julho 2025
D S T Q Q S S
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  

:: jul/2025

AS FEIRAS LITERÁRIAS E AS TECNOLÓGICAS

Venho observando que as feiras literárias estão murchando de forma lenta, enquanto as tecnológicas avançam a todo vapor. Não sou contra a tecnologia que é uma realidade mundial, mas não devemos esquecer do conhecimento geral no campo das ciências humanas.

De conformidade com a demanda do mercado, os nossos jovens estão sendo induzidos a ingressar em cursos técnicos para ganhar dinheiro e atender a área empresarial. Não é que isso esteja errado, mas não se pode criar uma massa de inocentes úteis que podem ser facilmente manipulados.

Perguntaria se essa nossa juventude de hoje estaria recebendo embasamento curricular suficiente para o saber da história, da geografia, da literatura, da filosofia, do português e de outras disciplinas correlatas relacionadas ao conhecimento geral?

Quando vejo essas feiras tecnológicas de robóticas, de construção de drones e outros máquinas sofisticadas, fico a imaginar em minha cabeça se esses nossos jovens têm algum conhecimento de história; sabem falar e escrever bem o nosso português; e possuem capacidade de debater numa roda de amigos outros assuntos fora da sua área específica?

As escolas, pelo menos do ensino médio, estão preocupadas no reforço escolar desses jovens tecnológicos para com o conhecimento geral, de maneira que eles lá na frente não sejam apenas simples apertadores de parafusos ou fazedores de chips? Não sejam vazios no setor de humanas? Será que nos tempos modernos não estamos apenas criando uma geração de robores?

Por falar nisso, veio-me à mente aquele filme mudo de Charles Chaplin onde o cineasta-ator passa o dia apertando parafusos numa fábrica e depois se sente uma pessoa inútil na sociedade. Em meu entender, a arte de Chaplin continua atual.

Em minha opinião, esses jovens de hoje da área tecnológica (nem todos) não leem outra coisa que não seja do seu ramo. Quase nada conhecem de literatura e escrevem o português todo errado como se vê nas redes sociais, estas verdadeiras assassinas da nossa língua materna. Numa mensagem-texto, seja pequena ou extensa, você encontra um monte de erros, como escrever próximo com “c”. O pior é que a maior parte dessa gente tem nível universitário.

Quanto as feiras literárias, onde se viaja pelo mundo das ideias, das criações e imaginações, estas estão ficando cada vez mais escassas porque não se encontram patrocinadores públicos e privados dispostos a investir na cultura como nas tecnológicas.

Nem tudo, porém está perdido. Ainda existem grupos de resistência que enfrentam dificuldades e organizam essas feiras com muita dedicação e abnegação, como a FLITA de Itapetinga, de 31 de julho a 2 de agosto, da qual estarei presente dando minha contribuição.

Precisamos reforçar a nossa cultura dentro da tecnologia para que no futuro não tenhamos um bando de alienados robores, cheios de parafusos por dentro, como já temos, mas sem nenhum senso crítico e consciência política, que nem sabe definir o que é ser cidadão e preservar sua memória.

 

 

O HOMEM DE UMA CERVEJA SÓ

(Chico Ribeiro Neto)

Fiquei indeciso sobre o título, que também poderia ser: “o homem de uma só cerveja” ou “o homem só, de uma cerveja.”

Mas, foi esse o caso que aconteceu. Antes da modernização da Ceasa do Rio Vermelho, que virou quase um shopping, eu ia muito aos bares de lá. Foi num sábado que o notei. Ele chegou com a feira dele e pediu uma cerveja. Tomava devagarzinho, pouco falava, e depois ia embora. O dono do bar me contou que ele fazia isso todo sábado, há anos, e era sempre uma só cerveja.

Eu tinha um amigo que me dizia: “Nunca me chame pra tomar só uma cerveja, isso não existe!” Quem gosta de cerveja sabe disso. Parece com aquela propaganda de um salgadinho: “Impossível comer um só!”

O que pensará o homem de uma só cerveja? Será que dá tempo de lembrar daquela ingrata? Dá pra sonhar um pouco pensando no São João do interior? Criar coragem pra ligar pra Rosa? Dá pra saber o passado do garçom? Escrever um poema ou uma crônica?

Tomei o primeiro copo de cerveja aos 14 anos, num bar em Itapuã. Na verdade, um tio colocou meio copo e quando provei achei uma coisa amarga, horrível, e tive que completar com guaraná Fratelli Vita.

Uma vez cheguei do jornal 1 hora da manhã e só tinha uma cerveja na geladeira. Botei a preciosa no congelador e fui tomar banho. Na volta, esquentei a janta e abri a cerveja. Que decepção: estava choca. É por isso que digo: tenha sempre duas cervejas na geladeira; uma poderá estar choca.

Pra terminar, transcrevo duas estrofes do cordel “Poesia e Cachaça”, de Carlinhos Cordel (recantodasletras.com.br):

“Contra falta de carinho

Cachaça, cerveja e vinho!

Você bebendo as três

Vai encontrar seu caminho”.

“Se brigar com a mulher

Beba pinga na colher

Mande a mulher ir embora

E vá morar no cabaré”.

Garçom, traga outra, por favor, bem gelada.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

AS IMAGENS ESQUELÉTICAS PALESTINAS

No início eram os tanques, as metralhadoras, os fuzis e as bombas destruindo por completo toda Faixa de Gaza, sob o pretexto de revidar, vingar e acabar de vez com os Hamas pelos assassinatos cometidos contra os judeus naquele outubro de 2023. A ordem era de deixar uma terra arrasada, como se passa um trator por cima de um casebre ocupado por famílias.

O cenário era de escombros e já nos aterrorizava pelo sangue derramado, inclusive dentro de hospitais. Os palestinos fugiam desesperados de um lugar para o outro como animais selvagens encurralados. Filhos perdidos e famílias separadas pelo fogo impiedoso de Israel, com a ajuda dos Estados Unidos. Uma covardia escancarada chamada de guerra onde só um lado mata e o outro foge.

Hoje entram as imagens esqueléticas chocantes e repugnantes, transmitidas pela televisão ou outros meios de comunicação, ao ponto de determinadas pessoas fecharem os olhos, baixarem a cabeça ou virarem seus rostos para não as ver, de tão cruel e desumana em pleno século XXI onde a humanidade se acha civilizada porque domina a tecnologia.

Como ver uma fome tão monstruosa como um verme corroendo corpos humanos enquanto se enche a barriga durante um almoço ou jantar? Mesmo que a pessoa seja bruta ou seca por dentro, não tenha sentimentos, as imagens batem como facadas mortíferas em sua mente.

Em outras ocasiões de desastres com corpos despedaçados, carbonizados ou estirados no asfalto, vítimas da violência urbana, o jornalismo atual, principalmente em suas páginas policiais (agora com outra denominação), procura por ética evitar o sensacionalismo e vetar suas publicações.

No entanto, as cenas de crianças e jovens só com a pele e o osso, de gente se matando por comida com pratos e panelas, tentando segurá-los em suas frágeis mãos, são necessárias para conscientização das nações mundiais visando que se dê um basta a essa matança pela fome.

Depois de anos, essas imagens de terror se repetem como nos campos de concentração da II Guerra Mundial, nos massacres étnicos da Bósnia de 1992, nas guerras tribais do Senegal, da Etiópia e outros países africanos. Tudo vem a comprovar que a espécie humana não se evoluiu em termos de compaixão.

Até quando vamos ter que conviver com essas imagens hediondas e criminosas? O pior é que elas estão se tornando comuns, e o mundo a tudo assisti praticamente em silêncio, a não ser uns blábláblás rosnados por alguns líderes de apenas lamentar e condenar as ações de carnificina.

Do alto da sua janela, cheio de pompas, o papa pede que se abra espaço para o grito de socorro. É mais um fato que vai manchar as páginas da nossa história, como tantos outros nas guerras milenares. Do meu lado, sinto-me envergonhado de pertencer a esta raça humana! A morte pela fome se tornou uma banalização.

Abraão veio de Ur, lá da Mesopotâmia, entre os rios Tigres e Eufrates, onde hoje é o Iraque, e rasgando suas sandálias com sua tribo, foi parar em Canaã.  Com a escrava Agar se deitou e teve o filho Ismael, um tipo de bastardo, depois renegado pelo pai por pressão da sua esposa Sara.

Passado certo tempo, Abraão teve Isaac que se casou com a bela Rebeca e esta gerou os gêmeos Esaú e Jacó. Este último, parente lá do Ismael, criou as doze tribos de Israel, hoje os judeus. O filho abandonado andou pelos desertos da Palestina e seus descendentes passaram a ser conhecidos como os ismaelitas, formando assim o povo árabe.

Há mais de três mil anos estes dois povos primos-irmãos vivem a lutar por territórios, com acusações mútuas de pertencimento. Mais sagazes e favorecidos pelo holocausto de Hitler, os judeus, com suas campanhas terroristas, terminaram por ganhar da Inglaterra e dos Estados Unidos o direito a um Estado, em 1948.

Desde então, os palestinos ou ismaelitas, como amaldiçoados pelo Deus de Abraão, são diariamente encurralados por Israel, cujo primeiro ministro Benjamim Netanyahu, o facínora “Bibi”, quer exterminá-los através de suas bombas e, por fim, pela fome para não mais desperdiçar seus bélicos armamentos.

SARAU COMEMORA SEUS 15 ANOS

Com um show musical encantador, pulsante e declamação de seus poemas autorais que atraíram a atenção de todos presentes, o músico, cantor e compositor Jânio Arapiranga, ao lado da viola do seu parceiro Baducha, abriu, com sua maestria, a festa de celebração dos 15 anos do Sarau A Estrada, no novo Espaço Cultural do mesmo nome.

Podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que foi uma noite cultural de comemoração memorável, com a participação de mais de 30 pessoas, entre elas muitos visitantes que aqui estiveram pela primeira vez, como do jornalista Fábio Sena, assessor da Câmara de Vereadores, sua esposa, Dernival e amigos.

Na ocasião, foi também inaugurado o novo Espaço Cultural A Estrada, agora localizado no Bairro Sobradinho, com maior estrutura e melhor atendimento aos frequentadores desse Sarau, o mais longevo de Vitória da Conquista, que conseguiu, mesmo diante de tantas dificuldades e obstáculos, sobreviver aos seus 15 anos de debates de temas os mais variados, troca de conhecimento e saber, contação de causos, cantorias e declamação de poemas autorais.

Apesar de ser ainda um debutante adolescente, foi uma longa estrada de vida e cultura, numa interação de conhecimento entre artistas, professores, jovens estudantes, intelectuais e outras pessoas interessadas de Conquista, numa mistura de ideologias políticas, mas cada um respeitando suas posições e pensamentos.

Podemos dizer que o Sarau, que começou lá no inverno de 2010, com o nome original de “Vinho Vinil” entre os amigos Jeremias Macário, Manno Di Souza e José Carlos D´Almeida, se transformou numa escola de aprendizagens, de encontros fraternais e numa instituição do saber que já tem seu próprio legado na história de Vitória da Conquista.

Por este Sarau, de muitas lutas e conquistas, como do troféu Glauber Rocha, indicação do Conselho Municipal de Cultura e com entrega solene pela Câmara Municipal de Vereadores, já passaram mais de 500 pessoas que aqui beberam da fonte do saber e também contribuíram com suas ideias.

É um grupo que há anos vem caminhando juntos e que chegou a fazer sua apresentação em público no Teatro Carlos Jheovah, hoje fechado por falta de interesse do poder executivo pela nossa cultura.

Durante este tempo, o Sarau produziu vários projetos culturais, como um CD de músicas e poemas autorais, DVDs e vídeos de textos poéticos durante a pandemia da Covid-19, realizados por Jeremias Macário, Vandilza Gonçalves e José Carlos D´Almeida.

Durante as celebrações de seus 15 anos, no último sábado (dia 26/07/2025), no novo Espaço Cultural, vários estradeiros da cultura deram seus depoimentos emocionantes e profundos sobre esta entidade histórica da nossa cidade, como Manno, Dal Farias, Eduardo Moraes, Viviane, Vandilza, Macário, Baducha e tantos outros. Houve ainda declamação de poemas e os cantores, músicos e compositores Baducha e Manno nos brindaram com suas canções da música popular brasileira. No repertório, não poderia deixar de citar o nosso pai do rock, Raul Seixas.

A festa varou a madrugada e foi bem acompanhada de bebidas, tira-gostos e outros pratos saborosos de comida porque ninguém é de ferro. Para fechar as homenagens, os presentes, como do maior frequentador professor Itamar Aguiar (todos se sintam representados) partiram o bolo dos 15 do Sarau, no novo espaço que já se tornou no maior templo sagrado da cultura.

Devido a sua importância, o Sarau hoje conta uma diretoria composta de Cleu Flor, Dal Farias, Baducha e Eduardo Moraes, todos atualmente empenhados e concluir o registro oficial dessa entidade cultural para que possamos fazer parcerias e intercâmbios com outros órgãos. Outro objetivo é realizar um documentário sobre esses 15 anos, um material que ficará marcado para a posteridade.

Quanto a mudança do novo espaço e sua arrumação, nossa gratidão e agradecimentos ao apoio de Humberto e Rose, Dal Farias, Cleu, Viviane, Daniel, Manno, Cleide e Nete. Foram esses que chegaram juntos.

 

UMA HOMENAGEM AO ESCRITOR

Em decorrência de tantos afazeres, deixei de registrar aqui a data do Dia do Escritor que aconteceu na semana passada. Nem tanto prestigiado como deveria nos tempos atuais, no meu entender, o escritor é um artista das palavras, ou como aquele mestre de pedreiro que coloca tijolo por tijolo para construir uma casa, um prédio ou uma ponte que liga uma margem a outra.

Pode ser comparado também a um pintor que trabalha com a tinta e seus pinceis, enquanto o escritor, na moda antiga usava a pena, a caneta ou a máquina datilográfica. Com o avanço da tecnologia, ele hoje usa o computador. Não importa o instrumento e sim a mente e a inspiração para criar seu texto, seu gênero e até viajar no seu realismo-fantástico. É também um mágico que encanta e nos faz sonhar.

Escritores brasileiros e regionais

Tenho observado que os nossos escritores, intelectuais e professores em geral costumam citar pensamentos e obras de autores estrangeiros e pouco sobre os nossos brasileiros, principalmente os nordestinos, muitos dos quais chamados de regionais, sem falar dos locais, no caso específico dos nossos conquistenses.

Não sei se posso considerar esse tipo de comportamento como esnobismo de conhecimento, ou incluir naquela máxima de Nelson Rodrigues, de que temos o “complexo de vira-lata”, isto é, de inferioridade, por não valorizar o que é nosso, a prata da casa. É um tal de norte-americano, inglês, russo, francês, português, espanhol, polonês, argentino, uruguaio, colombiano e tantos outros.

Até parece mais chique citar um “gringo” do que um brasileiro, um regional ou local. Nosso país é rico em grandes escritores, como Jorge Amado, Câmara Cascudo, José de Alencar, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis, Aloísio Azevedo, Fernando Sabino, Paulo Coelho, Rubem Braga, João Ubaldo Ribeiro, Euclides Neto, Raul Pompéia, Guimarães Rosa, Afrânio Peixoto, Gilberto Freire, Luiz Gama, Oswaldo de Andrade, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, sem contar os grandes poetas que temos.

Vamos ser mais simples e abrir mais discussões literárias em torno dos nossos escritores que falam da nossa cultura com seus personagens que se identificam com a gente, embora os estrangeiros tenham grande importância e não devemos deixar eles de lado porque o saber tem que ser universal.

Mesmo entre nós brasileiros, temos a mania de desprezar o talento da terra e prestigiar o de fora, muitas vezes até de nível duvidoso. Vemos isso nas feiras literárias regionais onde os organizadores procuram sempre convidar os considerados “famosos” de outra região ou estado, em detrimento daqueles onde o evento está se realizando.

Na avaliação dos programadores, a feira só tem audiência e visibilidade maior se chamar um nome que esteja mais badalado na mídia e na propaganda das editoras, mesmo que não tenha lá esse conteúdo todo. Esse tipo de coisa não ocorre somente na literatura, mas também em festas culturais que abrangem outras linguagens artísticas, como a música, as artes plásticas e visuais.

Entendo que antes de tudo, uma feira literária, seja aonde for, só alcança seus objetivos de criação quando coloca em primeiro lugar os escritores locais que já sofrem com a falta de apoio dos poderes públicos. Muitos são independentes ou publicam suas obras através de pequenas editoras e lutam para vender suas obras e se tornarem conhecidos do leitor.

Claro que o intercâmbio e a troca de ideias não devem deixar de existir, mas vamos priorizar o escritor local e assim despertar e estimular o surgimento de novos talentos. Aqui mesmo em Vitória da Conquista temos grandes escritores e poetas que não vou citar nomes para não cometer certas injustiças.

Agora mesmo vamos ter a Feira Literária de Conquista, a Fliconquista, que já é um grande passo e elogiável iniciativa para prestigiar e valorizar esta linguagem artística, por tantos anos esquecida do nosso público.

No entanto, deixo aqui minha sugestão de que passada esta feira, seja realizado um encontro de escritores conquistenses, um foro de discussões, para dizermos quem somos, como atuamos e, principalmente, falarmos das nossas dificuldades em escrever e lançar um livro.

Precisamos montar estratégias de cooperação, deixando de lado as vaidades das fogueiras, para nos tornarmos mais conhecidos incluindo todas as faixas etárias, desde o mais jovem estudante ao mais idoso. Precisamos fazer chegar nossas obras até às mãos de novos leitores, a começar pelas escolas, bibliotecas e associações.

 

 

 

 

 

A IMPONÊNCIA DAS CATEDRAIS

Desde o início do cristianismo, principalmente com o imperador romano Constantino, que tornou essa religião oficial, se unindo ao Estado como poder político, a Igreja Católica passou a construir as catedrais com toda sua grandiosidade e imponência. Cada bispado, com seus condados e territórios, com dinheiro de seus condes, duques, barões, reis e rainhas, à custa dos pobres miseráveis, instalou suas ricas e suntuosas igrejas para eles mesmos, prometendo o reino dos céus. São belas obras de arte, inclusive banhadas a ouro, que encantam os visitantes. Conheci muitas delas em minhas andanças, mas sempre preferi as capelas que acolhem gente mais simples, verdadeiras e honestas. A Igreja, com sua demagogia, e para atrair o lado sentimental dos fiéis, sempre impôs aquela cultura de que os templos são para agradar a Jesus, seu maior redentor. Acho isso tudo falso, mentiroso e hipócrita. Será que Cristo aprova essa exibição de riqueza. Acredito que abomina e condena. No Rio de Janeiro, as lentes da minha máquina, na subida do bondinho, lá do alto de Santa Tereza, flagraram a Catedral Metropolitana entre prédios luxuosos, como forma de poder e grandeza. Tenho certeza que a fé, o fervor do cristão está mais nas capelas e acho elas mais belas. O Papa Francisco, com toda sua simplicidade, não via com bons olhos essa empáfia e até quis desfazer de muitas riquezas da Igreja, mas sofreu a resistência dos conservadores, que falam a palavra do Senhor, mas praticam outra coisa e só querem viver em suas mordomias.

 

OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS PERDERAM SEU PODER DE LIDERANÇA

Após a II Guerra Mundial, que ceifou milhões de vidas humanas e deixou vários continentes arrasados, principalmente a Europa, foram criados três grandes organismos internacionais que ao longo dos anos perderam seus objetivos principais e seu poder de liderança, sem contar que os países signatários não mais cumprem suas ordens.

Isso ocorreu em razão de mudanças geopolíticas com o grande desequilíbrio entre nações ricas e pobres. Seus estatutos estão defasados e as grandes potências simplesmente não aceitam uma correlação de forças, nem a entrada de outras nações como membros permanentes. As decisões perderam seu valor, ou foram banalizadas.

Três delas, como a ONU (Organização das Nações Unidas), a Corte Internacional de Justiça ou Corte de Haia e a OMC (Organização Mundial do Comércio) perderam seus propósitos. Seus interlocutores só falam, lamentam, condenam e tudo termina em pizza ou samba, como se diz no Brasil.

Através da Carta das Nações Unidas, em 26 de junho de 1945, foi criada a ONU, em 24 de outubro de 1945, justamente no final da II Guerra, com objetivo de manter a paz, a segurança internacional, fomentar a amizade entre as nações, bem como defender a cooperação.

O que temos hoje é um mundo em guerra ditada por facínoras arbitrários que não são detidos pela ONUN, caso específico do primeiro ministro de Israel que está determinado a exterminar os palestinos através de um claro genocídio humano, com bombas e por meio da fome. O outro é o Putin, da Rússia, que invadiu a Ucrânia com fins de anexar ao seu território.

As sanções econômicas e políticas não têm demonstrado seus efeitos de parar com as matanças de civis.  Os Estados Unidos, por exemplo, com seu poder de veto, são os maiores aliados dos judeus que praticam um holocausto palestino. Os maiores líderes internacionais apenas ficam no blábláblá, à base do lamento.

Pela Carta das Nações Unidas, também foi criada, em junho de 1945, a Corte Internacional de Justiça, ou como é chamada, a Corte de Haia, que fica no Países Baixos. Suas ações tiveram início em abril de 1946. É o principal órgão da ONU com a função de resolver disputas entre os Estados. O Palácio da Paz, em Haia, conta com 15 juízes.

Muitos criminosos de guerra permanecem impunes cometendo suas atrocidades. Ainda nesta semana, a Corte de Haia fez um pronunciamento óbvio e ululante de que as mudanças climáticas, no caso o aquecimento global, estão ameaçando o planeta e sentenciou que os ´países cumpram com seu dever de preservar o meio ambiente.

O que vemos é cada um medindo forças para produzir cada vez mais, aumentar seus PIBs e jogar mais gases tóxicos na atmosfera. Assinam documentos em cúpulas climáticas garantindo reduzir a elevação da temperatura e fazem o contrário com a emissão de mais poluição na terra.

Outro organismo internacional que perdeu seu poder e sua liderança foi a OMC (Organização Mundial do Comércio), criada em 1995, que substituiu o antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT, instituído em 1947.

Entre seus objetivos estão o de promover o livre comércio (impera o protecionismo), estabelecer regras, solucionar controvérsias entre países membros e monitorar as políticas comerciais.

O exemplo mais escandaloso de desobediência à OMC partiu do maluco do Trump, dos Estados Unidos, com seus tarifaços comerciais contra outros países. Como a OMC é pouco ouvida, os atingidos pelo seu protecionismo descabido estão procurando entrar em acordos bilaterais.

O Brasil está sendo o mais afetado, não por questões técnicas e econômicas, mas exclusivamente política, com intuito de intervir em decisões do Supremo Tribunal Federal com relação ao julgamento do ex-presidente da República por tentativa de um golpe na democracia.

 

 

“RENUNCIAS A SATANÁS”?

O nome de satanás é mais enfatizado nas igrejas católicas e evangélicas do que o próprio Deus ou Jesus Cristo. Acho que o danado do capeta se sente privilegiado e honrado.

– Homem, vamos batizar logo esse menino antes que ele morra pagão.

Quando menino minha mãe me contava essa história porque nasci mirrado e doente numa roça no município de Mairí, hoje Monte Alegre.

Antigamente, isso serve para a velha geração, primeiro vinha o batistério e só depois o registro de nascimento. Assim aconteceu comigo.

Meu pai só foi me registrar com quatro ou cinco anos quando já estava em Piritiba e fiquei como filho dessa terra querida. Confio mais na data do batistério do que na da certidão de nascimento. Naquela época o papel do batismo tinha mais valor.

Hoje quando você nasce num hospital, geralmente a criança já sai com seu registro de nascimento e somente meses após faz-se o batismo como um ritual mais social que religioso.

Mas, o que tem a ver tudo isso com o “Renuncias a Satanás”? Para não ser enfadonho, vou tentar explicar de forma resumida. Antes de ingressar no seminário fui sacristão e acompanhei o pároco de Mundo Novo em centenas de batizados. Decorei como realizar um e ganhar uma boa grana, sem o satanás.

O tempo passou e há anos que não entrava numa igreja católica, se bem que batizei meus filhos nela. Não me lembrava mais desse “Renuncias a Satanás”. Pensei que isso já tivesse sido abolido.

Recentemente fui ao batizado da minha netinha, no Rio de Janeiro, e antes do dela assisti a outros três feitos por um velho frei da Ordem de Santo Antônio, mão de vaca que entendeu que os pais deveriam ter levado a vela. Naquele tempo, a vela entrava no pacote de pagamento.

Lá do altar, em voz alta, o que mais ouvi foi o “Renuncias a Satanás”, num rito das antigas. Fiquei um tanto chocado porque imaginei que a Igreja Católica teria se renovado com os tempos.

Pensei comigo mesmo: É necessário que as pessoas ali presentes, pais e padrinhos confessassem que renunciariam a satanás? Não poderia esse nome ser retirado da lista e só falar no Deus Todo Poderoso?

Vamos falar em coisas boas, como da natureza, das montanhas, florestas, rios, mares e louvar o criador do universo. Por que essa necessidade de colocar a presença do satanás na igreja?

Alguém já disse que o inferno é aqui. Nem sei se o satanás existe mesmo, e se ele existe não vejo motivo de dizer que o renuncio, nem se falar no nome dele num ato de batismo, num templo sagrado para a própria igreja. Não cabe colocá-lo presente.

Não consigo entender essa cultura milenar que começou pela Igreja Católica para aterrorizar os fiéis e vem se arrastando até hoje, principalmente entre os pastores evangélicos que usam o diabo ou o belzebu para arrancar dinheiro dos pobres fiéis, num processo de lavagem cerebral.

No outro dia fui visitar o Santuário da Penha e quando adentrei em seu recinto lá estava o padre ministrando um batizado. Antes que ele mandasse renunciar a satanás, cai fora porque não aguentava mais.

 

 

 

 

 

SAUDADE DE TUDO

(Chico Ribeiro Neto)

Tenho saudade de tudo

Da serra que vi na viagen

Da menina que me acenou

E do medo de visagem.

 

Tenho saudade de tudo

Da cor da sua saia

Do vestido mais bonito

E de tudo que não foi dito.

 

Do primeiro velocípede

Do primeiro Chevette.

Eu também andei de marinete.

 

Saudade de tudo

Daquela praia de noite

Daquele sol de manhã

E daquela sua irmã.

 

Tenho saudade de tudo

Do cavalo na serra

Do grilo de noite

Daquela imaginação

E de outro São João

 

Saudade do que não fui

Do sonho de criança

Do sorriso dos netos

Da cara de meu avô

E de tudo que voou.

 

Saudade do apagador de lampiões

Do homem que botava água

De quem não se entrega

E daquela fina mágoa.

 

Da vitamina de banana

Do arroz doce com canela

Aveia Quaker no mingau

De farinha com ovo

Manga rosa que lambuza

E da sua cara depois do gozo

 

Saudade do ingá na feira

Da tripa de porco frita

Do espetinho q acompanha uma carqueja

Dos chapéus de palha no chão

Daquela linda feirante

Aquele andu tá graúdo

Daquela mão nasce tudo

 

Aquela mulher na igreja

O bolo da cereja

Aquele impasse fenomenal

E a notícia do jornal

 

Saudade do verso pela metade

Da pequena cidade

Daquela meia verdade

E da mentira inteira

Coisas da idade

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

EU SÓ QUERIA ENTENDER COMO FUNCIONA ESSA JUSTIÇA BRASILEIRA!

Policiais e um guarda municipal de Manaus, se não me engano (isso pouco importa), estupraram na delegacia uma indígena por vários dias e os monstros, como falam nesses casos, apenas foram afastados das suas atividades.

Caso fossem civis que tivessem praticado este ato, imediatamente seriam presos e levados para uma penitenciária, com riscos de serem linchados e até mortos na cadeia por outros prisioneiros. Eu só queria entender, como no antigo programa humorístico do Planeta dos Macacos, como funciona essa justiça brasileira!

Ainda neste planeta chamado Brasil, os crimes de policiais militares ou outros fardados são julgados pela Justiça Militar, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica ou suas correspondentes ouvidorias. Me corrijam se estou errado.

Ora, qual a diferença que existe entre um fardado ou um civil estuprar uma mulher? O estupro consumado no ato sexual carnal forçado não é o mesmo, ou por ter sido uma indígena, não tem lá essa importância?

Será que o índio ou a índia, em pleno século XXI, ainda é considerado como um animal selvagem pagão, como diziam os jesuítas quando aqui se aportaram nesta terra Vera Cruz tupiniquim do pau Brasil? Até parece que ainda estamos em pleno 1500! Sinceramente, eu só queria entender!

Um estupro é um estupro e acabou, não importa se foi cometido por um soldado, um pobre, um intelectual, um político, um poderoso ou ricaço. No entanto, não é assim que funciona perante a justiça dos humanos, essa espécie em extinção.

A maior falácia e mentira é dizer que a lei é igual para todos, o mesmo quando se propala por aí que a voz do povo é a voz de Deus. Por ignorância, desconhecimento ou por instinto maquinal, as pessoas repetem as coisas como papagaios, sem refletir e pensar no que está dizendo. Temos preguiça e dificuldade em fazer o bem, mas somos dispostos, astutos, ardilosos e até inteligentes quando se tratar do mal.

Sem fugir do assunto sobre a questão da punibilidade entre a ação criminosa praticada por um policial e um civil comum, o estupro é apenas um exemplo. Nem é preciso comentar mais que o maior crime deste país é a impunidade. A lei não é igual para todos. Parem de falar essa besteira!

Me causa indignação e revolta quando assisto, lei ou ouço uma notícia dessa natureza onde a autoridade, simplesmente, diz que os policiais que estupraram a indígena foram afastados de suas funções. “Tudo será investigado, apurado e os culpados serão punidos”. É a mais bárbara fake news.

Sabemos muito bem como funciona a justiça neste país e nos conformamos tanto com isso que chegamos a considerar como normal e comum. “As coisas são assim”. São palavras que mais ouvimos das pessoas em geral. “Não podemos fazer nada”.

Como ocorre em relação a outros crimes de violência contra cidadãos de bem em geral, a “justiça” deles é retirar por pouco tempo esses fardados psicopatas de circulação e depois retornam às ruas. Quando, raramente, são expulsos da corporação, ficam respondendo os inquéritos em liberdade.

Qual moral que tem a nossa mídia de chamar um pobre civil de monstro quando ele estupra alguém do outro sexo? A nossa sociedade e as nossas instituições estão caindo de podres e fedem, pior que esgotos de fezes e outros excrementos venenosos a céu aberto.

 

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia