:: 10/jul/2025 . 23:04
OS 15 ANOS DE UM ENCONTRO CULTURAL
Foi num inverno friento como este, em 2010, que nasceu o Sarau a Estrada, naquele ano com o nome de “Vinho Vinil” entre os amigos Jeremias Macário, Manno Di Souza e José Carlos D´Almeida. Dalí surgiu um grupo cultural que perdura até hoje sendo realizado de dois em dois meses no Espaço Cultural do mesmo nome. A ideia inicial era somente reunir artistas, intelectuais e amigos para só ouvir vinis e tomar vinho, com objetivo principal de valorizar os velhos “bolachões”. O bom som combinava com a bebida. Os anos foram se passando e mais gente foi chegando até que criamos o formato de sarau, com o nome de A Estrada, com debates de um tema na abertura, cantorias de violeiros, contação de causos e declamação de poemas. De lá para cá realizamos diversos projetos culturais, com apresentação em público, até sermos reconhecidos pelo Conselho Municipal de Cultura com o troféu Glauber Rocha. Agora estamos completando 15 anos de existência e vamos fazer uma comemoração a esta jornada estradeira, no próximo dia 26. Além das atividades culturais, sempre nos acompanharam a bebida e a comida, tudo dentro da cordialidade e da paz. Vamos também prestar uma homenagem aos que partiram para outra dimensão e deixaram suas contribuições na troca de ideias, conhecimento e saber. Resistimos até o período da Covid, de 2020 a 2022, com lives e vídeos de textos poéticos divulgados nas redes sociais. Nossas lentes fotográficas registraram um flagrante desses memoráveis encontros. Nossos abraços e nossos agradecimentos a todos companheiros estradeiros.
QUEM TEM MEDO DE ALMA?
(Chico Ribeiro Neto)
As portas rangem, as janelas batem sozinhas e as lâmpadas ficam acendendo e apagando. É sinal de assombração.
Em Ipiaú (BA), Tio Rubens reunia todo mundo na sala de jantar, à noite, pra contar casos de assombração. Ele apagava a luz do corredor, só deixava a da sala, para criar mais o clima.
Uma das histórias era a de um homem que vinha à noite dirigindo por uma estrada quando viu um corpo no acostamento. Parou o carro, foi lá e era um homem morto. Chamou logo sua atenção um belo anel de brilhante no dedo. Ele tentou tirar o anel, não conseguiu e aí puxou o canivete, cortou o dedo do defunto e foi embora.
Dois anos depois ele passa pela mesma estrada, à noite, e vê um homem todo de preto pedindo uma carona. Para o carro, o cara entra e começam a conversar. Quando chegam na cidadezinha onde o carona vai saltar, o motorista se despede dele e, ao apertar sua mão, vê que lhe falta um dedo e pergunta:
“Por que você não tem um dedo?”
“Ah, moço. Uma vez, eu estava morto numa estrada passou um sujeito, tentou arrancar meu anel, não conseguiu, e aí cortou meu dedo”.
“Que absurdo! E você sabe quem foi?”
“FOI VOCÊ!!!” (gritava Tio Rubens e todo mundo estremecia).
No final, quem tinha coragem de ir pro quarto dormir? Deitado na cama, ouvia barulhos esquisitos, passou um vulto no corredor e via as telhas se mexerem.
Quem não ouviu histórias do lobisomem? Segundo a lenda, o lobisomem é um homem que se transforma numa criatura semelhante a um lobo e que aparece nas noites de lua cheia a partir de meia-noite. Sua aparição vem acompanhada de cheiro de carne podre e de enxofre. Na Roma antiga já havia lendas sobre o lobisomem, segundo historiadores.
Um contraponto. A peça “Pluft, o fantasminha”, escrita por Maria Clara Machado em 1975, é sucesso até hoje. Pluft é um fantasminha diferente, que tem medo das pessoas. Sua vida dá uma reviravolta com a chegada de Maribel, uma menina sequestrada pelo pirata Perna de Pau, e os dois fazem uma grande amizade na luta contra o vilão.
Segundo Rosane Svartman, “Pluft é uma história bem atual, fala do medo do que é diferente e de como o afeto pode vencer o medo. Pluft tem medo de tudo que não conhece e ele conhece muito pouco do mundo. Daí vem o grande medo de gente, algo que nunca viu”.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
DO ALGODÃO E DA CANA
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, extraído do seu livro NA ESPERA DA GRAÇA
Na mistura da pluma do algodão,
Com o melaço engenho da cana,
Nasceram o blues e o samba,
E os dois acorrentados vieram,
No aço do negreiro navio porão,
Arrancados da mãe nação africana.
Das lavouras do algodão veio o blues,
No lamento Mississipi e do Alabama;
O samba jorrou do bagaço da cana,
Ao som dos tambores do terreiro baiano,
Com a dança dos bantos aos seus santos,
No pilão do café com cuscuz nigeriano.
Das marcas dos chicotes lacerantes,
Do branco ianque norte-americano,
Do suor escorreu a saudade do Congo,
Onde o filho em seu peito amamentou,
Cresceu livre igual a ave e o calango,
Em sua tribo com sua gente de cantantes.
No castigo do tronco gemido de dor,
E no estupro das escravas africanas,
Chorando em seu leito o sujo sêmen,
Do escravista senhor que na noite vem,
Germinaram o blues, o samba e o sonho,
De uma igualdade que ainda não chegou.
No pisado do blues, e no passo do samba,
Ainda estão abertas feridas das chibatas,
Cicatrizes do eito do algodão e da cana,
Dos negros fugidos, caçados nas matas,
Para escapar dos horrores da escravidão,
Que manchou de sangue nosso chão.
SÃO ESSES OS INDIVÍDUOS QUE SEMPRE DIZEM SER PATRIOTAS?
Não estou aqui de forma alguma a defender o presidente da República, mas a soberania do nosso país que foi atacado e retaliado por um maluco neonazista dos Estados Unidos, instigado por um bando de indivíduos do mesmo quilate que sempre abre a boca suja para dizer que é patriota.
Esse grupo de extremistas fascistas conseguiu iludir parte do nosso povo inculto com aquele velho slogan de pátria, família e tradição. Certa vez, o ex-presidente capitão (evito falar o seu nome) virou para a bandeira dos ianques e declarou que para ela batia continência. A esta altura o nosso empresariado deve estar pensando que a culpa toda é de Lula.
Seu filho, o do capitão, expulso do exército, pediu licença da Câmara dos Deputados para morar nos Estados Unidos, com o propósito de fazer lobbie junto aos republicanos para mandar seu presidente Trump, outro golpista, atacar desaforadamente o Brasil, ameaçando de retaliações com taxações em nossos produtos de exportação.
Não é o presidente Lula o prejudicado, mas o Brasil como um todo. É assim que essa família de desajustados pratica o patriotismo? Seus seguidores imbecis embarcaram nesse barco furado e podre para cometer atentados contra a democracia, indo para as ruas com faixas e cartazes pedindo intervenção militar, ou seja, um governo ditatorial.
O ato de oito de janeiro de 2022 foi uma cena horrorosa, digna de uma corja de trapalhões que caíram do trapézio e se esborracharam no chão porque não contou com o respaldo total das forças armadas.
Se tivesse ocorrido um golpe com as armas das tropas, o capitão Bozó e seus filhos seriam os primeiros a serem presos e uma junta militar iria governar o país com seus coturnos ditatoriais. Esses seguidores não passam de inocentes úteis que não têm a mínima dimensão do seja uma ditadura, um regime de opressão.
Com o depravado do Trump, os Estados Unidos hoje, pela primeira vez em sua história, estão vivendo uma disfarçada ditadura. Este país não é mais aquele do Thomas Jefferson e do Abraham Lincoln, libertador dos escravos e defensor da democracia, mesmo se tratando de uma população originalmente evangélica conservadora.
O que mais lamento em tudo isso é que uma grande parte da nossa população alienada burguesa é fascinada por esta nação de cultura superficial, com gosto de papel e sanduiche, que nem sabe geografia mundial, nem onde fica o Brasil, a Argentina ou o Chile.
Não consigo entender como os nossos jovens e turistas endinheirados se humilham de joelhos nas embaixadas e consulados norte-americanos para obterem um passaporte de entrada. Antes de conseguir essa permissão, são sabatinados com todo tipo de pergunta e ainda devassam suas vidas.
Agora mesmo o Trump impôs que antes de liberar um passaporte para brasileiro (outras nações também estão inclusas no rol) a embaixada ou consulado faça uma severa investigação nas redes sociais sobre a vida do pretendente. Quem já visitou Cuba não pode ser “agraciado” com a entrada. Lá, o brasileiro é visto como um marginal, um bandido, suspeito como terrorista ou um índio saído da floresta.
Mesmo assim, essas pessoas se submetem a tamanha humilhação para visitar Nova Iorque, a Disney ou outra capital de gente imperialista que se acha uma raça superior. Na concepção dos norte-americanos, eles são os únicos enviados de Deus e o resto faz parte do eixo do mal.
Harvard, a universidade criadora de robôs humanos, famosa pela sua maestria em lavagem cerebral, é a mais cobiçada pelos nossos jovens estudantes. Depois de anos, o cara sai de lá arrotando, com toda sua arrogância e mente monetarista desumana, que é detentor de um diploma da Harvard.
Em pleno século XXI ainda não conseguimos superar o complexo de vira lata, como o cronista Nelson Rodrigues classificava o brasileiro. Uma prova disso é que até hoje um norte-americano quando chega ao Brasil é visto e tratado como um deus. A primeira coisa que ele faz é mijar no aeroporto.
Precisamos ter amor próprio, não importando se a pessoa é de direita ou de esquerda. Trata-se de uma questão de consciência política e de defender a nossa soberania. Isto sim, é ser patriota de verdade, não essa gente que faz o contrário e age por vingança e ódio pessoal.
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