Dizem os historiadores que os faraós do Egito reinaram por cerca de três mil anos. Nesse tempo, tivemos reis famosos, um negro, uma mulher, tiranos unificador como Menés, construtores de pirâmides, como Quépes, Quéfren e Miquerinos e tantos outros. Foi uma civilização que demorou ser reconhecida pelo mundo ocidental. Isso só começou a acontecer graças a Napoleão Bonaparte, os cientistas e arqueólogos a partir dos séculos XIX ao XX.

Um desses reis se destacou por ter sido chamado de rebelde ao se dedicar à poesia e à cultura e inventado o monoteísmo numa terra onde existiam milhares de templos com mais de três mil deuses. Trata-se de Akenaton, o intelectual devoto de Aton, o círculo solar, o Deus Único. Seus sucessores desfizeram suas obras e restauraram o politeísmo.

Este faraó mudou até as artes plásticas e os artistas tiveram a liberdade de mostrar suas feições ao lado da sua célebre esposa Nefertiti acariciando os filhos sob as bênçãos do sol. Ele viveu por volta do ano mil a.C. e compôs lindos hinos em louvor a Aton, como narra o jornalista e escritor David Coimbra em sua obra “Uma História do Mundo”.

Akenaton escreveu um encantador poema onde deixa claro o perfil do novo deus. Como seu sacerdote, Moisés absorveu sua ideia monoteísta e levou ao povo hebreu. A Bíblia situa o Êxodo no reinado de Ramsés II que nasceu cerca de sessenta anos depois do desaparecimento de Akenaton. Sobre essa passagem, o arqueólogo C.W Ceram fez uma comparação elucidativa em “Deuses, Túmulos e Sábios”.

Além de sacerdote, provavelmente Moisés foi governador da província do Alto Egito onde viviam os hicsos e hebreus, semíticos invasores do Egito. Akenaton foi sucedido pelo seu genro Tutancâmon, imagem viva do deus maior chamado Amon. Foi ele quem mandou apagar as imagens do sogro. Os sacerdotes foram perseguidos e banidos, inclusive Moisés. Sem seus seguidores, não havia mais lugar para ele no Egito. Depois de assassinar um feitor do faraó, Moisés se refugiou em Madiã, na Arábia Saudita. Lá se casou com Séfora, filha de Jetro. Com a mulher teve dois filhos.

“Moisés fundiu a religião de Jetro com a de Akenaton e, dessa forma, fundou o judaísmo”. A nova religião foi encenada no Monte Sinai através dos Dez Mandamentos, um resumo das leis existentes no Egito e na Mesopotâmia dos sumérios. Outras passagens copiadas foram a lenda do Dilúvio e do nascimento do próprio Moisés, encontrado num cesto no rio Nilo.

Das leis, Moisés adaptou apenas para dez, e o primeiro foi “Amar a Deus sobre todas as coisas”. “Foi um grande lance de marketing”. O primeiro mandamento é garantidor dos demais. A grande façanha dos Dez Mandamentos foi o monoteísmo, derrotado no ocidente pelo próprio cristianismo, que é politeísta.

No cristianismo, as divindades cristãs são guiadas por um triunvirato, Pai, Filho e Espírito Santo. Abaixo desses foi recuperada a antiga deusa dos tempos do matriarcado, do nomadismo e das religiões orientais como o mitraísmo. A Virgem Maria assume milhares de formas a depender de cada lugar com nomes para todo gosto.

Depois das deusas poderosas, abaixo vem uma legião de santos, os semideuses responsáveis por cada dia e cada área da atividade humana. Existem mais de dez mil deles. “O cristianismo é a nova vitória dos tradicionais sacerdotes egípcios politeístas”.

Dentro do próprio cristianismo existem também a culpa herdada dos hebreus com o estabelecimento dos Dez Mandamentos. Os hebreus inventaram o pecado e daí nasceu a culpa. A não obediência dos mandamentos acarreta punição e o cumprimento oferece recompensa.

“A culpa é a argamassa da civilização. Se o homem não sente culpa, ele pode fazer o que bem quiser. Se fizer o que quiser, não poderá viver com os outros. Não haverá civilização. A civilização depende da coerção dos instintos” – diz o autor do livro, ao acrescentar que entre os hebreus, a culpa foi especialmente vitoriosa.

Para entender o sucesso da culpa entre os hebreus, basta imaginar quem eram eles quando saíram do Egito e quem era o homem que os levou deserto a fora. Os hebreus eram escravos e Moisés o sacerdote de um deus caído, de uma religião derrotada lá atrás quando Akenaton se foi.