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:: 17/dez/2024 . 0:05

RECORTES DA LITERATURA NO SARAU A ESTRADA COLOCAM CONQUISTA EM FOCO

Poderia falar em pedaços, retalhos ou até mesmo reflexões, mas preferi recortes porque fica mais apropriado por se tratar de um estudo em formação sobre a história da literatura em Vitória da Conquista que requer uma pesquisa com maior profundidade para fechar seu ciclo. É como um trabalho artesanal feito de recortes de tecidos, elaborado por muitas mãos até se tornar numa bela colcha.

Olha que não coloquei a preposição de Conquista, se bem que temos uma literatura regional, mas não é o nosso caso. Para ir direto ao que nos interessa, esse tema tão importante foi debatido no último sábado à noite (dia 14/12/24) pelo Sarau a Estrada, no Espaço Cultural que leva o mesmo nome, com diversas pontuações dos participantes que se penduraram no gancho da pesquisa feita pelo filósofo e escritor Nélio Silzantov, que nos brindou com sua contribuição.

Tudo que ia dizer aqui sobre o que ocorreu no Sarau acerca do assunto e as manifestações culturais já foram expostos pelo nosso estradeiro Dall Farias no grupo. Para mim restaram poucas palavras e fui obrigado a mudar de gênero, não aquele em que vocês estão pensando, mesmo porque a idade não mais me permite e cairia no ridículo.

Estou me referindo ao gênero literário. A professora e poetisa Viviane Gama disse que dá belas risadas com minhas crônicas e fez rasgos de elogios. Será que alguém também rir, ou tem outro olhar crítico, como a formação histórica da literatura em Conquista?

Em meu entendimento ainda temos recortes e pontuo que a nossa literatura está associada ao surgimento dos jornais impressos no início do século XX, precisamente em 1911 com o periódico “A Conquista” feito por Bráulio de Assis Cordeiro Borges e José Desouza Dantas, literatos que instalaram a “Tipografia Minerva” trazida em lombo de animais de Caetité. Gostaria de assinalar aqui também o nome do poeta “Maneca Grosso”, do jornal “A Palavra”, que defendia os pesduros na guerra contra os meletes que tinham como defensor “O Conquistense”. Não podemos desassociar uma coisa da outra porque foram os jornais que revelaram os nossos escritores e escritoras, se bem que naquela época praticamente só tinham homens na literatura.

De volta ao nosso Sarau, o Nélio se fez presente, mesmo distante, através do seu texto no Zap e na voz de áudio, graças aos recursos da nova tecnologia da internet que costuma falhar no momento preciso da transmissão e nos faz passar aquele sufoco, mas no final deu certo e ouvimos suas considerações.

Entre mortos e feridos, todos se salvaram dando suas opiniões e chegando à conclusão que muito ainda tem que ser feito para a costura completa da colcha formativa da literatura em Conquista, como incluir os contemporâneos, essa leva de entusiastas da cultura.

Temos hoje um grande movimento em torno de novos lançamentos de livros, em sua maior parte obras poéticas, talvez inspiradas pelo clima e ambiente de uma “Suíça Baiana”. Sentimos ainda a carência de outros gêneros, como ensaios, pesquisas históricas, romances, contos e crônicas. Precisamos apurar mais a qualidade e o conteúdo dos textos, mas é um momento fervilhante que está acontecendo na cidade, sem o devido apoio do poder público e privado.

Vejam que estou sempre fazendo um ziguezague para agradecer o trabalho da comissão no sarau, ao colaborador Nélio com sua pesquisa, um estudo aberto como já disse o nosso Dall, a todos presentes (alô professor Itamar Aguiar, nosso maior frequentador) e àqueles que fizeram suas considerações. Não podemos deixar de destacar o ambiente de confraternização com um farto e suculento jantar do nosso chefe cuca Dall, com suporte de Cleu Flor, Nete, Vandilza e Cleide. Tivemos ainda a comemoração das aniversariantes Karine e Rosângela.

Não podemos deixar de ressaltar aqui as motivações dos compositores e músicos Baducha, Manno Di Souza e Jaime Cobra com suas cantorias de viola, os causos de Fozim de Anagé, as declamações poéticas autorais de Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves, Dall Farias, Viviane com sua homenagem intitulada “Estradeiros”, fazendo referência ao sarau que já completou 14 anos e foi ganhador do troféu Glauber Rocha, do convidado Carlos Maia com sua verve filosófica da vida e outros novos membros que estão se juntando ao nosso evento.

Pretendia apenas fazer uma crônica sobre o sarau, mas fico devendo para a próxima. Registro aqui o agradecimento de Nélio pela sua contribuição, apesar de reconhecer que é uma pesquisa em andamento. Torço para que nossa literatura seja ainda mais apreciada, valorizada e que possamos muito aprender sobre ela. Nélio afirmou vir acompanhando nosso trabalho de longe através das postagens nos blogs e nas redes sociais.

Sobre o áudio do Nélio, que a tecnologia picotou um pouco, quero aqui fazer algumas citações da sua fala a respeito da sua pesquisa. Ele próprio diz que não é conclusiva, mas ao longo do tempo vai lograr êxitos e deixar seu legado de conhecimento e saber. Na ocasião aproveitou para apontar alguns textos a respeito do tema, como “por uma cena literária local e sem fronteiras, a formação da literatura conquistense – primeiras questões, o centenário de uma obra esquecida – marcos históricos e desmemorias”.

Em suas reflexões ele indaga quem eram os escritores conquistenses e quais eram suas obras. Nos estudos por ele realizado ressaltou ter encontrado a Ala das Letras Conquistenses e das Academias de Letras. Indaga ainda qual foi a primeira obra publicada em Conquista. Isso implica responder em qual período histórico surgem esses escritores. Qual a visão estética e ideológica?

Para Nélio, falar sobre a caatinga e o sertão conquistense não é somente descrever sobre o coronelismo, a seca, a fome e a miséria. Existem outros elementos. Existe escritor que foge dessa visão estereotipada ou as únicas imagens são aquelas cantadas por Elomar e projetadas nos filmes de Glauber?

Quando falo de Formação da Literatura Conquistense, de acordo com Nélio, estou pensando nessa palavra para além do seu sentido comum. Não basta identificar os nomes dos escritores e períodos que eles surgem no campo literário, mas buscar compreender os modos como a literatura se constituiu, seus valores morais e intelectuais, o papel social e o impacto que ela tem na sociedade.

Ainda em seu comentário, pontua o centenário do livro de Ernesto Dantas, intitulado “Traços Crassos”, publicado em 1924. Ele também lembrou do livro “A luz desce da estrela”, de Laudionor Brasil, em 2001, em comemoração ao centenário do seu nascimento (1901).

Salve, salve a Ala das Letras, fundada em outubro de 1938, que se tornou mais conhecida, em 1945, no início da efervescência cultural de Conquista, o Grêmio Literário Dramático Conquistense, criado em 1911, juntamente com o primeiro jornal impresso, o Grêmio Ruy Barbosa, o Grêmio Dramático União, o Grêmio Castro Alves, de onde surgiu a revista literária “A Ribalta” (1919-49), a Academia Conquistense de Letras, no ano de 1980, a Breve História da Literatura Conquistense, de José Mozart Tanajura, o Foro Literário Sertão da Ressaca, o Coletivo de Escritores e o nosso Sarau a Estrada que estão entre os recortes da nossa literatura.





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