Longe de mim contestar as crenças e superstições feitas na passagem de um ano para o outro, com o sentido de descarrego das más energias, como as pessoas geralmente acreditam.

Na verdade, herdamos essas porções culturais desde as civilizações mais antigas dos nossos antepassados, não importando se vivemos na era evolutiva da tecnologia virtual e agora da inteligência artificial.

Na noite da passagem do bastão do velho para o novo – uma data como qualquer outra – brindamos e saudamos essa entrada como se estivemos atravessando um portal com significado de renovação. O relógio continua marcando seu tic-tac. O tempo não para, como diz a canção do poeta. Sem essa de velho e novo, de novo e velho. Tudo dá no mesmo, se tudo continua no mesmo lugar. O negócio é curtir e farrear que ninguém é de ferro, como faziam os sumérios, os celtas, os romanos e outras civilizações.

Esquecemos que o novo nos torna mais velho, como uma criança que acaba de dar a luz, ou nasce do ventre da barriga da mãe. Para saudar esse novo/velho, cada um tem sua cor preferida, na maioria o branco da paz, o vermelho da paixão, o verde da esperança, o amarelo ouro da prosperidade e assim segue cada uma tendo seu significado e sua crença.

– Só não pode é usar o preto e o roxo, meu camarada! Podem dar azar. Por que, então, não misturar e vestir todas as cores? Assim a pessoa seria uma felizarda por ter tudo junto de uma só vez durante todo ano. Não seria mais coerente ter um pedaço de cada cor?

Um amigo meu foi mais longe na ousadia e disse que a pessoa que veste branco no Ano Novo também está de calcinha ou cueca da mesma cor, para não contrariar a entidade.

– Que nada, cara, pode ser azul, vermelho, verde ou rosa para unir as bênçãos divinas.

– Pode também estar sem nada por debaixo. Depende das intenções individuais de cada um – respondeu o outro ao lado que estava ouvindo o “jogar conversa fora, ou o papo furado e fútil.

E essas coisas de lentilhas, de nozes, avelãs, passas, castanhas e outras comidas importadas? Cada um também tem o seu lugar e significado de prosperidade. Não pode é comer galinha, senão vai ficar o ano todo ciscando, ou caranguejo que anda para trás.

– Lá vem você novamente com essa! Talvez por isso é que o pobre só vive lascado. Prato de pobre é feijão, arroz, farinha e um pedaço de carne, isto quando acha. Não tem também essa de cor.

– Que nada, atualmente existem as cestas básicas e as doações, pelo menos no Natal e no final de ano. Depois volta para a rotina do feijão com arroz, ou uma bolacha num copo de água, que nem é potável.

Nessa época também são recomendados os banhos de folhas para descarrego, limpar o corpo e entrar Ano Novo com novas energias para ter boa saúde, ganhar dinheiro e ficar rico.

– Bobagem! Essa é uma invenção de pobre e malandragem de vendedor, para ganhar uns trocados a mais e tomar umas cachaças.  Tem gente ruim, miserável, mão de vaca, avarento e egoísta que não tem banho que tire suas energias negativas.

– É bicho, pior que nessa você está certo. Tem gente que tem que tomar banho é de cansanção, caiçara, urtiga, espinhento ou mato brabo.

– Banho que nada! Corrupto, fanático extremista e malfeitor de colarinho branco precisam tomar é uma surra dessas ervas, e que sejam bem venenosas, para matar a carne e o espírito, sem deixar vestígio na terra.

– Olha, meu irmão, o papo está bom e foi bem cultural, coisa de intelectual, mas vamos mesmo é tomar umas e comer aquele leitão gorduroso, acompanhado de colesterol por todos os lados, que está nos esperando na mesa. Se demorarmos, não sobra nada! Vixe! Estamos com cores diferentes, ficando mais velhos e sem banho de folhas. Feliz Ano Novo!