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A INFLUÊNCIA INDÍGENA NO NORDESTE FOI MAIS MARCANTE QUE A AFRICANA
Quando falamos de mestiçagem sempre damos destaque para o negro, só que no interior do Nordeste, a influência indígena, desde os tempos coloniais, foi mais presente e marcante, com a mistura de várias tribos que conviviam com os sertanejos nos aldeamentos.
De acordo com antropólogos, folcloristas e sociólogos, a mestiçagem do branco com o negro aconteceu em maior proporção no litoral. Ao longo da história, a impressão que temos é que os índios foram riscados do mapa, talvez porque foram praticamente extintos e exterminados.
Em sua obra “Os Cangaceiros”, Luiz Bernardo Pericás assinala que o termo “caboclo” muitas vezes era popularmente usado como sinônimo de índio ou de forma pejorativa. Muitos indígenas eram tratados como negros. Numa carta do Padre Nóbrega, de 1551, o clérigo se referia às mulheres indígenas como negras.
Descreve que em 1607, o Padre Luis Figueira designava na “Relação do Maranhão”, de “negro” Cobra Azul a Bóia obi, o morubixaba potiguara. “A quantidade de escravos íncolas no Nordeste, nos dois primeiros séculos do período colonial, era volumosa, explicando por si só tanto o uso dessa terminologia como a formação étnica da região”.
Houve um grande número de nativos escravizados no Nordeste porque o número de silvícolas era bem maior, bem como o preço do cativo negro. Existem relatos de que bandeirante Sebastião Raposo levou consigo para o Piauí 250 escravos indígenas carijós onde construiria uma fazenda de gado.
Foram levados para o Nordeste, pelos paulistas (mestiços mamelucos que se consideram brancos), 170 mil indígenas, só para trabalhar na produção de açúcar. Entre final do século XIX e início do XX, os indígenas viviam num acelerado processo de aculturação e dissolução tribal. No começo do século XX, os indígenas nordestinos viviam em condições precárias, em fase de assimilação.
Os membros de algumas aldeias ainda existentes apresentavam traços fenotípicos negroides ou caucasoides. Eles conviviam com os sertanejos de povoados vizinhos e recebiam em seus territórios mascates, tropeiros, padres e todos que quisessem com eles se relacionar. Muitos esqueceram até seus idiomas. Seus vestuários e construções eram similares aos dos sertanejos.
Cita Luiz Pericás, que a aldeia Cimbres, antes chamada de Ororubá, onde viviam índios xucurus, “brancos” e mestiços, que em 1855, possuía 861 habitantes, em 1861, tinha em torno de 789 moradores. Em 1897, o governo decidiu extinguir a aldeia. Os nativos ficaram sem seu território. Um século mais tarde, viviam aldeados na serra do Orurubá.
Os Pankararus, no sertão pernambucano, também são um caso sintomático. Eles remontam do século XVII, quando foi criada a vila Tacaratu. Em meados do século XIX havia apenas 580 indígenas. Em 1861, esse número diminuiu para 270 habitantes. Havia grande quantidade de posseiros “brancos” na região.
Nas primeiras décadas do século XIX ocorreu uma grande dispersão de uma diversidade de tribos indígenas no sertão de Pernambuco. Ao longo do tempo, as populações indígenas foram desaparecendo e tratadas como caboclos sertanejos.
Algumas tribos procuraram manter suas culturas, como os fulniôs (carijós) pernambucanos que preservaram sua língua iatê e continuaram realizando suas cerimônias de culto ao Juazeiro Sagrado na caatinga. Mesmo assim, foram sendo tragados pelos sertanejos que compravam seus lotes de terras.
Em 1861 o governo imperial extinguiu a aldeia devido aos conflitos entre índios e “brancos” locais. Somente em 1877 as terras nativas foram demarcadas. No entanto, a partir de 1916 a relação entre eles se tornou insustentável. Muitos dos habitantes originários foram expulsos.
Outros índios que tiveram destaque na formação da mestiçagem nordestina foram os cariris, tapuaias (Ceará, Paraíba), os tupinambás, Pataxós, aymorés e outros, na Bahia. Segundo Pericás, é compreensível que os cangaceiros, portanto, fossem produto de seu meio e tivessem em suas fileiras a mesma formação ética da região.
O Cabeleira, o bandido pernambucano do século XVIII era apresentado por alguns escritores como “brancoso”, de cabelos longos encaracolados. Outros o descreviam como mameluco e mestiço. Nesse ambiente de intensa mestiçagem, onde muitos bandoleiros eram caboclos ou cafuzos, existia lá dentro o preconceito contra o homem de cor.
Os Calangros, chamados de cabras, famosos bandidos potiguares, formavam uma grande família de mestiços, produtos do cruzamento do índio e do africano. O cabra era pior do que o caboclo e o negro.
UM LUGAR PRA CHORAR
(Chico Ribeiro Neto)
Quando eu morava na casa 33 da Ladeira dos Aflitos tinha um quintal que dava vista pra Baía de Todos os Santos. Havia um pequeno muro, uma grade e lá embaixo a baía, onde eu depositava minhas notas baixas e minhas tristezas. Às vezes chorava. Era bonito, no São João, ver os balões caindo no mar.
O que é que você faz quando está triste? Minha amiga Regina, de saudosa memória, chutava pedras na rua.
Tá triste? Faça tudo, menos ficar parado. Vá caminhar, lavar roupa, varrer a casa, molhar as plantas, ler, ouvir música. Rasgar papel também serve. Puxar os cabelos é outra opção.
Uns compram rosas, outros dormem ou tomam remédio. Outros escrevem.
“Entupa”, dizia meu pai Waldemar depois de me dar uns tabefes. Não sei porque alguns pais e mães (naquele tempo e até hoje) têm mania de mandar o filho engolir o choro.
Tem gente que chora fazendo “buá-buá”, bem alto, e tem gente que chora pra dentro, mal pinga uma lágrima.
Fico pensando que em cada cidade deveria haver um Chorador público, onde você não precisava pagar pra chorar. Poderia se chamar também de Choradouro ou Choródromo. Não sei como seriam as instalações, mas deveria ter plantas e silêncio. Um Chorador público, onde o político derrotado poderia derramar suas mágoas em vez de ficar planejando dar um golpe. Seria um lugar acolhedor também para a torcida do Vitória.
Logo, logo, as imobiliárias vão implantar choradouros na Linha Verde e na ilha de Itaparica, com sofisticadas instalações e o cartaz: “Aqui você chora em paz e em segurança”. Entre outras novidades, haverá ombros criados pela IA.
Vai um trecho do magistral samba “Não Tenho Lágrimas”, de Milton de Oliveira e Max Bulhões:
“Quero chorar
Não tenho lágrimas
Que me rolem nas faces
Pra me socorrer
Se eu chorasse
Talvez desabafasse
O que sinto no peito
E não posso dizer (…)”
Deixe esse papo maneiro
O melhor lugar pra chorar
Ainda é o travesseiro.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
UM ATENTADO À SAÚDE PÚBLICA
Os moradores do loteamento Sobradinho e imediações do Miro Cairo (Bairro Zabelê), em Vitória da Conquista, estão diariamente expostos à poluição de fuligens em suas casas, provocadas pela “Sucata Esperança”, o sucatão, sem contar o barulho infernal das máquinas e caminhões que soltam poeiras pelas redondezas. Essa sucata é um verdadeiro atentado à saúde pública, pois centenas de pessoas convivem com uma série de doenças, principalmente aquelas que já sofrem de problemas respiratórios. Um trabalhador, que foi prestar um serviço à empresa, contou que em pouco tempo se deparou com escorpiões, ratos, cobras e insetos de diversas espécies que invadem as habitações mais próximas. Contra essa situação de perigo constante, um grupo de moradores já elaborou um documento com um abaixo-assinados à Prefeitura Municipal, solicitando uma providência urgente do poder público no sentido da relocalização do sucatão. Como resposta teve o silêncio e o engavetamento da reivindicação, mais que justa porque se trata de uma questão de saúde. Nossas lentes flagraram este absurdo que nenhum prefeito se dispôs a solucionar e atender o clamor desses milhares de moradores. Existem pessoas que já convivem todo tempo com tosses persistentes, falta de ar e nem conseguem dormir bem durante à noite. Muitas casas próximas ficam fechadas durante todo dia porque não podem abrir as portas por causa da fuligem. Mesmo assim, sempre estão sujas e precisam ser limpas constantemente. Muitos levam a coisa até no deboche e chamam essa parte da cidade de a rota do lixo. O Ministério Público, a Câmara de Vereadores e outros órgãos precisam avaliar a questão e pressionar a prefeitura a resolver o problema porque o sucatão representa a morte prematura de muita gente.
PEDAÇOS DE MIM
Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Meus sentimentos,
Vagueiam em alto mar,
Como pedaços de mim;
Meu choro rasga minhas entranhas:
São lágrimas internas em meu jardim,
Como pedras que rolam das montanhas.
Pedaços cortados de mim,
Amor inculto a dilacerar;
Sou como pássaro solitário,
Na caça da fome a voar.
Pedaços entrelaçados de mim,
Tropeço aqui e acolá;
Na estrada que tem seu fim:
Morte, castigo do Alá.
Sou apenas um passageiro,
Vulto, sombra e confusão,
No andar cambaleante da contramão.
Pedaços doídos de mim:
Dizem que a vida é canção.
Nas curvas, não vejo assim, não,
Quando bate a melancolia,
Parto para outra estação.
Minha alma está inerte,
Nesse cenário teatral;
Navegam pedaços de mim
Pelo mundo sideral.
Vem a tempestade e me açoita,
Sem pena e compaixão;
Seguro firme no chão,
Sinto que ela vai me estraçalhar,
Mas sou guerreiro forte,
Sei que vou me salvar.
A DUPLICAÇÃO DA RIO-BAHIA É UMA NOVELA DO FIM DO MUNDO
A duplicação da Rio-Bahia (BR-116), a estrada mais criminosa do Brasil, principalmente no trecho que corta e região de Vitória da Conquista, virou uma novela do fim do mundo. Sempre aparecem historias escabrosas, enquanto acidentes matam pessoas diariamente.
Um desses capítulos indigestos de vilões sinistros manipuladores capitalistas, que durou anos no ar, foi a Via Bahia que encheu sacos de dinheiro dos usuários e depois deu uma banana para os governantes e toda sociedade. Ela foi cínica nesta terra onde a lei não é respeitada e ainda levou um bom quinhão na parte que não lhe cabia. Noutro país, seus dirigentes estariam na cadeia.
Agora a dramaturgia insensata e trágica está nos apresentando a aprovação – não dá para acreditar mais em nada – do projeto da nova concessão, com uma moldagem, segundo se fala, com novidades e inovações. Tenha medo desses termos. Uma delas seria acabar com a cobrança de pedágios.
Parece um “samba do crioulo doido” porque antes foi anunciado que iriam implantar pedágios de 50 a 50 quilômetros, um absurdo dos absurdos para os que nela transitam. Agora é o governo federal, através do Denit e da ATT – Agência de Transportes Terrestres que segue escrevendo essa novela macabra carregada de sangue e lágrimas.
Estão por aí anunciando que vão instalar o “Free flow” (vamos no português gente!), que significa fluxo livre. Explicam que, através de câmaras, faz-se a leitura das placas dos veículos e a cobrança vai para o endereço do proprietário. Deu para entender? Isso não vai dar certo. Vai ter muitos questionamentos na justiça.
Pois é, ao invés de simplificar, querem é complicar. O certo seria não cobrar nada porque o contribuindo já está arrochado de impostos e taxas. A informação que se tem é que também existem outras inovações planejadas, mas não se sabe quais. No Brasil, quase nada é planejado. É tudo na base do improviso.
De acordo com o empresário José Maria, do Movimento Empresarial Conquista, uma das novidades que está prevista não é a duplicação tão esperada, mas sim o aumento de capacidade. Significa que haverá alargamento da pista existente, permitindo que ônibus, carretas e veículos lentos trafeguem pela faixa direita, concedendo fluidez no trânsito.
Está vendo aí? Tudo não passa de enrolação, conversa para “boi dormir”, coisa para “inglês ver”. Aqui no Brasil, as coisas só se resolvem na tora ou no grito. Na prática, essa ideia pouco funciona. Vai ser um tal de invadir faixa!
De acordo com Zé Maria, esse termo de aumento de capacidade poderá ser segunda faixa, ou faixa adicional e até duplicação. Durmam com um barulho desse! É uma mistura de alhos com bugalhos, coisa de arremedo, tapar buraco de barco velho.
“ Cremos que, apesar da demora, tivemos avanços”. Que avanços, meu caro Zé Maria? Todo dia morre gente nessa Rio-Bahia! “O mais importante foi a saída da Via Bahia. Outro foi a perspectiva das melhorias projetadas. Agora vamos aguardar o Tribunal de Contas da União dar o seu parecer. Estamos num momento de mobilizar a sociedade para publicação do edital”.
Até quando vão abusar da nossa paciência, oh Catilina!. Vamos chamar o romano Cícero, “doutor” na oratória, para colocar ordem nessa casa, ou ressuscitar o imperador Júlio César para resolver de vez essa questão, na base do vai ou racha. Cadê a mobilização da sociedade?
Zé Maria ainda desabafa que “temos suplicado – não temos que suplicar e se humilhar – pelas faixas adicionais e segundas faixas no trecho de Belo Campo até Planalto, mas o pedido não ecoa. Só vai ecoar quando se decidir fechar pistas, com pneus, paus e fogo.
Na verdade, o ponto crítico dessa BR, na Bahia, começa em Milagres e termina em Cândido Salles onde se registra acidentes quase todos os dias. Para rodar nesse trecho é preciso ter muita perícia e nervos de aço. No mais é tomar um banho de descarrego ou se benzer com um pastor ou um padre. Quem sabe o Papa não resolva esse problema!
Temos ainda a questão vergonhosa que nunca é solucionada. Trata-se do Anel Viário de Conquista, sem viadutos e passarelas. Tormento é pouca coisa para definir a situação caótica. Vamos logo no popular: O que temos é um Anel sanguinário matador.
QUANDO SE MORRE…
É raro, mas vez por outra acontecem xingamentos e vexames em velórios e enterros quando se morre. Predominam o silêncio e a voz baixa, do cochicho no “pé de orelha”. Cada um faz rasgos de elogios ao falecido, mesmo que ele não tenha sido gente boa em vida. Tem os que vão de óculos escuros, inclusive à noite, para passar a impressão de pesar e sentimento de que até chorou.
– Este peste cafajeste morreu tarde! Olha aí esse bando de amantes bandidas, vagabundas e putas chorando em seu caixão! Nunca prestou, só vivia nos botecos e não se importava para os filhos. Me deixou à mingua. Vale a vingança afiada até na morte.
Este é o brado de uma senhora dona de casa que “rodou a baiana” e descarregou sua mágoa no ato da despedida finita do marido irresponsável. São coisas que acontecem mais nas classes baixas. Entre os ricaços, tudo é hipocrisia e os podres não aparecem, são levados para debaixo do chão.
Existe também aquela hilária cena do bêbado que entra no velório e faz o maior escarcéu contra o defunto? Mas também tem os parceiros das cachaças que abraçam o caixão e revelam segredos do “arco da velha” que todo mundo fica passado de vergonha. Uma decepção para os parentes, “amigos” e familiares. Aí, meu camarada, as fofocas se espalham pelas redondezas.
Tem aquele agiota ou credor que aparece com uma bolsa do lado e vai logo na maior cara de pau cobrando a dívida do morto. Abre os papéis de recibos e promissórias (ainda existem?) e mostra para o cônjuge e filhos. Coisa de louco no mundo do capital onde o dinheiro é o deus supremo!
Quando o sujeito é tão miserável e perverso, como os “coronéis” da antiga, rejeitado por todos, os filhos ou a esposa contratavam e ainda contratam as carpinteiras para chorar a noite inteira pela alma do facínora que “bateu as botas”. Elas ficam secas por dentro de tanto derramar suas lágrimas, mas ganham uns trocados para comprar um pedaço de pão.
Pelas brenhas do sertão nordestino já teve caso de se deixar o caixão do defunto na estrada antes de se chegar ao cemitério porque o indivíduo não prestava e tinha muitos inimigos. Na estrada para o cemitério, os caras dão uma parada e sentam no caixão para tomar umas pingas pelo defunto.
-“Vamos deixar esse “cabra” aqui mesmo na encruzilhada, compadre. Ele não mercê nossa consideração. Quem quiser que leve até o final do seu caminho. Esse indivíduo avarento sempre foi uma mão de vaca e ranzinza.
No cangaço, os chefes cangaceiros costumavam matar soldados “macacos” e desafetos e ordenar que os corpos não fossem enterrados. Ai de quem ousasse fazer o contrário! Na ditadura esquartejavam e desapareciam com os corpos dos presos políticos.
Tem o velório e a morte do pobre, do rico, do bandido, do poderoso político, do chefe de Estado e das celebridades famosas no mundo das artes que são diferentes uns dos outros, uma prova de que as desigualdades sociais não existem somente durante a vida.
As desigualdades profundas estão escancaradas até nos nos cemitérios das covas rasas de uma só cruz enterrada na terra e dos túmulos cimentados. Lembra o poeta João Cabral de Melo Neto, com seu poema “Morte e Vida Severina”. Ele conta a história do retirante e possui um trecho sobre o funeral de um lavrador, onde descreve uma “Cova grande/ Para teu defunto parco”.
Cemitério de rico é cheio de obras de artes de pedras preciosas, de mármores, granitos e decorações. As chamadas “carneiras” são grandes e sofisticadas com gavetas para abrigar toda família. Tem locais que se transformam em visitação turística.
Quem tem interesse em conhecer um cemitério de desvalidos e excluídos da sociedade? Pobre quando morre é mais um número que se vai. Em alguns locais o mato toma conta e se tornam pastagens de animais.
Coisa é quando parte um famoso ou famosa. Lá vêm os depoimentos cheios de chavões, adjetivos e superlativos, de inconfundível na sua maneira de ser, de coração bondoso, generosíssimo, de só vivia de bem com a vida, só sorrisos e alegria, insubstituível e por aí vão os falatórios de sempre.
A pessoa de projeção parece perfeita e santa, sem defeitos e ruindades quando morre. Vai todo mundo para o céu e nem passa pelo purgatório. Nada de inferno. Uns vão festejar no além, contar causos e piadas, fazer cantorias e rodas de conversas. Outros intelectuais, escritores e poetas vão discursar, travar debates acadêmicos, escrever e poetar.
No Brasil existe o costume ou a cultura de somente se prestar homenagem à pessoa depois de morta. Enquanto viva, é um simples esquecido, mesmo que só pratique o bem e seja um lutador das boas causas. Quando se morre lá vem gente querendo levantar estátuas, fazer homenagens com moções de aplausos e títulos. Aparecem mais mentiras que verdades quando se morre…
CÂMARA DISCUTE EDUCAÇÃO
Na pauta da sessão desta quarta-feira (dia 10/09/2025) da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista estarão em discussão processos enviados pelo poder executivo, como o Prêmio Educação Conquista, mudanças no Estatuto e Plano de Carreira do Magistério, bem como a criação da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social.
Da parte do legislativo, os parlamentares vão debater diversos assuntos, tais como penalidades para quem usar bonecas reborn para obter benefícios previdenciários, dentre outros programas públicos, o Programa “Ruas do Lazer”, o incentivo à prática de atividades físicas com o “Conquista em Movimento” e o Programa de Empreendedorismo Sustentável de Conquista.
Na ocasião, a Câmara também vai apreciar a concessão de títulos de cidadão conquistense. Os trabalhos devem ser abertos por volta das nove horas da manhã pelo presidente da Mesa Diretora, Ivan Cordeiro. Espera-se que os conquistenses participem em maior quantidade de número das sessões do legislativo municipal porque são de matérias do interesse de toda comunidade.
O SARAU NA ESTRADA
O Sarau A Estrada vai literalmente colocar o pé na estrada e realizar seu primeiro evento no dia 3 de outubro próximo, na Praça Barão do Rio Branco, às 16h30min, para reivindicar do poder público que a cultura seja ouvida e tratada como deve ser, como arte de expressão legítima do nosso povo. Vamos dizer que cultura também é vida, como o ar que respiramos.
Essa decisão de sairmos do nosso ambiente e irmos ao encontro do povo, como disse Milton Nascimento, “ o artista tem que ir a onde o povo está”, foi tomada na nossa reunião extraordinária do último sábado, seis de setembro, com um discurso alinhado de que queremos uma política cultural para Vitória da Conquista.
Do encontro participaram a professora Deisy, do Movimenta Cultura Conquista, do professor e artista Herberson Sonkha, jornalista e historiador Fábio Serna, estudiosa do tropeirismo Maris Stella, professor Itamar Aguiar, Dernival, professora Vandilza Silva Gonçalves, professora e poetisa Viviane Gama, da presidente da Comissão do Sarau, Cleu Flor, poeta Dal Farias e do jornalista e escritor Jeremias Macário.
O Sarau na Estrada é, portanto, um movimento integrado e que convida todos artistas, abrangendo todas linguagens, intelectuais, estudantes, professores, trabalhadores, jovens e, principalmente, toda sociedade a se fazerem presentes neste ato, unindo forças no sentido de que a cultura seja revitalizada em nossa cidade.
“Temos Fome de Cultura”, assim clama o Movimenta Cultura Conquista que já apresentou, no início do ano, um documento ao poder executivo, incluindo a Secretaria de Cultura, com quatro mil assinaturas, contendo todas as reivindicações do setor.
Ocorre que esse documento, elaborado com muita luta e sacrifício pelos seus membros e outros colaboradores, simplesmente foi engavetado e não teve resposta, o que significa que a administração preferiu não abrir o diálogo com os artistas. Em resumo, até hoje, tivemos o silêncio como resposta. O Movimenta promove a valorização de diferentes culturas e combate o preconceito.
Qual a importância da Cultura? É uma indagação aberta pelo Movimenta, respondendo, em seguida, que amplia horizontes, estimula a criatividade das pessoas, promove o aprendizado, gera empregos e impulsiona setores como o turismo, entretenimento e o artesanato.
Dessa forma, todos integrados num mesmo propósito, vamos à Praça Barão do Rio Branco, no dia 3 de outubro, apresentar, entre outras reivindicações, a reforma e a abertura dos equipamentos culturais Teatro Carlos Jheovah, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha que há anos se encontram fechados.
Queremos que essas portas sejam abertas já, para que os artistas em geral tenham espaços livres para realizarem seus ensaios, seus projetos e apresentarem seus espetáculos ao público. Queremos a revitalização da nossa cultura.
Essa é uma reivindicação mais urgente, mas temos outras que irão fortalecer a nossa cultura, como a criação do Plano Municipal de Cultura com sua Fundação Cultural ou uma empresa para administrar as atividades do setor, como o audiovisual, o cinema, o teatro, a literatura, a dança, a música, dentre outras.
Também queremos a preservação e conservação do patrimônio arquitetônico da cidade, que o Conselho Municipal de Cultura seja respeitado e tenha voz, que seja criada a Casa dos Conselhos, realização de festivais de música, artes plásticas e feiras literárias.
A nossa pauta é um direito, não somente dos artistas, mas de toda comunidade, tanto que pedimos ainda a criação de núcleos culturais nos bairros, de modo que nossas tradições sejam mantidas e cultivadas, sendo de fundamental importância o apoio aos nossos jovens talentos.
É bom que fique claro para todos segmentos da sociedade que as nossas reivindicações são suprapartidárias. Queremos tão somente que se abram os investimentos e os recursos para que seja implantada uma política cultural séria e sólida em Vitória da Conquista. O nosso clamor é pela revitalização da nossa cultura.
INDEPENDÊNCIA COM SANGUE
Nas escolas primárias aprendemos que a Independência do Brasil se deu com o Grito do Ipiranga, de D. Pedro I, de “Independência ou Morte”. O ato em si foi utilizado para criação de deboches e piadas. No entanto, como em todos os países do mundo, a independência aconteceu com lutas e derramamento de sangue.
A ideia de independência começou lá pelo século XVIII com os movimentos revolucionários, com os levantes e as rebeliões e se consumou no século XIX, em 1822, mas ainda encareceu de batalhas sangrentas na Bahia, no Piauí, Maranhão e Grã-Pará, para expulsar de vez os portugueses do território, em 1823.
Até mesmo antes do Grito do Ipiranga, tudo já vinha sendo tramado através de cartas, documentos e planejamentos, tendo como um dos cabeças o patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada.
Nesta data, como em Vitória da Conquista, todas as cidades celebram o Sete de Setembro com a participação do povo, mas, infelizmente, tem servido de palco para os políticos se projetarem e pedirem votos, mesmo que seja de forma indireta.
Em Conquista, fizeram parte das comemorações, as polícias militares e civil, o Corpo de Bombeiros, as escolas públicas e privadas com suas tradicionais fanfarras, os movimentos de mulheres, de negros, índios e a turma dos excluídos com suas reivindicações.
Por falar nisso, quase toda população brasileira ainda é excluída de seus direitos constitucionais, como à saúde e à educação, principalmente. A nossa democracia ainda é relativa, tanto que a nossa liberdade e a nossa soberania sempre vivem ameaçadas no âmbito interno e externo. O processo de independência continua dentro de cada um.
O ESTADO TEM UMA DÍVIDA COM AS MULHERES NORDESTINAS ESTUPRADAS
Durante quase 100 anos mulheres nordestinas, entre crianças, jovens e adultas, foram estupradas pelo cangaço e pelas volantes de forma cruel e brutal. O Estado corrupto foi negligente e conivente com essa situação porque suas forças, além de precárias e despreparadas, foram as maiores estupradoras dessas mulheres desprotegidas, também vítimas dos cangaceiros.
Por muitos anos, entre o meado do século XIX até quase metade do século XX, essas mulheres, além do sistema patriarcal opressor onde os homens eram seus donos e as usavam como mercadorias, viviam boa parte do seu tempo escondidas nas caatingas, ora fugindo dos bandoleiros, ora das volantes que estupravam crianças e até idosas. Elas viveram anos de terror sem nenhuma proteção do Estado.
Sobre o assunto, vejamos o que descreve o escritor e pesquisador Luiz Bernardo Pericás em sua obra “Os Cangaceiros-ensaio de interpretação histórica”. Ao falar sobre o ato de ferrar pessoas pelo cangaço, ele cita que o mais famoso “ferrador” de mulheres foi o “Zé Baiano”, do bando de Lampião, também conhecido como a “pantera negra dos sertões”.
Em 1932, depois de receber em mãos uma carta “provocadora” escrita por algumas “damas respeitáveis” da cidade de Canindé, onde mandavam um recado para Lampião de que se ele desaprovava cabelos curtos em mulheres, elas iriam fazer o que bem entendessem, pois não eram donas do rei do cangaço.
Como lição, Lampião invadiu a cidade e mandou o “Zé Baiano” marcar a ferro em brasa o rosto e outras partes íntimas do corpo das mulheres casadas ou parentes de soldados, com sua marca “JB”. Ele também cortava as línguas das mulheres que usassem maquiagem e vestidos curtos.
O bandido Lucas da Feira, baiano nascido num povoado de Feira de Santana, que formou um bando a partir de 1828 até 1840, responsável pelo assassinato de cerca de 150 pessoas, estuprava as filhas dos senhores rurais num misto de bullying e de ódio racial.
“Sua crueldade chegava a tal ponto que costumava, depois de consumado o estupro, passar mel de abelha nas jovens, que eram amarradas, sem roupas, em tronco de árvores para serem devoradas pelos insetos e animais. Lucas chegou a “sangrar o ventre” de uma mulata em adiantado estado de gravidez com “lapadas de relho cru”.
Era notório sua crueldade para com as mulheres. Lucas crucificou uma jovem branca de 15 anos num pé de mandacaru, repleto de espinhos, tão somente porque foi rejeitado por ela. O bandido se relacionava muito bem com figuras políticas locais de prestígio, para as quais prestava serviços.
As volantes, que perseguiam os cangaceiros, quando chegavam em algum vilarejo ou cidade, descarregavam todas suas raivas por serem mal pagos pelos governos (muitas vezes ficavam sem receber seus soldos ou eram “pagos” com dinheiro falso) nas mulheres que eram vítimas de estupros e outras atrocidades bárbaras.