NÃO SE VIAJA MAIS COMO ANTIGAMENTE
Acho que nunca ouvi ninguém dizer que não gosta de viajar! Sempre se diz que viajar é conhecer pessoas, outras culturas e adquirir conhecimento e saber, mas muita coisa mudou nos últimos tempos com o advento da tal tecnologia, principalmente do celular.
Seja de ônibus, de avião ou carro particular (no passado tínhamos o saudoso trem), as pessoas ao lado se comunicavam muito mais durante a viagem. Entabulavam uma boa prosa e, no destino final, cada um se tornava conhecido do outro. Tornavam-se até amigos que depois se correspondiam pelo resto da vida.
Fui ao Rio de Janeiro semana passada de avião, meu amigo, com conexão em Guarulhos, fazendo o mesmo percurso na volta, e fiquei observando o comportamento das pessoas. Parece que não pertencemos mais à espécie humana. Aliás, até acho que não sou mais dessa espécie!
Antigamente, isto há uns 30 ou 40 anos, a pessoa antes de se sentar na cadeira – era espaçosa – ia logo dando um bom dia, boa tarde ou boa noite. A partir dali se começava um papo saudável que você nem sentia passar o tempo. Até quem tinha ou ainda tem medo de avião, terminava se descontraindo, se relaxando. Nem dava para perceber a turbulência, ou quando ocorria, o outro lhe acalmava.
– Olá, você mora aonde e vai para onde? Vai a passeio ou a trabalho? Ah, se ainda não conhece a cidade, vai gostar! Não deixe de visitar tais e tais pontos. Já fui várias vezes e adorei, sempre estou voltando lá. A conversa ia se esticando tanto que duas horas mais pareciam dez minutos.
Hoje o passageiro entra no ônibus ou no avião com a cara fechada, de celular na mão, e nem faz uma saudação. Se puder lhe dar um chega pra lá, como se o outro não passasse de mais um animal inimigo, um bicho a lhe atormentar.
Na ida, por desatenção, sentei na poltrona errada, ao lado da janela. – Este lugar aí é meu. Você está na cadeira errada – disse de lá o sujeito que quase nem olhou para mim. Nem ao menos considerou minha idade. A gentileza é zero e não adianta puxar conversa.
Fiquei apertado entre dois idiotas de cabeça baixa grudados no celular durante quase duas horas de viagem. Como levei um livro, prontamente abri meu velho sábio amigo e fui proseando com ele. Mesmo concentrado na leitura, não conseguia e não consigo entender como o ser humano mudou tanto, e para pior!
Imaginei os velhos tempos de repórter quando voava pelo Brasil a trabalho. Os parceiros ou parceiras de cadeiras, bem mais confortáveis e com serviço a bordo de primeira, iam jogando conversa fora e até tomando uma bebida. A aeromoça, como se chamava, lhe cumprimentava com um sorriso no rosto. Tudo isso se acabou.
Ah, que saudades daqueles tempos! Viajar de avião atualmente é aquele tédio, a começar pelo aeroporto. É aquela checagem ou secagem que só falta lhe deixar de cueca, ou calcinha, se for mulher. Se você inventar de tomar um cafezinho simples numa lanchonete, custa dez reais.
Quando decola, lá vem aquela gente com um carrinho lhe dando um saquinho de plástico com uns grãos de batatinha com gosto de papel, uma água ou uma merda de um refrigerante. Na cadeira, você mais parece um sanduiche que não dá nem para estirar as pernas.
Nas cidades grandes, você vai visitar os pontos turísticos e lá está aquele moço ou moça sisudos lhe dando ordens. Ninguém fala com ninguém nas ruas, num bar, num restaurante ou ponto de ônibus. É cada um com o celular na mão. Nem peça uma informação que a pessoa não lhe ouve, a não ser que se dê um grito para o estúpido. Cuidado, ele pode lhe esmurrar!