A ATRAÇÃO FATAL POR TRAGÉDIAS
A impressão que temos é que todo ser humano carrega dentro de si doses de sadismo, não por maldade, mas talvez por curiosidade e o ímpeto de fazer aquela fofoca; aumentar os fatos; criar e inventar boatos; dar o seu pitaco; e uma de “peru” que morre de véspera. Todos têm suas versões diferentes. Sempre digo que todo mundo é jornalista e adora uma novidade que quebre a monotonia.
Tem aquele ditado popular de que a curiosidade é quem mata o gato. Não sei sua origem. Já observou quando ocorre um acidente no trânsito ou um crime qualquer, seja grave ou de menor proporção? Em questão de segundos ou minutos a rua ou avenida fica apinhada de curiosos e, agora, com o celular, cada um saca o seu.
Um exemplo mais recente foi o do “sequestrador” que tomou várias pessoas como reféns no centro de Vitória da Conquista. Não tardou muito e apareceu aquela multidão no Terminal Lauro de Freitas e deu plantão até o final. Um colega amigo meu afirmou que tinha até mata mosquitos e caça fantasmas.
Basta uma confusão qualquer, todo mundo larga seus afazeres e até esquece da correria do dia a dia, do vaivém tumultuado. Quando existia aquela função na empresa de “boy”, ou “contínuo”, para levar malotes, encomendas, retirar e depositar dinheiro nos bancos (hoje é tudo pelo aplicativo), o rapaz (era sempre homem) parava no trânsito para ver qualquer confusão e atrasava todo trabalho. Quando chegava tomava aquele esporro do patrão.
E quando acontece um acidente na estrada! Ah, meu amigo, a grande maioria das pessoas é dominada pelo instinto de parar o veículo no acostamento e ir ver a tragédia, mesmo que o socorro já esteja sendo prestado às vítimas. Cada um quer dar uma de repórter, e tome mentira. O que mais rola nos papos é fake news.
Por falar nisso, quando estava na ativa como jornalista, logo que chegava ao local da ocorrência, era só fazer uma pergunta e aparecia um monte de gente para contar sua história ou estória, sempre “cabeluda” e exagerada. Às vezes não tinha morrido ninguém, mas aparecia um dizendo que foram três ou cinco mortos. Na conversa, aparecia até gente carbonizada.
– Todo dia acontece um acidente de batida de carros e motos nessa esquina da rua. Você já deve ter ouvido muito isso em entrevistas na televisão e outras mídias. É tudo exagero. As pessoas adoram aumentar os fatos desde os primórdios da humanidade. “Quem conta um conto, aumenta dois pontos”.
Se existe um incêndio ou cai uma casa ou prédio, você ouve coisa do “arco da velha”. Como jornalista, além de ter a obrigação de ouvir no mínimo duas versões e ser parcial, seja, antes de tudo, um cético. Não confie no que falam, senão você pode se estrepar, ser processado ou demitido por publicar notícia infundada.
– Moço, foi um estrondo que mais parecia uma bomba atômica, o fim do mundo. As labaredas subiram mais de 50 metros de altura. O carro vinha numa velocidade de 180 quilômetros por hora e o motorista estava embriagado. A tempestade levou tudo pela frente. Soube até que carregou uma ponte lá na Lagoa da Baixa da Égua.
Para ser sincero, até o próprio jornalista tem a tendência de exagerar e “pentear” a matéria com outros ingredientes para atrair mais o leitor. Conheci vários companheiros assim que estavam mais para romancistas do que repórter. Até já dei as minhas pinceladas de leve. Não nego que já fiz uma “trapaça” para não “matar” a pauta da redação, mas essa eu não vou contar aqui. Ficou curioso?
Pois é, ninguém resiste parar diante de uma tragédia ou acontecimento e seguir em frente focado em seu problema que tinha urgência para ser resolvido. É uma tentação dos diabos. Todos temos um DNA de fofoqueiros e fofoqueiras natos.
Quando existe um crime fora do comum e o indivíduo é preso, não tarda a surgir aquela multidão em frente da delegacia. Será que todo mundo ali é desempregado e não tem nada a fazer? Circulando, circulando – grita de lá o policial com cara de mau e de revólver na mão para esvaziar a aglomeração de desocupados.











