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:: 10/dez/2024 . 23:24

NOS TEMPOS DOS CARTÕES POSTAIS

– Quando chegar, não esquece de mandar um cartão postal. Os mais velhos se lembram bem dessa recomendação quando algum familiar, amigo, namorado ou namorada viajavam para uma cidade distante ou uma capital, no caso Salvador, que muitos chamavam de Bahia ou Baia. A viagem era sempre aguardada com muita ansiedade. Na véspera nem se conseguia dormir direito.

As viagens, em sua grande maioria, eram feitas de ônibus em estradas de cascalho e demoradas, umas com o propósito de passeio e outras até mesmo para ficar de vez na casa de um parente para arrumar um trabalho e melhorar de vida porque o interior pequeno era muito acanhado e não oferecia condições de crescimento. E as malas de couro cru! Cabia tudo dentro.

As partidas eram chorosas e calorosas como se a pessoa estivesse indo para o fim do mundo, para a China ou para o Japão. Os abraços e beijos eram demorados, e o motorista se danava a buzinar o carro para apressar os passageiros. Na saída eram aqueles adeuses!

Boas recordações daqueles tempos dos cartões postais onde a pessoa ia numa lojinha de lembranças e comprava aquelas belas imagens fotográficas e as remetia pelos Correios. Demorava um pouco de chegar ao remetente, mas era batata! Não falhava e nem desviava.

– Para minha amada, com muitas saudades do meu amor. Este é um lugar que nos une, mesmo tão distantes. Você está sempre em meu coração.

– Para meu pai e minha mãe querida, com muito carinho. Fiz uma boa viagem e estou adorando esta cidade. Em breve envio mais notícias.

– Ao meu amigo, ou amiga, um forte abraço. Aqui tudo é bonito e estou aproveitando esses dias para conhecer vários lugares encantadores. Quando a viagem era rápida, a pessoa trazia na bagagem um monte de cartões postais para comprovar sua visita.

Esses e outros dizeres, de acordo com cada intimidade que um tinha para com o outro, eram escritos nos versos dos cartões postais com distintas caligrafias, não esses garranchos de hoje que quase ninguém entende.

Naquele tempo, muita gente fazia coleção de cartões postais. Eu mesmo conheci uma pessoa que era fissurada nessa mania e tinha cartões de várias partes do mundo, sem contar do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e de outras capitais do país. Quantas saudades!

Por que hoje você diz que tal lugar é um cartão postal da cidade? Em Vitória da Conquista, por exemplo, dizem que o Cristo de Mário Cravo ou o Poço Escuro? Em Salvador, o cartão postal pode ser o Elevador Lacerda, o Farol da Barra ou a Ponta de Humaitá, na Ribeira. No Rio de Janeiro é o Cristo Redentor ou o Bondinho do Corcovado. Em Paris é a Torre Eiffel.

Atualmente não existem mais cartas e nem recantos de cartões postais. Hoje é tudo instantâneo pelo celular através de uma foto ou selfies, com uma legenda troncha cheia de erros de português. Na maior parte, as mensagens são feitas por áudio e, praticamente, sem ligações telefônicas.

Será que alguém aí ainda guarda, lá no fundo do baú, algum cartão postal ou carta de antigamente? Muitos foram jogados fora como velharia imprestável para dar lugar ao moderno. Dia desse encontrei um cartão postal em minha pasta. Só não vou revelar a mensagem.

NO ESTILO “VIVER SERTANEJO”

A Rede Globo de televisão está aí com um programa cujo título é “Viver Sertanejo” que está mais para viver fazendeiros cercados de suas boiadas e cavalos de raça no pasto, no pantanal ou à beira de rios, para mostrar a vida dos famosos cantores desse estilo (muitos estão mais para o arrocha e a sofrência) em suas casas luxuosas de piscinas, estúdios, salões de jogos, belas suítes, pias douradas e muitos empregados e capatazes.

É uma maravilha um “viver sertanejo” assim de ricos músicos cantores cheios da grana no desfrute de seus confortos. Quero ver é apresentar um viver sertanejo autêntico, de preferência típico nordestino de homens e mulheres pobres vivendo na labuta do dia a dia no campo, plantando e cuidando de suas lavouras no rigor do sol, morando em suas taperas e rezando para que não bata a seca e destrua tudo.

Nesse caso, não seria um estilo opcional sertanejo de deleites desses artistas de maga-shows, mas um modo de vida de sobrevivência mesmo, dependendo da agricultura de subsistência, com um pequeno rebanho (muitos nem têm um gadinho para tirar o leite matinal para seus filhos), com seus costumes e hábitos de uma gente sofrida pouco assistida pelos governantes e políticos.

O sertanejo de verdade, ou o catingueiro, é aquele que se levanta ao raiar do dia e vai para a roça com suas ferramentas para lavrar a terra até o pôr do sol, isto quando caem as trovoadas e molha o chão. Nos sábados vai à feira da sua cidade para vender seus produtos.

Quando chega a estiagem e a cisterna fica seca (quando se tem uma), o jeito é botar a lata d´água na cabeça ou através do jumento, caminhando quilômetros de distância atrás de uma fonte, poço, um tanque ou um açude que ainda conserva um pouco do precioso líquido da vida.

Uma coisa é o “viver sertanejo” dos grã-finos Leonardo, Daniel, Jorge e Mateus, Chitãozinho e Xororó, Maiara e Maraísa, José de Camargo, Ana Castela e tantos outros que nem vivem da terra e vão ali vez ou outra para fazer suas festas com os amigos ao redor das fogueiras nas varandas suntuosas com suas cantorias.

Outra é o viver do nosso sertanejo, chamado até de tabaréu residindo em sua casa simples com seu chapéu de couro surrado para se proteger do sol escaldante. Ele faz suas preces ao se levantar e ao se deitar para rogar ao seu Deus ou ao seu santo que lhe dê coragem para enfrentar as intempéries do tempo e poder criar seus filhos.

Por que não fazer um programa, um documentário ou uma série de reportagens sobre esse viver sertanejo roceiro, como se comporta, o que faz durante o dia e a noite, suas atividades e as dificuldades para vencer os obstáculos? Falo isso porque eu mesmo fui um sertanejo desse e vivi essa experiência.

É muito prazeroso esse “viver sertanejo” das celebridades, não querendo com isso dizer que o nosso de verdade seja infeliz e amargurado.  Mesmo diante dos problemas, ele é solidário entre seus compadres da comunidade; está sempre com um sorriso no rosto; recebe bem as pessoas; e sabe como driblar as angústias e as tristezas.

 





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