:: 11/dez/2024 . 22:38
NATAL EUROPEU NUM PAÍS TROPICAL
Assistimos este filme todos os anos dentro de um Natal europeu num país tropical, com papais noéis com seus trenós e renas no gelo, muitas luzes para encantar crianças e adultos como se estivéssemos nos países nórdicos em pleno solstício de inverno, lembrando as festas “pagãs” dos celtas para louvar a passagem de uma estação para outra. Não quero falar aqui de religião, nem do nascimento de Cristo na liturgia católica.
Além dos shoppings e praças, cada um quer exibir seus presépios com seus noéis de barbas brancas que tomam toda casa. É tempo de banquetes fartos, presentes e muitas bebidas. O consumismo explode e logo aparece o “Natal sem Fome” como se o pobre só se alimentasse naquele dia. As crianças ganham seus brinquedos e tudo faz crer que as desigualdades sociais desaparecem.
Tudo é muito lindo e atraente, mas dificilmente vemos um presépio tropical brasileiro ou rústico agreste no caso específico do nosso Nordeste. O negócio é imitar os europeus até nas comidas importadas. Aliás, fazemos questão de demonstrar que somos um país colônia, como se não tivéssemos adquirido a nossa própria cultura. Muitos me criticam pelo meu comentário “radicalista” e antropofágico, mas pouco me importo com isso.
Ah, ia me esquecendo dos shows musicais sertanejos, românticos de Roberto Carlos, de arrochas, sambas, sofrências e pagodes com muito colorido, belas coreografias de mulheres se rebolando no palco, mas uns lixos de letras em sua grande maioria. Por falar em arte, estamos na fase da banana amarrada na parede com uma fita adesiva.
A mídia e as propagandas nos injetam todas as horas e todos os dias a necessidade premente de consumir e consumir cada vez mais. Como porta-vozes comerciais dos lojistas, nos ensinam como renegociar as dívidas para ficarmos cada vez mais endividados. Deixamos até de pagar as nossas prioridades para ficarmos bonitos na fita. É o pobre tentando imitar o rico e se lascando na vida.
Nas doações das campanhas “solidárias”, cada um quer mostrar sua imagem na televisão para dizer que é um bonzinho caridoso que se compadece com a miséria do outro. É uma forma de se redimir de seus pecados durante o ano. Nas ruas é aquele alvoroço e aquela agonia de compras estressantes, mas todos amolecem o coração e fingem bondade humanista nos abraços e no “Feliz Natal”.
Não gosto desse Natal hipócrita e falso, não que eu não seja um pecador cheio de defeitos e ranzinza implicante, mas procuro ficar longe dessas congratulações. Melhor tomar aquele porre e ir dormir como se nada tivesse acontecido. Não sou europeu e nem ando com Papai Noel de trenó no gelo da Noruega, Dinamarca, Suécia ou Finlândia. Sou nordestino e não troco minha paisagem, costumes e hábitos por lugar nenhum, tampouco minha cultura.
Me desculpem, mas sinto aquele vazio dentro de mim diante de tanto fingimento e muita falta de autenticidade para com o nosso próprio Brasil tropical, tão rico em suas paisagens de belezas naturais. Por que não fazermos um Natal tipicamente brasileiro sem essas imitações fajutas e enganosas? Para onde foi a nossa valiosa cultura miscigenada? Parece que o gato comeu.
Só na noite de Natal as pessoas ficam sinceras, bondosas, tolerantes e as famílias mais “unidas” do que nunca. Qualquer discussão um pouco mais acalorada e aí aparece alguém para ralhar e dizer: “Gente, hoje é noite de Natal”! No outro dia tudo volta como antes onde sempre predomina o individualismo e o egoísmo. O ser humano não é mesmo confiável!
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