:: 24/dez/2024 . 22:24
UM FATO INÉDITO QUE DEIXOU MUITAS PONTAS SOLTAS SEM ESCLARECIMENTOS
Não será a primeira nem a última vez. Aqui em Vitória da Conquista tem ocorrido fatos de violência que não são devidamente elucidados. As autoridades abafam e a mídia tropeça em sua função de investigar na utilização dos porquês, como, onde entre outras interjeições. Muitas perguntas do público ficam no ar e depois tudo cai no esquecimento.
Dessa vez estou me referindo ao “sequestro” de reféns na semana passada, na Galeria Panvicon, no centro da cidade, por um bandido que deixou vítimas feridas à beira da morte. Pelo que eu saiba, na história de Conquista, nunca existiu um caso desse inusitado, tão violento com tais características.
O acontecimento abalou a cidade por cerca de quatro horas e mobilizou um batalhão de policiais (militar e civil), corpo de bombeiros, o Samu e outros agentes. Um colega meu jornalista em tom de sacarmo disse que tinha até mata mosquitos e caçadores de fantasmas.
Um quarteirão foi fechado e a multidão curiosa, como sempre, se aglomerou no Terminal Lauro de Freitas. As pessoas parecem que trazem dentro de si um espírito de sadismos. Para ver a tragédia alheia, em questão de minutos largam seus afazeres do dia a dia e se juntam para dar seus pitacos, mentir e inventar informações. A impressão é que têm gosto de sangue na boca. Cada um faz questão de dar sua versão diante das câmaras.
Vamos, então, recapitular o que mais nos interessa. Que me desculpem, mas a mídia pecou na cobertura jornalística, deixando muitos “buracos” e engolindo “mosca”. Não ficou esclarecido bem de onde partiu o sujeito, se estava sendo perseguido ou não por algum ato criminoso. Pelo seu comportamento, tudo indica que ele já tinha um alvo certo e tudo foi premeditado, não importando se estava ou não drogado.
Depois do desfecho, o comandante do policiamento, coronel Paulo Guimarães deu uma entrevista (boletim de ocorrência) afirmando que o elemento deu um surto sob efeito de muita cocaína. No outro dia o delegado da Polícia Civil disse que ele estava consciente do que fez.
Ora, então imaginei ter sido crime de mando, vingança ou coisa parecida. O “meliante” (linguajar policial) atirou logo no dono da loja e atingiu outras funcionárias. É aí que digo que as pontas da história ficaram soltas, com informações nebulosas e contraditórias.
Após se entregar, o maluco “terrorista” foi recolhido à prisão. Por que a mídia, pelo menos, não tentou entrevistar o marginal, solicitando permissão do delegado? As vítimas que estão fora de perigo já poderiam ter sido ouvidas para revelar com mais precisão a ação do atirador. O processo corre em segredo de Estado? A sociedade não pode saber? Alguma interferência extra para que tudo fique como está?
São minhas perguntas como jornalista e acredito ser de muitos outros. Tudo isso me faz lembrar de fatos violentos acontecidos aqui que tomaram os mesmos rumos, isto é, ficaram inconclusivos, insolúveis e engavetados, como a morte do marinheiro numa cadeia local, os assassinatos do prefeito de Manoel Vitorino e do “jornalista” Alberto que difamava muita gente, (também fui sua vítima), o massacre de policiais numa periferia de Conquista, o caso do menino Maikon do qual ninguém mais fala, a matança dos ciganos, o crime brutal do pastor e tantos outros.
Essa ação criminal pelo seu modus operandi foi inédita na história local, mas Vitória da Conquista sempre teve uma fama de cidade violenta lá fora até meados dos anos 60. O arraial da Vila Imperial do século XIX era cheio de bandoleiros e salteadores desocupados, como bem descreveu o príncipe alemão Maximiliano em sua vista à região. Para aqui foi enviado um destacamento para conter os malfeitores. Os tropeiros temiam vir para essas bandas.
Na época do coronelismo, no início do século XX, aqui era cheio de pistoleiros e jagunços das larvas diamantinas, contratados pelos poderosos. Em 1919 houve até uma guerra entre os “pesduros” e “meletes”, cada um defendendo seu quinhão na política de mando. O assunto foi manchete nos jornais da capital, Rio de Janeiro e até São Paulo, como também o caso da invasão de soldados armados ao Hospital São Vicente para arrancar lá de dentro um preso internado e condenado.
Este episódio de 1968 foi noticiado pelo jornal “Última Hora” (SP) que, em matéria, comentou que Conquista era uma cidade onde matar virou uma rotina e havia herdado o esquema do cangaceiro Lampião. O “Jornal de Conquista” rebateu a manchete. Muitos contestaram e ficaram revoltados com o periódico paulista.
De volta aos coronéis, tivemos também a luta armada entre os coronéis Olímpio Carvalho e Ascendino Melo (Dino Correia). Foi uma tragédia sangrenta que ocorreu no distrito de Verruga (Itambé), no município de Conquista, em março de 1925.
Todos sabem da “Tragédia de Tamanduá”, em 1895, no povoado de Campo Formoso (Belo Campo) entre o coronel Domingos Ferraz de Araújo e dona Lourença de Oliveira Freire (mesma família), quando 22 pessoas foram sangradas barbaramente.
Tivemos ainda a tragédia da tarde de Natal, em 1931, na casa do sr. D´Artagnan Menezes, na rua Nova, onde foram mortos o mecânico Vicente Cavalcante e o cabo Jerônimo Alves Sampaio. Outros soldados ficaram feridos. Embriagado e depois de ter desacatado a polícia, o mecânico entrou na casa de Menezes e os soldados invadiram o recinto para arrancar o cara de lá. Entraram em luta corporal e deu no que deu.
É certo que toda essa fama de uma Conquista violenta das guerras entre famílias mudou com os tempos atuais. Hoje temos uma cidade mais civilizada e desenvolvida, mas, vez ou outra, ocorrem tragédias chocantes que necessitam ser melhor apuradas, como a mais recente do “sequestro” com reféns numa galeria do centro.
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