A Câmara Municipal de Vitória da Conquista foi ontem (dia 28/11) “invadida” durante a sessão dos vereadores pelos motoristas vanzeiros do transporte alternativo que foram lá pedir apoio, no sentido de que a prefeitura pare de perseguí-los, alegando que são trabalhadores pais de famílias e não marginais e bandidos como estão sendo tratados pela fiscalização.

O auditório da plenária estava superlotado, e tudo corria bem com as aprovações dos projetos-de-lei, indicações e congratulações, mas o clima esquentou quando foi anunciada uma moção de aplausos para os médicos cubanos que estão deixando o país por ordem do governo da ilha caribenha, depois que o presidente eleito Bolsonaro criticou o ”Mais Médicos” e expressou sua intenção de exigir a revalidação do diploma dos profissionais.

ESCRAVOS

Como sempre, o parlamentar David Salomão protestou dizendo que a moção de aplausos fosse acompanhada pela aprovação de outra moção de repúdio ao governo cubano, considerando-o de ditador, além de ter tratado seus médicos, segundo sua visão, como escravos, tendo em vista que boa parte dos salários ficava para o regime cubano.

Na cabeça da direita, só existe ditadura da esquerda. Fala-se tanto que os médicos que vieram trabalhar no Brasil estavam sendo escravos, mas ninguém perguntou para eles se era isso mesmo como estavam se sentindo. A vereadora Viviane, do PT, rebateu a fala do colega e apontou que muitos países exportam armas, caso dos Estados Unidos, enquanto Cuba exporta médicos, e não concordou com a moção de repúdio.

Viviane destacou ainda que o trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo é um escravo, mas não é denunciado como tal. A companheira do PC do B, Nildma Ribeiro, foi na mesma linha e afirmou que o serviço dos médicos cubanos é de qualidade e que eles merecem toda solidariedade e respeito, se colocando contra a moção de repúdio.

O líder do governo municipal, Luis Carlos Dudé, também assinalou que a medicina exercida em Cuba é uma referência no mundo, ressaltando que eles se sacrificaram para salvar vidas aqui, mesmo deixando suas famílias  em seu país, e apoiou a moção de aplausos. O vereador do PT, Coriolano Moraes foi outro que discordou do pronunciamento de Salomão e ainda lembrou que depois da passagem do furacão Katrina pelos  Estados Unidos, os médicos cubanos foram para lá socorrer as vítimas do desastre. ”Discordo da moção de repúdio. A população de mais de três mil municípios do país foi a mais beneficiada”. Lúcia Rocha e Álvaro Pithon também apoiaram a moção de aplausos. Só dois parlamentares sugeriram aprovar o repúdio ao governo de Cuba.

O que recebeu o repúdio de todos, não somente dos parlamentares, foi o preço abusivo dos combustíveis que está sendo cobrado pelas bombas de Vitória da Conquista, numa forma explícita de cartel. Os vereadores fizeram duras críticas ao Ministério Público que não tem tomado uma providência para coibir esta prática. O assunto ficou para ser discutido pela Comissão de Defesa do Consumid0r da Câmara.

TRANSPORTE ALTERNATIVO

Logo após estas questões, o representante dos motoristas de Vans do chamado transporte alternativo que rodam na cidade, Antônio Nonato usou a Tribuna Livre e foi muito aplaudido pelos companheiros quando criticou a perseguição que eles vêm sofrendo por parte da Prefeitura Municipal.

Nonato disse que os vanzeiros “carregam esta cidade nas costas”, tendo em vista que apenas uma empresa de ônibus não atende a demanda. Ele enfatizou que não existem fiscais para proibir as irregularidades diversas no trânsito, nem policiais suficientes para combater a violência na cidade, mas existem agentes suficientes para perseguir a categoria trabalhadora.

Em seu pronunciamento, rogou à Câmara Municipal que olhe a classe com carinho, e que seja logo regulamentada. Os vanzeiros não são baderneiros, nem marginais, como estão sendo tratados pelo poder público – afirmou Nonato. Muitos tratam o transporte coletivo como clandestino e que acarreta um grande prejuízo para a empresa de ônibus que perde passageiros e reduz os ganhos.

Em seu cálculo, durante entrevista, não existem mais que 150 vans circulando em Vitória da Conquista, e contestou a pergunta de que veículos pequenos de particulares também fazem o serviço de transporte. De acordo com ele, se isso ocorre, cabem a polícia e aos agentes proibir essa atuação.  O mesmo disse quanto a possível infiltração de traficantes e bandidos no transporte alternativo, usando veículos para transportar e comercializar drogas, e até cobrar pedágios.