

 

Era tudo uma floresta,

Do irmão sol e da irmã lua,

Para dançar em sua festa,

Com a esbelta índia nua,

No Poço Escuro de mel,

Sem brancos e senhores,

Só com os deuses do céu

Num banquete de flores.

 

Devastaram tudo, seu moço!

E só uma mata rala restou;

A minação foi-se minguando,

Como dos bichos, o almoço;

O Poço fraco quase secou;

E até foi embora o orixá xangô;

O caboclo também se mudou,

Porque também foi o nosso nagô.

 

Num puxadinho nanico,

Tombaram um velho sagui,

Um macaco e um mico,

Pelos invasores exteriores,

Deixando em escombros,

A nossa bela Serra do Periperi,

Onde um dia passeou o Saci.

 

A serra tem gente por cima;

O capão de mata ainda respira;

O Poço virou coisa de rima;

No Escuro ainda conspira,

O homem do Senhor Criador,

Que escarra sangue na natureza,

Como se fosse um estripador,

Que desfigura a candura de beleza.

 

 

 

 





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