:: 28/dez/2024 . 1:04
O VELHO, O NOVO E OS BANHOS
Longe de mim contestar as crenças e superstições feitas na passagem de um ano para o outro, com o sentido de descarrego das más energias, como as pessoas geralmente acreditam.
Na verdade, herdamos essas porções culturais desde as civilizações mais antigas dos nossos antepassados, não importando se vivemos na era evolutiva da tecnologia virtual e agora da inteligência artificial.
Na noite da passagem do bastão do velho para o novo – uma data como qualquer outra – brindamos e saudamos essa entrada como se estivemos atravessando um portal com significado de renovação. O relógio continua marcando seu tic-tac. O tempo não para, como diz a canção do poeta. Sem essa de velho e novo, de novo e velho. Tudo dá no mesmo, se tudo continua no mesmo lugar. O negócio é curtir e farrear que ninguém é de ferro, como faziam os sumérios, os celtas, os romanos e outras civilizações.
Esquecemos que o novo nos torna mais velho, como uma criança que acaba de dar a luz, ou nasce do ventre da barriga da mãe. Para saudar esse novo/velho, cada um tem sua cor preferida, na maioria o branco da paz, o vermelho da paixão, o verde da esperança, o amarelo ouro da prosperidade e assim segue cada uma tendo seu significado e sua crença.
– Só não pode é usar o preto e o roxo, meu camarada! Podem dar azar. Por que, então, não misturar e vestir todas as cores? Assim a pessoa seria uma felizarda por ter tudo junto de uma só vez durante todo ano. Não seria mais coerente ter um pedaço de cada cor?
Um amigo meu foi mais longe na ousadia e disse que a pessoa que veste branco no Ano Novo também está de calcinha ou cueca da mesma cor, para não contrariar a entidade.
– Que nada, cara, pode ser azul, vermelho, verde ou rosa para unir as bênçãos divinas.
– Pode também estar sem nada por debaixo. Depende das intenções individuais de cada um – respondeu o outro ao lado que estava ouvindo o “jogar conversa fora, ou o papo furado e fútil.
E essas coisas de lentilhas, de nozes, avelãs, passas, castanhas e outras comidas importadas? Cada um também tem o seu lugar e significado de prosperidade. Não pode é comer galinha, senão vai ficar o ano todo ciscando, ou caranguejo que anda para trás.
– Lá vem você novamente com essa! Talvez por isso é que o pobre só vive lascado. Prato de pobre é feijão, arroz, farinha e um pedaço de carne, isto quando acha. Não tem também essa de cor.
– Que nada, atualmente existem as cestas básicas e as doações, pelo menos no Natal e no final de ano. Depois volta para a rotina do feijão com arroz, ou uma bolacha num copo de água, que nem é potável.
Nessa época também são recomendados os banhos de folhas para descarrego, limpar o corpo e entrar Ano Novo com novas energias para ter boa saúde, ganhar dinheiro e ficar rico.
– Bobagem! Essa é uma invenção de pobre e malandragem de vendedor, para ganhar uns trocados a mais e tomar umas cachaças. Tem gente ruim, miserável, mão de vaca, avarento e egoísta que não tem banho que tire suas energias negativas.
– É bicho, pior que nessa você está certo. Tem gente que tem que tomar banho é de cansanção, caiçara, urtiga, espinhento ou mato brabo.
– Banho que nada! Corrupto, fanático extremista e malfeitor de colarinho branco precisam tomar é uma surra dessas ervas, e que sejam bem venenosas, para matar a carne e o espírito, sem deixar vestígio na terra.
– Olha, meu irmão, o papo está bom e foi bem cultural, coisa de intelectual, mas vamos mesmo é tomar umas e comer aquele leitão gorduroso, acompanhado de colesterol por todos os lados, que está nos esperando na mesa. Se demorarmos, não sobra nada! Vixe! Estamos com cores diferentes, ficando mais velhos e sem banho de folhas. Feliz Ano Novo!
A MORTE DE CÉSAR
ROMA ANTIGA E O ASSASSINATO MAIS FAMOSO DA HISTÓRIA.
Como ditador perpétuo por dez anos, Gaius Julius César (100 a 44 a.C.), foi um dos maiores conquistadores da história; contrariava e não gostava do Senado; detestava a velha nobreza romana; era admirado pelo povo para o qual lhe concedeu benefícios e depois se voltou contra ele; ostentava poder e riqueza; tinha vários inimigos; e aspirava ser rei. Ele se considerava um dignitas (dignidade, valor e honra). Tudo isso lhe custou a vida em 44 a.C.
Pela sua trajetória como um dos maiores conquistadores que expandiu o Império Romano por quase toda Europa, da Irlanda, Norte da África, Grécia, parte da Ásia e Oriente até as cercanias do Irã, foi considerado um semideus ou deus dos romanos. Foi o pivô de uma guerra civil (49 a.C.), mas o Senado lhe encheu de honrarias e bajulações, incitando-o a ser rei. César zombou dos Tribunos do Povo, provocando a ira da plebe; sabotou eleições; esnobou riquezas; e terminou estimulando o ódio de conspiradores que queriam sua morte.
Julius César era um populista e foi um dos primeiros na história a criar um tipo de política pública para os pobres quando reduziu os aluguéis, deu terras e criou um sistema de assentamento para os colonos. Disse que os romanos deveriam ser vistos como habitantes cidadãos e não súditos, mas, depois foi hostilizado por uma ardilosa trama política dos seus inimigos, quando tentaram lhe empurrar para o reinado.
Quem escreveu a respeito do seu assassinato e quem foi César, o terror das mulheres (quando chegava a Roma os maridos da elite que se cuidassem), foi o historiador, pesquisador e arqueólogo Barry Strauss, mestre na Universidade Cornell, especialista em história militar da antiguidade, escritor de vários livros e premiado pelo governo italiano.
Na abertura da obra, ele faz um elenco dos personagens dessa história, desde Otávio que depois se tornou Augustus, o primeiro imperador, ao general Marcus Antonius, Marcus Junius Brutus, traidor, aproveitador dos provincianos que colaborou na morte de César, Gaius Cassius Longinus, apoiador de Pompeu, derrotado pelo ditador na guerra civil, Decimus Junius Brutos, o terceiro e principal conspirador que lhe deu o golpe fatal, Sérvilia, amante de César e também conspiradora, Catão que preferiu se suicidar a render-se ao conquistador, Cleópatra, do Egito, amante de César e Marco Antônio, o grande tribuno e orador Cícero (Marcus Tulius Cícero), Dolabella, um autêntico vira-casaca e o grande general Pompeu.
Barry faz um relato das grandes conquistas e da vida de César, principalmente na Hispania e conta como ele provocou a segunda guerra civil, iniciada em 49 a.C. Ele desobedeceu às ordens do Senado e cruzou o rio Rubicão. Por lei ele não podia atravessar o outro lado do rio com seu exército gaulês. Passou por cima do Senado e Pompeu decretou guerra a César que terminou entrando vitorioso em Roma. César era uma lenda.
“Cada guerra refletia os insolúveis problemas que assolavam Roma, desde a miséria na Itália, a opressão nas províncias, a política cegamente egoísta e reacionária da velha nobreza ao encantamento por um ditador carismático que pretendia que as coisas fossem feitas à sua maneira” – descreveu o autor do livro. O poder em Roma não estava nas mãos do Senado ou do povo, mas do exército.
Persuasivo e violento, César queria mudar o mundo, arrebatado pelo seu amor a Roma e desejo de dominador. Seus exércitos, formados por centuriões (capitãs), tribunos militares (coronéis) e soldados, bem pagos e privilegiados com benesses, mataram e escravizaram milhões de pessoas, inclusive mulheres e crianças.
Dentre seus oficiais, César escolheu Decimus, Antônio e Otávio, o jovem de 18 anos, seu predileto para lhe substituir. Decimus provinha de uma família nobre que dizia descender do fundador da República, Lucius Junius Brutos. Alguns falavam que ele era filho ilegítimo de César. Conquistou a Batalha do Atlântico que dominou a Bretanha.
Pompeu e Catão eram seus maiores opositores. Este último jovem idealista era ridicularizado por achar que Roma fosse a República de Platão. A República, na verdade, não passava de uma Cloaca de Rômulo, o lendário fundador.
Com Decimus, seu fiel escudeiro, o ditador levou oito anos (58 a 50 a.C.) para conquistar a beligerante região a que os romanos chamavam de Gália dos Cabelos Longos. Era um território que incluía a França, Bélgica, Holanda e uma parte da Alemanha. No final, a Gália fez de César o homem mais rico de Roma.
Depois de mais de uma década a serviço do ditador, Decimus retornou para casa rico como um herói. Ele assumiu a função de pretor (oficial de alto escalão que administrava a justiça). César o promoveu como governador da Gália Italiana.
Brutus, Cassius e Decimus, este último o líder personagem-chave, foram os principais mentores do atentado contra César que cometeu erros de relações públicas e instaurou uma crise de confiança no império. César abusou da amizade de seus algozes porque não foram recompensados, quebrando uma regra romana.
Em 49 a.C., para algumas fontes, César parecia um segundo Aníbal, o comandante que cavalgou desde o Ocidente e invadiu a Itália. Em 44 a.C. o ditador se assemelhava a um segundo Alexandre, o Grande, pois pretendia travar uma guerra no Oriente, em Partia (Irã) e voltar triunfante como rei. César já era um ditador perpétuo, declarado um deus e desprezava o Senado e o povo. Foi acusado de protestar por não pretender ser rex. Os romanos temiam que ele substituísse a República por uma monarquia.
Vamos ficar por aqui sobre essa história de Julius César. No próximo capítulo vamos falar dos fatos e principais incidentes que culminaram na conspiração e no fatal assassinato de César que realizou grandes reformas em Roma, como a do calendário anual lunar de 354 dias, para o solar com 365 dias e um ano bissexto a cada quatro passados. Esse calendário teve início em primeiro de janeiro de 45 a.C.
Vamos descrever um pouco sobre o general Marcus Antonius, os quatro cavaleiros, os melhores homens que representavam os privilégios herdados, centrada na nobreza romana que deveria continuar a governar o império, bem como sobre os populistas, alinhados às mudanças, defensores dos pobres, os sem-terra, os estrangeiros, os nobres pressionados por dívidas e pelos homens de toda Itália. Naquela época, não havia partidos em Roma. César chegou a ser um populista, mas Brutus pensava o contrário.
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