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Um dos mais comentados e procurados, o livro “Uma Conquista Cassada – Cerco e Fuzil na Cidade do Frio”, de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, lançado no final de julho em Vitória da Conquista e cidades da região, na Chapada Diamantina e norte de Minas Gerais (Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros) ainda pode ser encontrado nas livrarias e principais bancas de revistas locais.

A obra de 460 páginas, com fotos, documentos e ilustrações da época da ditadura civil-militar, de 1964 até o final dos anos 80, aborda a questão da cassação política do ex-prefeito José Pedral, falecido em meado de setembro deste ano, além da prisão de outras cem pessoas pelas tropas do exército em maio de 64.

Além do episódio em Conquista, que completa 50 anos, inclusive com a morte do vereador Péricles Gusmão na prisão do Batalhão Policial, quando deixou a comunidade estarrecida e em pânico, o trabalho que demandou cinco anos de pesquisas descreve também as revoluções socialistas no mundo, os levantes e rebeliões no Brasil colonial e imperial e a ditadura no país que perseguiu, prendeu, torturou e matou centenas de brasileiros.

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Segundo o autor Jeremias Macário, “Uma Conquista Cassada – Cerco e Fuzil na Cidade do Frio”, trata-se de um “Livro-Reportagem” com linguagem acessível que pode servir de pesquisa em salas de aulas entre estudantes, professores e também pessoas interessadas no assunto. “Embora com cunho acadêmico, a intenção foi a de atingir todo o público leitor com informações precisas sobre o regime militar do período”.

O jornalista aconselha ainda que todo jovem, principalmente, leia o livro para se inteirar dos acontecimentos do início dos anos 60 ao final dos anos 80, para que nunca mais ocorra outra ditadura militar em nosso país. Na ocasião, criticou manifestações de extrema-direita no pós-eleições que defenderam um retorno das forças armadas para governar o país. “É necessário que todos conheçam está história de horror que está completando 50 anos”.

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A DITADURA EM CONQUISTA

Desolado em sua prisão na Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão) com outros companheiros, o prefeito Pedral Sampaio foi destituído pelo novo regime, sem direito à defesa. Eleito em 1962, Pedral e o povo foram vítimas de um ato de flagrante violação à Constituição. Em clima de terror, muita gente procurou fugir do cerco. Um perseguido viajou até Salvador para se entregar e teve irmão “dedurando” irmão.

A reconstrução desse capítulo da história de Conquista demandou anos de estudos, pesquisas e entrevistas, com fatos inusitados para o leitor, como o enfrentamento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica nos anos de chumbo do regime.

Naquela época, a cidade abrigou um refugiado marxista condenado à pena de morte que se escondeu no anexo da clausura de um convento de monjas onde fez um quadro do Menino Jesus no Templo. O foragido Theodomiro Romeiro dos Santos conta como tudo aconteceu.

Uma conquistense guerreou no Araguaia (sul do Pará), deixando a família para trás e se internando na perigosa selva. Outro foi barbaramente torturado, e um jovem tentou ir à guerrilha, mas depois resolveu ser padre. Teve empresário financiador do regime de exceção.

O livro foca o maio de 1964 a partir das prisões de 100 pessoas consideradas como subversivas por terem apoiado o governo deposto de João Goulart e suas reformas de base. Também quem pertencia ao grupo do prefeito foi preso e perseguido. A vinda do exército, numa operação de guerra, foi reforçada por correntes contrárias ao grupo de Pedral, numa clara desforra política.

A oposição instigava o jornal “O Sertanejo” (apelidado de “Sertanojo”), de que Conquista carecia de uma ação militar para acabar de vez com os “atos subversivos” e “atentatórios à pátria”.

A Praça Barão do Rio Branco, ou da República, ainda com alguns casarões antigos, tendo ao meio a saudosa galeria “Lindóia”, foi o cenário das repressões.

Na Praça José de Sá Nunes, em frente ao Clube Social, o prefeito recebeu a primeira ordem de prisão, quando se dirigia para seu rotineiro trabalho na prefeitura. O clima era de uma Conquista com viés socialista a partir da derrubada das forças oligarcas em 1962.

O fato de maior impacto foi o polêmico “suicídio” do vereador Péricles Gusmão Regis, encontrado morto numa das celas da Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão da Polícia Militar), no dia 12 de maio de 1964.

O Livro-Reportagem jornalística foi dividido em seis blocos, como as revoluções socialistas no mundo (russa, chinesa e cubana) que influenciaram os movimentos sociais na América Latina nos anos 50 e 60; levantes, rebeliões, conspirações e golpes na história do Brasil; a história de Conquista; a questão dos grupos e das organizações revolucionárias de esquerda na luta armada; a abertura lenta e gradual, a Comissão da Verdade; e, por último, um tributo à década de 60.