Pelos trópicos abaixo da linha do Equador um paciente chamado Brasil luta em seu leito terminal para ter alta definitiva. Esteve diversas vezes nas enfermarias onde os médicos diagnosticaram pronta recuperação, mas, de uma hora para outra, o doente foi acometido de infecção hospitalar braba que o levou à unidade de tratamento intensivo. O quadro, ora piora, ora melhora, abrindo espaço à esperança.

Há séculos, este paciente dos trópicos foi vítima de uma esquadra de gente estranha que aqui aportou trazendo consigo bactérias, vírus, bacilos, vermes e outros organismos que contaminaram seus nativos que viviam sadios. Ao longo da sua história, estes corpos nocivos se expandiram na população e se tornaram resistentes aos antibióticos e outros medicamentos. De lá para cá, vive-se tempos de altos e baixos, entre melhoras e estado de falência de seus órgãos.

Os vermes da corrupção, os vírus oportunistas sem caráter, as bactérias de aproveitadores, as hepatites virais silenciosas, os mosquitos ceifadores intolerantes e predadores em forma de monstros carnívoros de malfeitores ladrões infectaram-se neste paciente gigante adormecido onde encontraram  ambiente fértil de reprodução e se multiplicarem em milhões que a todo tempo se alimentam do que as células produzem para manter este ser vivo, mesmo em agonia.

Muitas tentativas foram feitas para expulsar os micróbios e vermes deste corpo, inclusive com pulverizações venenosas e outras até com fogo e bombardeios, mas eles conseguem se ramificar e criar sistemas fortes, esquemas de disfarces e outros métodos enganosos, tornando-se imbatíveis e cada vez mais resistentes. Eles vão destruindo tudo o que encontram pela frente, cada vez mais deixando o paciente debilitado.

Estão por todas as partes do organismo como uma metástase cancerígena. Cada elemento maligno pertence a uma categoria e se unem no corporativismo quando se sentem ameaçados em seus postos privilegiados. Criaram, por conta própria, um emaranhado de regras de defesas deles mesmos.  Vivem de mordomias extraídas de fontes geradas por uma massa produtora que labora dia e noite para manter o paciente ainda vivo, embora depressivo e em estado de ansiedade, das mais agudas.

Estes vírus, bactérias, fungos e pragas pré-históricos, muitos deles até herbívoros e carniceiros de planícies, planaltos e pântanos, são impiedosos e caem dentro de suas vítimas pequenas e frágeis para matar. Dilaceram tudo pela frente. Não estão nem ai para choros e ranger de dentes. Secam lágrimas e sugam todo sangue de suas presas.

Quando atacadas por alguma força tarefa de combate, se fazem de inocentes coitados e são prontamente protegidos por ordenados excrementos potentes que colocam novamente esses assassinos tumores na ativa. Eles devoram tudo que o paciente produz para sobreviver, mesmo em estágio terminal.

Em sua secular história de levantes, rebeliões, conspirações, monarquias, repúblicas, protestos, populismos, golpes, ditaduras e democracias eles estão lá, escondidos ou escancarados com caras cínicas de safados corroendo ferozmente o paciente. Para confundir, aparecem como salvadores e ai aproveitam para se banquetear.

Adoram o neoliberalismo de mercado ainda mais quando é retrógrado,  conservador e de retrocesso. Em terreno minado, suas táticas são praticamente infalíveis. Como parte de uma elite burguesa dominante, gostam de fazer trocas mútuas na base do dá lá e do dá cá. Detestam fazer concessões, partilhas e preferem que as coisas continuem como estão para que se perpetuem com suas comilanças vorazes.

Neste caos de extermínios, existem raças defensoras que se encostam entre vermes e bactérias para tirar algum proveito e outras que estão ao lado dos vírus e bacilos, também iludidos, mas com o mesmo intuito de ficar com algumas migalhas. Na sua grande maioria, poucos estão mesmo preocupados com a reabilitação do paciente. Dizem que uma alta, só Deus Saberá

Mesmo dividido, o paciente vive entre o pessimismo, o otimismo, a esperança, a fé da cura e a desesperança de que não existe mais salvação. Têm os que optam por intransigências e intervenções, cheios de rancor. Os que aderem aos falsos de “boas intenções”, mas que não passam de outras espécies de vírus e bactérias ainda mais perigosas.