Todos ficam contentes e abrem um sorriso largo quando leem projeções estatísticas de que nos últimos anos aumentou a média de vida do brasileiro e já estamos galgando a faixa dos 75 anos. Que bom! Estamos entrando no clube dos países desenvolvidos que cuidam bem dos seus cidadãos.

Mera ilusão! Como assim, se na outra ponta leio que o índice de desenvolvimento humano estagnou, a qualidade de vida só tem caído, a renda dos trabalhadores decresceu, o desemprego se eleva ao patamar de 13 milhões, a saúde continua precária e metade da população não conta com saneamento básico? E os mosquitos da dengue, da zica, da chikungunya e da febre amarela que deixam sequelas e matam?

É, deve ter muita gente aí escondida vivendo mais de 150 anos, ou tudo não passa de mais um jogo de palavras dessa ópera-bufa, como são as constantes mentiras e as promessas vãs. Falseiam de que estamos entrando no país do futuro, tão sonhado pelo refugiado alemão-austríaco Stefan Zweig, em “Brasil, país do futuro”. Enquanto isso, acompanho tristemente a morte de colegas, amigos e companheiros que nem alcançam os 70 anos.

“O Brasil tem que ser um país de todos os brasileiros. Não cabem mais privilégios a corporações que não priorizam o interesse nacional”. Esta frase, por incrível que pareça, foi dita pelo deputado federal José Carlos Aleluia na abertura do seu artigo publicado no jornal A Tarde desta semana, em que fala do projeto de lei da terceirização e da reforma trabalhista.

Quem afirma isto é justamente um membro do Congresso Nacional que não abre mão dos seus privilégios descomunais em detrimento de um povo amordaçado em caminho dos matadouros sangrentos. Suas mordomias são sagradas e ninguém ousa tocá-las. É irônico! Não precisa tripudiar tanto!

Seu colega, o Rodrigo Maia, sugeriu que a Justiça do Trabalho não deveria nem existir e se arvorou a dizer que há um consenso que esse processo de proteção na verdade gerou desemprego. É isto aí, a culpa é mesmo do trabalhador e não dos desastres de governanças e dos desvios de conduta dos políticos.

São jogos de palavras para fazer acreditar que vamos ter um futuro bem melhor e tranquilo com as reformas trabalhistas, previdenciária e outras medidas de cortes de gastos que atingem em cheio as áreas sociais mais necessitadas, como educação saúde e programas de inclusão.

A terceirização é o fim do concurso público, a precarização ainda maior dos serviços públicos e a legalização da imoralidade da exploração do trabalhador para fazer baixar os minguados salários. Funciona nos países civilizados que primam pela seriedade, priorizam a qualificação e respeitam as leis.

Nesse jogo de palavras cruzadas da ópera-bufa, os pretos e os pobres, incluindo ai as prostitutas, acham que serão mesmo beneficiários dessa ação tão “altruísta” da elite mandante.

A grande maioria, por falta de uma conscientização política mais forte de suas posições excludentes no sistema, se orgulha por se sentir integrante desta engrenagem capitalista selvagem. Defende o status quo de uma nação falida e até exibe características, hábitos e costumes consumistas que são só privilégios das castas superiores dos três poderes.

Os babacas e os caras-de-pau do horário imoral da televisão, muitos dos quais réus em processos de roubalheiras do Mensalão e da Lava Jato, falam de justiça social, de moral, ética, melhorias na educação, na saúde, mais segurança e saneamento básico para todos. Prometem que vão salvar a pátria dos salteadores. Atormentam-nos com suas palavras fedorentas.

É o auge da encenação da ópera-bufa, cujos autores, atrizes e atores conhecem bem o palco onde pisam e confiam que não serão atacados com pedras, latas, pedaços de paus, lixo, ovos podres e cascas de laranjas, mas um dia a população revoltada pode atear fogo neste circo.