RESPEITEM O NORDESTE, NÃO É FEIRA DOS PARAÍBAS!
– Você vai visitar a feira dos paraíbas? Ontem eu fui à feira dos paraíbas lá no Bairro de São Cristóvão.
É assim que os cariocas e sulistas, com preconceito e ignorância, falam quando alguém vai à Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, que homenageia o nosso rei do Baião, Luiz Gonzaga, músico, cantor e compositor conhecido mundialmente pelas suas canções ao som da sanfona.
Suas letras e de seus parceiros Humberto Teixeira, Dantas e Patativa do Assaré, principalmente, narram a vida, costumes e hábitos do povo nordestino. Pode-se dizer que Luiz Gonzaga colocou o Nordeste no mapa do Brasil como grande centro da cultura popular.
Para esses ignorantes e preconceituosos, a Feira de São Cristóvão surgiu nos anos 40 e 50 por trabalhadores nordestinos durante a construção da Rio-Bahia, de maneira informal no entorno do Pavilhão que homenageia o santo. Eles saíram do Nordeste em busca de emprego.
Com o tempo, o local se tornou num reduto cultural, ganhando infraestrutura e se consolidando como espaço de comércio e lazer. Além das barracas de produtos variados do Nordeste, a Feira possui vários espaços de apresentações da cultura popular da região, como maracatu, bumba meu boi, quadrilhas de forró e até o samba que nasceu na Bahia.
Não é feira dos paraíbas, seus ignorantes, e sim, Centro Cultural Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, ou pode ser, simplesmente, Feira dos Nordestinos. Sua história está ligada à cidade do Rio de Janeiro, sobretudo a partir de 1945, quando os nordestinos começam a se concentrar no Campo de São Cristóvão, onde encontraram trabalho.
As barracas de comidas típicas do Nordeste, como a carne de sol, cozido e assado de bode, tapioca, baião de dois, dentre outras, se somaram às apresentações de forró, xaxado e repentes. O local se tornou num ambiente festivo, marco da cultura nordestina no Rio de Janeiro.
A Prefeitura do Rio de Janeiro reformou o antigo pavilhão, projetado por Sérgio Bernardes, em 2003, com objetivo de abrigar a Feira e cerca de 700 barracas onde se encontra de tudo, como chapéus, tecidos, rendas, artesanatos, gibões de couro, objetos usados pelo cangaço e bons restaurantes servidos pelos nordestinos baianos, paraibanos, potiguares, maranhenses, alagoanos, sergipanos, cearenses, pernambucanos e piauienses.
Foi isso, mais ou menos, que disse para um paranaense, no Rio de Janeiro, quando indagou se eu já havia visitado a feira dos paraíbas. Ele se expressou de uma forma sarcástica e ainda deu aquela risada marota de menosprezo. “Não é feira dos paraíbas”.
Os sulistas (nem todos) sempre tiveram preconceito com relação aos nordestinos, chamando-os de candangos, retirantes, cangaceiros e subdesenvolvidos que fugiram da seca para matar a fome, principalmente, em São Paulo. Eles carregam esse estereotipo em suas mentes vazias.
No entanto, desconhecem por completo o outro lado da sua riqueza cultural, do seu potencial de escritores, políticos, intelectuais, poetas, músicos, repentistas e folcloristas famosos mundialmente. Não reconhecem, inclusive, que foi o povo nordestino que construiu São Paulo e outras grandes cidades em seu entorno.
Em São Paulo, por exemplo, eles costumam chamar todos nordestinos de baianos e ainda fazem piadas negativistas, como se nossa gente fosse burra e preguiçosa. Esse preconceito foi muito alardeado e cheio de intolerância durante as eleições passadas quando os nordestinos votaram de formam contrária às suas convicções, muitas delas de extrema direita.