:: 12/jun/2025 . 23:29
AS CANÇÕES DE AMOR NA VOZ DE EVANDRO CORREIA
Quis o destino que o nosso cancioneiro Evandro Correia se fosse justamente no Dia dos Namorados porque em suas letras e canções poéticas falava do amor, de gente que sempre quis viver esse amor.
Este texto de minha autoria foi feito com ele ainda em vida numa conversa descontraída sobre sua infância e sua vida de cantar suas composições. Seus shows sempre tinham um público cativo e quando soltava sua voz, todos se emocionavam.
Quando aqui cheguei, em 1991, sua música “Menino da Vida” me fez conhecer o romântico Evandro Correia. É uma grande perda para nossa cultura, mas deixa um grande legado para a posteridades. Passou por aqui e deixou sua marca registrada. Viveu a vida como ela é. Segue o texto que fiz há tempos sobre sua pessoa e sua carreira:
O amor é o seu mastro de salvação, é um veleiro que navega em rios e mares, aportando em terras longínquas para conhecer gentes diferentes e levar a mensagem de conforto em forma de oração e louvação para os mais carentes.
Seu amor é reconciliação, é uma estrela de esperança. Assim cantam as letras na voz do compositor e poeta nordestino, baiano e conquistense Evandro Correia, que abriu seu baú da vida para falar um pouco da sua carreira, de cultura, das dificuldades para vencer, de artistas que admira, de seus projetos e da sua terra natal onde nasceu e a tem como mãe.
O menino que aprendeu a cantar, acompanhando as missas nas igrejas das Graças (rua Otávio Santos) e na São Miguel (bairro Alto Maron), em Vitória da Conquista, seguiu seu caminho musical e há 19 anos vive fazendo sua arte com dedicação e profissionalismo.
Na verdade, pode-se dizer que seu trabalho está completando 27 anos de duração já que em 1980 fez sua primeira aparição no Festival Estudantil da Bahia, no Ginásio Raul Ferraz de Vitória da Conquista, arrancando o primeiro lugar na classificação, com a música “Rosa Flor”.
A partir daí, Evandro Correia foi cantando suas melodias em festivais de Conquista e de outras cidades até cravar seu sucesso com a música “Menino da Vida”, cujo clip foi lançado pela TV Sudoeste logo que se instalou na região há 17 anos. Evandro não parou mais de cantar e suas obras são verdadeiras apologias ao amor e bálsamo para o espírito. Tímido, calmo e de voz pausada, o artista vai falando das dificuldades que existem para se produzir cultura neste país, mas acredita na vitória quando se esforça e se quer vencer.
Em 1990, com a carreira mais sedimentada, grava o CD “Menino da Vida”. Foi seu primeiro disco oficial/solo com produção de João Leme e Waltinho Amorim. Depois veio “Gema”, em 1993, com produção de Marcos Ferreira. Passou uma temporada no Rio de Janeiro nas noites cariocas; esteve em São Paulo e norte de Minas Gerais; e em 97 gravou “Divindade”. O artista continuou cantando em casas de shows pela Bahia a fora e fazendo suas composições nas horas vagas e de inspiração. Em 2001 lançou o disco “Garimpeiro do Sonho.”
Além das suas baladas misturadas a outros ritmos, Evandro sabe cativar o público também com o forró como nos dois discos que gravou em homenagem ao rei Luiz Gonzaga e ao Trio Nordestino (há três anos que ele faz São João). Ao todo são oito trabalhos elaborados com dedicação e amor, tema que ele mais aborda nas suas cantorias, acompanhadas de uma banda formada por violões, violino, violoncelo e bateria. Com seu jeito de ser simples e profundo, o artista lançou no início deste ano o seu primeiro DVD, o “Pulo do Gato”.
“Meu público gosta de uma mensagem mais direta, limpa, com um romantismo social, consciente e politizado” – foi assim que Evandro definiu o seu produto musical e a forma como as pessoas apreciam suas obras. Suas canções são urbanas e populares, com um forte tempero romântico, sem pieguices. “O povo gosta desse lado romântico que luta pelas conquistas e briga para prosseguir com as coisas”.
Sobre o axé music, Evandro acha bonito por falar da vida com simplicidade e emoção, embora tenha pouca letra, com exceção dos trabalhos de Gerônimo, Luis Caldas e Edil Pacheco que ele cita como expoentes. No entanto, lamenta que depois disso, nada mais de novo tenha acontecido na Bahia. Para Evandro, que admira Elomar e Luiz Gonzaga, a música da Bahia é mais samba e mais dançante.
Sobre as dificuldades, o compositor conquistense encara os problemas com otimismo e garra, apesar de reconhecer que viver de arte no mundo é uma tarefa quase impossível. “Quanto a mim, que não tenho gravadora e sou independente, sempre procurei buscar meu espaço, com coerência, dignidade, transparência e respeito aos outros”.
A cultura de um modo geral no Brasil, na sua visão, não tem sido prestigiada como deveria, mas não coloca toda culpa no governo. Para ele, o artista tem que se impor e produzir mais, independente do poder público. Lamenta que ainda existam artistas que são sanguessugas e se vendem facilmente.
Quanto a polêmica do produto musical ser comercial ou não, ele entende que toda obra visa o mercado, e que é difícil conseguir esse mercado porque a mídia direciona e empurra as pessoas para determinados movimentos. Do outro lado, as produtoras se ligam no glamur, no status, naquilo que dá ou não dá, “mas no final tudo é comercial”.
Para o músico, Conquista é sua terra natal que muito preza, pela personalidade e inteligência de seu povo a quem muito deve, “pois aqui sempre tive um espaço aberto e foi onde tudo começou”. Ele promete para 2008, novos projetos, novas canções em CD e DVD, com violão e orquestra de cordas. Como letrista e compositor, Evandro se identifica como dono do circo que faz de tudo, desde a comida para o leão, a varrer a área e tomar conta da bilheteria.
“PULO DO GATO”
O seu primeiro DVD “Pulo do Gato” é recheado de romantismo como toda sua obra, mas sem ser meloso. Nas suas definições de amor, está sempre lembrando do sertão como seu parceiro na vida. É um romantismo com conteúdo, como a primeira canção “Eu e Ela” que fala da procura e da doação. “O amor é jóia rara” – canta Evandro que sabe ser inconfundível na sua mensagem.
A canção “Gema”, muito conhecida, faz uma declaração de amor à sua gema da vida. Não tem vergonha de dizer que quer o teu amor. “É assim que sempre quis”. “Menino da Vida” é o diamante da sua carreira e uma melodia dedicada à natureza e à vida. Seus passos pisam em pedras, mas encontram também o sorriso e a vida para navegar – diz Evandro.
“Estrela Guia” fala do amor à primeira vez. Nela, ele é um amante da vida e do amor. Derrama um amor que encanta, e canta numa linguagem sem pieguices. Na canção “Roxo”, em violão e violino, compara a chegada das águas com as lágrimas que caem por amor. Em “Eternamente”, o artista, com seu jeito tímido, diz que sem você não há luz no infinito, não há mundo, não há lugar. Eternamente é como um viajante solitário que sem amor não tem histórias para contar.
Trago flores para você para que o amor não morra nas trevas – é a mensagem do artista na canção “Canôro”. Já “Marcéu”, “Marlua” e “Lis” são baladas dedicadas aos seus três filhos adorados. Sobre “Marlua”, canta ser ela o filme mais bonito que já viu. “É o livro mais profundo que já li”. Em “Lis” é verde tua visão; é chuva no sertão. Pede ao seu filho “Marcéu” para que lhe abrace forte quando chegar e dê sua mão.
Evandro canta ainda a “Lua de Agosto” que é puro amor e roga para seus olhos encontrar os olhos dela; “Sanha” diz que o amor é o pai, é a mãe; “O Tango da Onça” fala do amor selvagem que lambuza, rainha das grutas de dentes macios, me usa, abusa para comer mais tarde; “Na Mira”, o artista quer fugir da solidão e se revela ao afirmar que salve, salve o que vier do amor.
Completa seu trabalho com “Canção Serenata”, “Duas Bandas” que narra o sofrimento de quem foi embora, das carências, das recordações (quando olho para a lua vejo teu rosto); “Devoção”, que de forma clássica na letra e na música, faz uma louvação ao amor e compara a falta dele ao sertão sem chuva; “Saudade de Endoidecer”, que dói noite e dia sem te ver; “Branca” e “Cadê My Love” encerram o DVD.
DURMA COM UM BARULHO DESSE!
(Chico Ribeiro Neto)
Aniversário no salão de festa do prédio com banda ao vivo. Sapato alto no andar de cima. Som alto, axé, até 11 da noite. Tem velotrol no corredor. Latido de cachorro grande com fome. “Nunca more numa rua onde passa ônibus”, dizia uma amiga.
Insônia é coisa braba. Desde menino, sempre achei sem graça esse negócio de contar carneirinhos pro sono chegar. Se não dá certo dormir de um lado, vira pro outro. Se também não consegue dormir, fica de barriga pra cima e aí começa a pensar nos problemas. Vixe! Só ligando o rádio.
Sempre gostei de um rádio de cabeceira. Ouvir música tem hora que ajuda a dormir. Teve uma noite em que sonhei dançando um forró com Elba Ramalho. Acordei logo depois e ouvi o locutor dizer: “Acabamos de ouvir “Bate Coração”, com Elba Ramalho”.
Gosto de ouvir música clássica na Rádio Câmara FM (105.3), mas repetem muito a programação, principalmente valsas de Strauss. Ouço também a Educadora (107.5).
Se pegar no sono é difícil, acordar também não é fácil. Quando ligo o despertador do celular, sempre acordo antes dele tocar e o desligo, para não tomar susto quando ele tocar.
E o tal “só cinco minutos”? Quem nunca disse isso e depois dorme mais meia hora? Meu tio Antônio se gabava de nunca ter perdido o trem. E eu, com uns 8 anos, morria de vontade de perder o trem.
Esse tio tinha uma tática infalível pra acordar a gente: passava uma linha molhada no bigode e nos lábios. Não tem quem não acorde com aquela gastura.
O pai de um amigo me contou uma vez que, quando acorda, diz 10 vezes: “Eu sou forte, muito forte, cheio de saúde e alegria”. Nunca tive tamanha disposição.
Acho que era o escritor Paulo Mendes Campos que dizia à mulher e filhos: “Não me peçam decisão nem opinião sobre nada até duas horas depois que acordo”.
Veja o belo poema “Dormir”, de Armindo Trevisan, do livro “Adega Imaginária”:
“Não há instante
mais íntimo
do que aquele em que nos enrolamos
em nós mesmos.
Dormir “a pata suelta”,
num trem,
num bosque,
num banco de praça.
Quando dormimos,
nossa memória estende as asas,
e voamos com ela
para abraçar a lua.”
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
AINDA NOS TEMPOS DA “MARIA FUMAÇA”
LINHA SUCATEADA NO TRECHO ENTRE SENHOR DO BONFIM A JUAZEIRO
Em sequência à crônica-artigo, misturada com causos e informações sobre o tema “Nos Tempos da Maria Fumaça”, publicada em nosso blog www.aestrada.com.br (dia 11/06/2025), quero aqui reproduzir algumas palavras do nosso professor e memorialista Durval Menezes. Antes de mais nada, agradeço seus elogios e também por ter acrescentado subsídios valiosos a respeito do assunto.
O professor nos brindou com estas palavras de que a famosa “Maria Fumaça” tem passado e história. Quantos romances e poesias foram inspirados na história da “Maria Fumaça”. Muitas cidades tiveram sua marca registrada na “Maria Fumaça” enquanto outras não conseguiram essa oportunidade de ter sua “Maria Fumaça” cortando sua área geografia. Outras não tiveram “Maria Fumaça”, mas tiveram história, como é o caso de Vitória da Conquista.
Durval afirmou que Conquista não chegou a usufruir das famosas locomotivas, ou os trens de ferro como eram chamados. No entanto, teve sua “Maria Fumaça” numa espécie de trem fantasma. De acordo com ele, a história se repete em épocas diferentes. “A maneira de governar o povo, ou iludir, permanece ainda é a mesma. Mudam apenas as personagens, mas a malandragem política continua a mesma, prometer e não realizar”.
VAGÃO ABANDONADO COMO FERRO VELHO DE UMA ANTIGA “MARIA FUMAÇA”
Durval lembra que nessa história, Conquista foi agraciada com uma ferrovia saindo de Nazaré das Farinhas passando por Jequié a nossa cidade. A tal ferrovia, relata o professor, começou em Nazaré por iniciativa de empreendedores da região para desbravar nossas terras. A estrada chegou até Jequié, em 1927, com muita festa e teve sua continuidade, inclusive foram construídas várias obras de arte, como os pontilhões. Alguns quilômetros foram concluídos.
Ocorreu, porém, que o Governo de Getúlio Vargas, na década de 30, suspendeu todas as obras em construção, e Conquista ficou fora do sistema ferroviário. Os empresários, conforme revela o professor, queriam que a locomotiva chegasse aqui porque era importante para o município, só que isso não se concretizou.
Durval conta ainda que em 1898 foi constituído um decreto-lei concedendo o direito de construir a estrada Ilhéus- Conquista. Informa que a obra foi iniciada por outras regiões partindo de Ilhéus. Essa construção estava sob a responsabilidade do engenheiro Miguel Argolo. Chegou a ser executado 70 quilômetros de linha. Até hoje ainda estão lá os marcos.
Nesse trem fantasma foi projetada a estação sob a responsabilidade de um arquiteto belga. A área foi locada para ser erguida uma estação no início da avenida Siqueira Campos. “Ao construir uma ferrovia, a cidade seria privilegiada com a uma bela estação que chegou a ser projetada”.
VELHO PONTILHÃO EM IAÇU, NA BAHIA
Conforme informações do professor Durval, dezenas de pessoas foram contratadas para a obra, especialmente filhos de coronéis, cacauicultores e políticos, só que a ferrovia pouco avançou.
Acontece que os convocados para o trabalho, denuncia o professor, tiveram o privilégio de receber seus salários até suas aposentadorias. “Todos mamaram nas tetas dessa ferrovia. Os apadrinhados, que nunca prestaram seus serviços, ganharam até se aposentar. Esse é o Brasil do passado que ainda hoje vivemos, no mesmo aspecto de corrupção”.
Para finalizar seu comentário sobre a “Maria Fumaça, Durval nos informa que, em cima desse projeto, o artista Alan Kardec tem um projeto de adquirir uma máquina e dois vagões que serão expostos em frente do Museu de Kard. “E um sonho bonito do nosso artista, visando que Conquista tenha sua “Maria Fumaça”, pelo menos como peça de museu”.
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