O nome de satanás é mais enfatizado nas igrejas católicas e evangélicas do que o próprio Deus ou Jesus Cristo. Acho que o danado do capeta se sente privilegiado e honrado.

– Homem, vamos batizar logo esse menino antes que ele morra pagão.

Quando menino minha mãe me contava essa história porque nasci mirrado e doente numa roça no município de Mairí, hoje Monte Alegre.

Antigamente, isso serve para a velha geração, primeiro vinha o batistério e só depois o registro de nascimento. Assim aconteceu comigo.

Meu pai só foi me registrar com quatro ou cinco anos quando já estava em Piritiba e fiquei como filho dessa terra querida. Confio mais na data do batistério do que na da certidão de nascimento. Naquela época o papel do batismo tinha mais valor.

Hoje quando você nasce num hospital, geralmente a criança já sai com seu registro de nascimento e somente meses após faz-se o batismo como um ritual mais social que religioso.

Mas, o que tem a ver tudo isso com o “Renuncias a Satanás”? Para não ser enfadonho, vou tentar explicar de forma resumida. Antes de ingressar no seminário fui sacristão e acompanhei o pároco de Mundo Novo em centenas de batizados. Decorei como realizar um e ganhar uma boa grana, sem o satanás.

O tempo passou e há anos que não entrava numa igreja católica, se bem que batizei meus filhos nela. Não me lembrava mais desse “Renuncias a Satanás”. Pensei que isso já tivesse sido abolido.

Recentemente fui ao batizado da minha netinha, no Rio de Janeiro, e antes do dela assisti a outros três feitos por um velho frei da Ordem de Santo Antônio, mão de vaca que entendeu que os pais deveriam ter levado a vela. Naquele tempo, a vela entrava no pacote de pagamento.

Lá do altar, em voz alta, o que mais ouvi foi o “Renuncias a Satanás”, num rito das antigas. Fiquei um tanto chocado porque imaginei que a Igreja Católica teria se renovado com os tempos.

Pensei comigo mesmo: É necessário que as pessoas ali presentes, pais e padrinhos confessassem que renunciariam a satanás? Não poderia esse nome ser retirado da lista e só falar no Deus Todo Poderoso?

Vamos falar em coisas boas, como da natureza, das montanhas, florestas, rios, mares e louvar o criador do universo. Por que essa necessidade de colocar a presença do satanás na igreja?

Alguém já disse que o inferno é aqui. Nem sei se o satanás existe mesmo, e se ele existe não vejo motivo de dizer que o renuncio, nem se falar no nome dele num ato de batismo, num templo sagrado para a própria igreja. Não cabe colocá-lo presente.

Não consigo entender essa cultura milenar que começou pela Igreja Católica para aterrorizar os fiéis e vem se arrastando até hoje, principalmente entre os pastores evangélicos que usam o diabo ou o belzebu para arrancar dinheiro dos pobres fiéis, num processo de lavagem cerebral.

No outro dia fui visitar o Santuário da Penha e quando adentrei em seu recinto lá estava o padre ministrando um batizado. Antes que ele mandasse renunciar a satanás, cai fora porque não aguentava mais.