SE LIGAR, PEGA
(Chico Ribeiro Neto)
Se ligar pra apelido, aí é que pega. Infância e adolescência lembram muitos apelidos.
Na turma dos Aflitos, em Salvador, havia 3 irmãos: “Banha”, “Manteiga” e “Linhaça”. E duas irmãs magrinhas batizadas de “Irmãs Tripa”.
“Cascavel” era o maior driblador do bairro. Era um magro abusado que depois de um drible gritava “viu, puta!” e tomava logo uma porrada. Outro dia encontrei “Cascavel” num mercadinho e o tempo foi curto para muitas recordações.
Junto à minha casa (Rua Gabriel Soares, 33, Ladeira dos Aflitos) moravam os 3 irmãos “criados com vó”, que eram brancos como a porra e viviam do colégio pra casa e de casa pro colégio. Nunca entraram em nosso “baba” nem viram as Irmãs Tripa dançar o cancan de noite no passeio.
“Tristeza” era o melhor goleiro da rua. Voava nos paralelepípedos, se ralava todo, mas pegava a bola. Esse apelido foi porque ele nunca sorria, só se era escondido.
Tinha ainda “Antisardina”, apelido dado porque ele tinha muitas espinhas no rosto e usava um creme que a galera cismou ser “Antisardina, o segredo da beleza feminina”, como dizia o comercial.
O irmão de “Antisardina”, magro e comprido, era “Rui Palito”. Uma vez um menino ganhou do pai um par de luvas de boxe, de profissional, e resolveu promover uma noitada de lutas. Uma luva para cada lutador, pois só havia um par. Um sorteio definiu quem ia brigar com quem num único round de 3 minutos. Eu fui contemplado com “Rui Palito”, braço mais comprido do que o meu. Eu tomava soco no meio do nariz toda hora e perguntava aflito ao juiz quanto tempo ainda falta pra acabar e ele gritava: “Ainda tem um minuto”. Foram os 3 piores minutos de minha vida.
Lá em casa meus irmãos tinham seus apelidos: Luiz era “Zarara” ou “Bico de Anum”, Zé Carlos era “Gaguinho” e Cleomar era “Leonam” (marca de máquina de costura; ele sabia “costurar” bem no “baba”) e eu cheguei a receber o apelido de “Francis, o burro que fala”, um desenho animado. Mas felizmente não pegou.
“Pé de Valsa”, um menino que teve paralisia infantil e ficou com uma perna atrofiada (pisava na ponta do pé esquerdo), jogava bem no “baba” e dava passes preciosos. Havia ainda “Baleia”, “Bandeira”, “Zoinho”, “Atum”, “Gaiola”, “Géo Beleza”, “Mondrongo”, “Biúca”, “Diabo Louro”, “Ratinho”, “Maciste”, “Cara de Caçamba”, “Bola Sete”, “Já Morreu”, “Calunga” e “Narigolé”.
E ainda tinha “Carroça”, “Zé Leso”, “Batatinha”, “Pinduca”, “Zebrinha”, “Já Morreu”, “Arranca Toco” e “Jair Pinico”.
Luiz, meu irmão mais velho, conheceu o valente “Zeca Diabo” e me contava: “Ele joga uma navalha como ninguém. A navalha fica amarrada no dedo dele com uma borrachinha. Numa briga, ele joga a navalha, ela vai aberta, corta o sujeito e volta fechada pra mão dele”.
Na praia da Ribeira, na década de 60, havia um time de futebol formado por pescadores e canoeiros que tinha dois zagueiros imbatíveis: “Pé de Grelha” e “Gabinete”. O Bahia tá precisando dos dois.











