Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização

A filosofia não deixa de ser uma autoajuda no sentido de que é o pensamento que leva o indivíduo em sociedade a refletir sobre suas ações, decisões e como se comportar no cotidiano da vida, no trabalho e diante dos desafios que fazem parte da existência humana.

O livro do filósofo Mario Sérgio Cartella, intitulado “Por Que Fazemos o Que Fazemos?” nos leva a tudo isso e ajuda o ser a se conhecer, não apenas como um ter interessado unicamente em sobreviver nesse emaranhado de competição onde vale o levar vantagem em tudo.

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A obra, um presente carinhoso da consultora Karine em meu aniversário de 70 anos no último dia 11 de fevereiro – infelizmente, nos dias atuais não se dá mais livro de presente como se fazia há 30 e 40 anos- traz na abertura “Vida com Propósito!” um trecho do poema “Da Morte”, de Mário Quintana, que diz “Um dia …pronto!…, me acabo. Pois seja o que tem de ser. Morrer: que me importa!… O diabo é deixar viver!

É uma leitura prazerosa e até relaxante, mas que faz o leitor pensar no que faz e o que pode vir a fazer, ligando passado, presente e futuro. Cartella nos brinda com várias citações de filósofos pensadores e profissionais do trabalho, como do jornalista Aparício Torelli, o Barão de Itararé: “A única coisa que você leva da vida é a vida que você leva”.

Entre outros, o autor cita o pensador alemão Karl Marx, do século XIX, que falou da recusa à alienação como ideia de vida como propósito. Infelizmente, vivemos hoje num país de alienados que não compreende a razão do que produz, como bem definiu o filósofo alemão Hegel sobre o conceito de alienação.

Para Marx, a necessidade faz com que o indivíduo faça. Para isso, o espírito precisa se elaborar. Na concepção de Hegel, é o espírito que tem necessidade de se mostrar.

Segundo Cartella, Marx fazia uma distinção clara sobre o reino da vida; O da necessidade e o da liberdade, e é nesse ponto que o autor do livro afirma que “para ser um mochileiro é preciso ser livre de uma série de outras restrições”.

Na questão do trabalho, lazer, partilha, repartição e alienação, Cartella faz um retrospecto sobre o primeiro documento do papa Leão XIII, a Rerum Novarum, de 1891, que reivindicou uma jornada organizada de trabalho. Já o escritor francês Paul Lafargue reivindicava o direito à preguiça que consistia em se dedicar mais tempo à família.

Tudo isso é uma introdução do livro “Por Que Fazemos o Que Fazemos” para levar o leitor a se descobrir no que ele é e no que faz com consciência e não de forma alienada.

No tema “Odeio Segunda-Feira”, Cartella entende que a pessoa que se sente assim, não está cansada. “Na verdade, ela não está se encontrando naquilo que faz, precisa rever os propósitos que tem para aquilo que está fazendo.”

O autor ainda nos ensina que rotina não é monotonia. Para ele, a rotina consiste numa serie de procedimentos –padrão com os quais um processo se completa. O trabalho rotineiro é um trabalho organizado, estruturado. “A monotonia é a morte da motivação”!

Não simplesmente como um livro de autoajuda que se encontra aos montes nas livrarias entre os mais vendidos, que fala o tempo todo sobre competição e como vencer e sobreviver neste louco mercado, o filósofo Cartella abre as portas par um pensar mais sossegado e livre.

Ele procura fazer com que o leitor reflita sobre diversas questões da vida, como a origem da motivação, o que mais desmotiva, trabalho com significação, ética do esforço, valores e propósitos, por que fazer? E por que não fazer? Sobre o tempo e tantos outros assuntos cotidianos da vida.

Bem, o autor fala a língua dos filósofos da antiga Grécia (Sócrates, Aristóteles, Platão e outros) transportando-a para os tempos atuais. A leitura fez me lembrar das memoráveis aulas de filosofia  no período do curso Clássico do Seminário, quando ainda tínhamos uma educação de qualidade. O resto é só adquirir o livro e ler numa sentada só. É de fácil e compreensível linguagem.