AS IMAGENS ESQUELÉTICAS PALESTINAS
No início eram os tanques, as metralhadoras, os fuzis e as bombas destruindo por completo toda Faixa de Gaza, sob o pretexto de revidar, vingar e acabar de vez com os Hamas pelos assassinatos cometidos contra os judeus naquele outubro de 2023. A ordem era de deixar uma terra arrasada, como se passa um trator por cima de um casebre ocupado por famílias.
O cenário era de escombros e já nos aterrorizava pelo sangue derramado, inclusive dentro de hospitais. Os palestinos fugiam desesperados de um lugar para o outro como animais selvagens encurralados. Filhos perdidos e famílias separadas pelo fogo impiedoso de Israel, com a ajuda dos Estados Unidos. Uma covardia escancarada chamada de guerra onde só um lado mata e o outro foge.
Hoje entram as imagens esqueléticas chocantes e repugnantes, transmitidas pela televisão ou outros meios de comunicação, ao ponto de determinadas pessoas fecharem os olhos, baixarem a cabeça ou virarem seus rostos para não as ver, de tão cruel e desumana em pleno século XXI onde a humanidade se acha civilizada porque domina a tecnologia.
Como ver uma fome tão monstruosa como um verme corroendo corpos humanos enquanto se enche a barriga durante um almoço ou jantar? Mesmo que a pessoa seja bruta ou seca por dentro, não tenha sentimentos, as imagens batem como facadas mortíferas em sua mente.
Em outras ocasiões de desastres com corpos despedaçados, carbonizados ou estirados no asfalto, vítimas da violência urbana, o jornalismo atual, principalmente em suas páginas policiais (agora com outra denominação), procura por ética evitar o sensacionalismo e vetar suas publicações.
No entanto, as cenas de crianças e jovens só com a pele e o osso, de gente se matando por comida com pratos e panelas, tentando segurá-los em suas frágeis mãos, são necessárias para conscientização das nações mundiais visando que se dê um basta a essa matança pela fome.
Depois de anos, essas imagens de terror se repetem como nos campos de concentração da II Guerra Mundial, nos massacres étnicos da Bósnia de 1992, nas guerras tribais do Senegal, da Etiópia e outros países africanos. Tudo vem a comprovar que a espécie humana não se evoluiu em termos de compaixão.
Até quando vamos ter que conviver com essas imagens hediondas e criminosas? O pior é que elas estão se tornando comuns, e o mundo a tudo assisti praticamente em silêncio, a não ser uns blábláblás rosnados por alguns líderes de apenas lamentar e condenar as ações de carnificina.
Do alto da sua janela, cheio de pompas, o papa pede que se abra espaço para o grito de socorro. É mais um fato que vai manchar as páginas da nossa história, como tantos outros nas guerras milenares. Do meu lado, sinto-me envergonhado de pertencer a esta raça humana! A morte pela fome se tornou uma banalização.
Abraão veio de Ur, lá da Mesopotâmia, entre os rios Tigres e Eufrates, onde hoje é o Iraque, e rasgando suas sandálias com sua tribo, foi parar em Canaã. Com a escrava Agar se deitou e teve o filho Ismael, um tipo de bastardo, depois renegado pelo pai por pressão da sua esposa Sara.
Passado certo tempo, Abraão teve Isaac que se casou com a bela Rebeca e esta gerou os gêmeos Esaú e Jacó. Este último, parente lá do Ismael, criou as doze tribos de Israel, hoje os judeus. O filho abandonado andou pelos desertos da Palestina e seus descendentes passaram a ser conhecidos como os ismaelitas, formando assim o povo árabe.
Há mais de três mil anos estes dois povos primos-irmãos vivem a lutar por territórios, com acusações mútuas de pertencimento. Mais sagazes e favorecidos pelo holocausto de Hitler, os judeus, com suas campanhas terroristas, terminaram por ganhar da Inglaterra e dos Estados Unidos o direito a um Estado, em 1948.
Desde então, os palestinos ou ismaelitas, como amaldiçoados pelo Deus de Abraão, são diariamente encurralados por Israel, cujo primeiro ministro Benjamim Netanyahu, o facínora “Bibi”, quer exterminá-los através de suas bombas e, por fim, pela fome para não mais desperdiçar seus bélicos armamentos.