No foi por menos que, em tom de brincadeira, o Papa Francisco disse a um padre, ao se referir à pandemia no Brasil, que os brasileiros não têm salvação porque só querem saber de cachaça e festas. Vitória da Conquista, no lugar de ser exemplar, está confirmando essa versão do Papa, quando a Prefeitura Municipal anuncia mais flexibilização das medidas com a liberação de eventos festivos de até 50 pessoas.

Desculpem dizer isso, mas esse Comitê Gestor de Crise está mais para Comitê da Morte, quando se sabe que a ocupação de leitos de UTIs nos hospitais está na faixa dos 97%, que a média diária de mortes está em torno de três ou quatro (na segunda, se não me engano, o vírus abateu oito almas), com quase 100 casos, e já tivemos mais de 500 perdas.

Esses números não são altos? Está tudo sob controle, senhora prefeita? Conquista é uma “cidade exemplar no combate da pandemia”, como falou um lojista? Nenhuma pessoa de bom senso vai concordar com isso. Nova York, com mais de 10 milhões de habitantes, está registrando 12 mortes, e países da Europa, com 30 a 50 milhões de pessoas, computa oito, dez, para uma população de 230 mil em Conquista.  Os índices são por demais desproporcionais.

Qual mesmo o objetivo do poder executivo local flexibilizar a realização de eventos com até 50 pessoas? São as chegadas das festas juninas para atender a demanda de bares e restaurantes? Oferecer aos músicos da cidade uma oportunidade de fazer seus shows ao vivo, no lugar de um edital que foi prometido e não mais se falou nesse projeto?

Será mais uma vez a intenção de bater de frente com as medidas restritivas do Governo do Estado, que proibiu por decreto a circulação de ônibus intermunicipais durante o São João? O governador determinou também a proibição de bebidas alcoólicas neste próximo final de semana, para evitar mais aglomerações.

Esse pessoal da prefeitura e do tal Comitê Gestor acha que todo mundo é imbecil e burro, quando justifica o ato afirmando que essa flexibilização vai seguir todos protocolos de máscaras, álcool-gel e o distanciamento de um metro e meio entre os festeiros. Isso não passa de uma conversa para boi dormir, pois sabemos que isso não é possível de ser cumprido.

Todos finais de semana em Conquista acontecem aglomerações em bares, restaurantes e festas, e os poucos fiscais não conseguem impedir esses eventos. Se não controlam esses excessos, como vamos acreditar que essa nova medida de abertura vai ser dentro dos protocolos?

Parece a história estapafúrdia e mentirosa do prefeito de Várzea do Poço que promoveu uma corrida de cavalos e leilões com mais de mil frequentadores por dia, e depois alardeou que a festa foi só para convidados e que todos seguiram os devidos regramentos. Está enganando a quem?

Outra coisa absurda é o São João que, mais uma vez, oficialmente foi cancelado, mas as propagandas estão aí a todo vapor para incentivar os baianos e nordestinos a realizarem suas festas juninas com amigos e parentes, isto quando os infectologistas e médicos já estão prevendo uma nova onda da Covid-19, com novas cepas.

Comentei aqui e volto a repetir que a própria mídia tem sua parcela de culpa para que os apaixonados do São João se aglomerem em festas particulares. A imprensa que pede para que todos se cuidem, é a mesma que programa o evento em suas redes de televisão através de lives.

Existem até dicas para roupas, sapatos e quais as pinturas e trajes ideais. Será que essas pessoas vão se emperiquitar à moda da festa, para depois ficarem presas dentro de suas casas?

Até o Banco de Sangue do HGVC incentiva as pessoas a pegarem estrada quando coloca lá um cartaz chamativo, ressaltando que antes de você pegar o caminho da roça passe no Hemoba e doe sangue. Por essas e outras é que o Papa tem razão. Não adianta só ficar por aí pelos cantos rezando e pedindo a Deus para se salvar.