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:: 19/jul/2025 . 0:25

RESPEITEM O NORDESTE, NÃO É FEIRA DOS PARAÍBAS!

– Você vai visitar a feira dos paraíbas? Ontem eu fui à feira dos paraíbas lá no Bairro de São Cristóvão.

É assim que os cariocas e sulistas, com preconceito e ignorância, falam quando alguém vai à Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, que homenageia o nosso rei do Baião, Luiz Gonzaga, músico, cantor e compositor conhecido mundialmente pelas suas canções ao som da sanfona.

Suas letras e de seus parceiros Humberto Teixeira, Dantas e Patativa do Assaré, principalmente, narram a vida, costumes e hábitos do povo nordestino. Pode-se dizer que Luiz Gonzaga colocou o Nordeste no mapa do Brasil como grande centro da cultura popular.

Para esses ignorantes e preconceituosos, a Feira de São Cristóvão surgiu nos anos 40 e 50 por trabalhadores nordestinos durante a construção da Rio-Bahia, de maneira informal no entorno do Pavilhão que homenageia o santo. Eles saíram do Nordeste em busca de emprego.

Com o tempo, o local se tornou num reduto cultural, ganhando infraestrutura e se consolidando como espaço de comércio e lazer. Além das barracas de produtos variados do Nordeste, a Feira possui vários espaços de apresentações da cultura popular da região, como maracatu, bumba meu boi, quadrilhas de forró e até o samba que nasceu na Bahia.

Não é feira dos paraíbas, seus ignorantes, e sim, Centro Cultural Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, ou pode ser, simplesmente, Feira dos Nordestinos. Sua história está ligada à cidade do Rio de Janeiro, sobretudo a partir de 1945, quando os nordestinos começam a se concentrar no Campo de São Cristóvão, onde encontraram trabalho.

As barracas de comidas típicas do Nordeste, como a carne de sol, cozido e assado de bode, tapioca, baião de dois, dentre outras, se somaram às apresentações de forró, xaxado e repentes. O local se tornou num ambiente festivo, marco da cultura nordestina no Rio de Janeiro.

A Prefeitura do Rio de Janeiro reformou o antigo pavilhão, projetado por Sérgio Bernardes, em 2003, com objetivo de abrigar a Feira e cerca de 700 barracas onde se encontra de tudo, como chapéus, tecidos, rendas, artesanatos, gibões de couro, objetos usados pelo cangaço e bons restaurantes servidos pelos nordestinos baianos, paraibanos, potiguares, maranhenses, alagoanos, sergipanos, cearenses, pernambucanos e piauienses.

Foi isso, mais ou menos, que disse para um paranaense, no Rio de Janeiro, quando indagou se eu já havia visitado a feira dos paraíbas. Ele se expressou de uma forma sarcástica e ainda deu aquela risada marota de menosprezo. “Não é feira dos paraíbas”.

Os sulistas (nem todos) sempre tiveram preconceito com relação aos nordestinos, chamando-os de candangos, retirantes, cangaceiros e subdesenvolvidos que fugiram da seca para matar a fome, principalmente, em São Paulo. Eles carregam esse estereotipo em suas mentes vazias.

No entanto, desconhecem por completo o outro lado da sua riqueza cultural, do seu potencial de escritores, políticos, intelectuais, poetas, músicos, repentistas e folcloristas famosos mundialmente. Não reconhecem, inclusive, que foi o povo nordestino que construiu São Paulo e outras grandes cidades em seu entorno.

Em São Paulo, por exemplo, eles costumam chamar todos nordestinos de baianos e ainda fazem piadas negativistas, como se nossa gente fosse burra e preguiçosa. Esse preconceito foi muito alardeado e cheio de intolerância durante as eleições passadas quando os nordestinos votaram de formam contrária às suas convicções, muitas delas de extrema direita.

VIELAS NOTURNAS

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, extraído do seu livro NA ESPERA DA GRAÇA

Pelas esquinas e avenidas curvas:

Raios de luzes deslizam no asfalto;

Cada alma busca suas curas;

Sangue risca no assalto,

Saído das vielas noturnas.

 

Nesse existir só valem fortunas;

Na mente,

Aquela senhora calma-serena,

Que via o invisível,

Atrás da sua lente,

E o olho da câmera,

Meus passos vigia;

Rogo ao tempo

Que não nasça o dia,

Para vagar eterno

Nessas vielas noturnas.

 

A noite invade a madrugada;

No lixo colho osso e uma salada;

Os prédios,

São como caixões de urnas,

Na solitária dor das vielas noturnas.





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