O HOMEM DE UMA CERVEJA SÓ
(Chico Ribeiro Neto)
Fiquei indeciso sobre o título, que também poderia ser: “o homem de uma só cerveja” ou “o homem só, de uma cerveja.”
Mas, foi esse o caso que aconteceu. Antes da modernização da Ceasa do Rio Vermelho, que virou quase um shopping, eu ia muito aos bares de lá. Foi num sábado que o notei. Ele chegou com a feira dele e pediu uma cerveja. Tomava devagarzinho, pouco falava, e depois ia embora. O dono do bar me contou que ele fazia isso todo sábado, há anos, e era sempre uma só cerveja.
Eu tinha um amigo que me dizia: “Nunca me chame pra tomar só uma cerveja, isso não existe!” Quem gosta de cerveja sabe disso. Parece com aquela propaganda de um salgadinho: “Impossível comer um só!”
O que pensará o homem de uma só cerveja? Será que dá tempo de lembrar daquela ingrata? Dá pra sonhar um pouco pensando no São João do interior? Criar coragem pra ligar pra Rosa? Dá pra saber o passado do garçom? Escrever um poema ou uma crônica?
Tomei o primeiro copo de cerveja aos 14 anos, num bar em Itapuã. Na verdade, um tio colocou meio copo e quando provei achei uma coisa amarga, horrível, e tive que completar com guaraná Fratelli Vita.
Uma vez cheguei do jornal 1 hora da manhã e só tinha uma cerveja na geladeira. Botei a preciosa no congelador e fui tomar banho. Na volta, esquentei a janta e abri a cerveja. Que decepção: estava choca. É por isso que digo: tenha sempre duas cervejas na geladeira; uma poderá estar choca.
Pra terminar, transcrevo duas estrofes do cordel “Poesia e Cachaça”, de Carlinhos Cordel (recantodasletras.com.br):
“Contra falta de carinho
Cachaça, cerveja e vinho!
Você bebendo as três
Vai encontrar seu caminho”.
“Se brigar com a mulher
Beba pinga na colher
Mande a mulher ir embora
E vá morar no cabaré”.
Garçom, traga outra, por favor, bem gelada.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)